Harmonizar o Planeta

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

A evolução científico-tecnológica em, praticamente, todos os domínios, é já um facto incontestável: seja para o bem; ou para o mal, contudo, desejavelmente, como toda a gente prefere, que seja para melhorar as condições de vida das pessoas, onde entrem, igualmente a: saúde, trabalho, distribuição equitativa das riquezas naturais, justiça, entre outros bens, tão necessários a uma humanidade que, em muitas partes do mundo, continua a passar mal, inclusive: doenças, atentados, miséria, fome e morte.

Enquanto não se realizar um reordenamento da redistribuição das riquezas, obviamente, segundo o mérito, as necessidades e as disponibilidades de cada pessoa, para participar no processo produtivo, porque quanto às riquezas naturais é sabido que: «Os bens da terra têm um destino universal, devendo, portanto, ser equitativamente repartidos de modo a que não se verifiquem situações de desequilíbrio e seja permitido a todos prover a si próprios, vivendo com dignidade.» (PAPA FRANCISCO, 2016:11).

A conjugação da defesa de interesses legítimos, justos e legais, com a superação das necessidades, em vários setores da criação universal: animal, vegetal e mineral, classicamente assim ordenada, é uma condição essencial para que se atinja uma harmonia e equilíbrio mínimos.

Se Mulheres e Homens quiserem, é possível reconstruir um mundo e, consequentemente, uma vida melhor para todos os habitantes da Terra, desta Casa Ecuménica, quantas vezes maltratada, em circunstâncias e com objetivos inaceitáveis, face aos valores que devem cimentar uma civilização milenar, no entrelaçamento de culturas: tão diferentes; quanto ricas em conteúdos e que tão bem se complementam.

Hoje, aliás, como sempre, há a obrigação indeclinável de tudo se fazer para se conseguir uma vida melhor, em todos os reinos conhecidos na Terra: animal, vegetal e mineral, porque em benefício da humanidade está-se a desenvolver a ciência e a tecnologia, a um ritmo jamais conseguido.

Em boa verdade: «A ciência e a tecnologia põem nas nossas mãos um poder sem precedentes: é nosso dever, em relação à humanidade inteira e, em particular, em relação aos mais pobres e às gerações futuras, utilizá-lo para o bem comum. Será que a nossa geração conseguirá “ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves responsabilidades”?» (Enc. Laudato Si’, 165). Mesmo entre as numerosas contradições do nosso tempo, temos razões suficientes para alimentar a esperança de conseguir fazê-lo. E devemos deixar-nos guiar por essa esperança» (Ibid.:38).

Quem pensar que pode viver à margem, ou, pior do que isso, maltratando o meio ambiente, certamente que está a colaborar com aquelas pessoas, organizações e entidades que, essas sim, denotam a estratégia do “quanto pior, melhor”. Há espaço para todos os seres vivos e/ou inanimados, todos eles têm a sua função neste planeta e, quaisquer deles, são necessários para o equilíbrio e o bem comum.

É cada vez mais importante, fundamental e urgente, que os diversos detentores dos domínios: científico, tecnológico, político, religioso, financeiro, econômico, empresarial e cultural, entre outros, deem as mãos, no sentido de congregarem sinergias, ao nível dos: conhecimentos, experiências e projetos, orientados para a dignificação desta casa terrestre, que é de todos.

A globalização que se vem verificando, em um número cada vez maior de atividades e setores de intervenção, também deve envolver-se na proteção da criação, especialmente do ambiente, porque: «É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.» (Ibid.:44).

A influência decisiva da pessoa humana, em todo o ecossistema, é um dado adquirido, apesar de ainda não ser possível controlar todas as variáveis que interferem no planeta que habitamos, nomeadamente: aquelas que, conjugadamente entre si, e/ou isoladamente, provocam catástrofes de consequências imprevisíveis e, quantas vezes, irreparáveis, como as que se verificam com a ocorrência de sismos, vulcões, tsunamis, incêndios, enchentes e tempestades.

É verdade que a pessoa decide em muitas, cada vez em mais situações, consegue prever, a nível de várias atividades, o que poderá acontecer perante um conjunto de elementos conhecidos e, neste contexto, ao nível da saúde, da química, da biogenética, como também, na grande maioria dos domínios da ciência e da tecnologia, porque a evolução destas áreas do conhecimento não conhece limites: seja para o bem; seja para o mal.

Há, todavia, uma dimensão que necessita de constante melhoria, que se relaciona com as relações humanas, e o seu enquadramento nas instituições que, em todos os setores de atividade são necessárias, na medida em que: «Dentro de cada um dos níveis sociais e entre eles, desenvolvem-se as instituições que regulam as relações humanas. Tudo o que as danifica comporta efeitos nocivos, como a perda de liberdade, a injustiça e a violência. Vários países são governados por um sistema institucional precário, à custa do sofrimento do povo e para benefício daqueles que lucram com este estado de coisas.» (Ibid.:45).

Em boa parte, muitos dos conflitos que continuam a atormentar a humanidade, ficam a dever-se a interesses de vária ordem, quase sempre no sentido do exercício de um qualquer poder, de uma estratégia pessoal, de grupo, nacional ou mundial, para daí se retirarem vantagens, nem sempre legítimas, justas e legais, ao ponto de, em certas circunstâncias, “valer tudo, ou quase tudo”.

Neste primeiro quarto do século XXI, há quem recorra aos mais hediondos negócios, e/ou em tristes e deploráveis entretenimentos, desde a: pedofilia, pornografia, prostituição, orgias, tráfico de seres e órgãos humanos, droga, armas, entre outras infelizes e aberrantes intervenções, utilizando os mais sofisticados meios de instrumentalização e comunicação.

É sabido que: «O consumo de drogas nas sociedades opulentas provoca uma constante ou crescente procura do produto que provém de regiões empobrecidas, onde se corrompem comportamentos, se destroem vidas e se acaba por degradar o meio ambiente.» (Ibid.:46).

Os males que a sociedade atual enfrenta, combatem-se, entre outros, com procedimentos axiológicos, isto é, com os valores da solidariedade, da amizade, da lealdade, da justiça, da gratidão, da participação e da humildade. Ninguém deve ser excluído desta “Casa-Comum”, porque em boa verdade: «Trata-se, obviamente, de um grande desafio cultural, espiritual e educativo. Solidariedade, justiça e participação, para o respeito da nossa dignidade e da criação.» (Ibid.:49).

 

Bibliografia.

PAPA FRANCISCO (2016). Proteger a Criação. Reflexões sobre o Estado do Mundo. 1ª Edição. Tradução, Libreria Editrice Vaticana (texto) e Maria do Rosário de Castro Pernas (Introdução e Cronologia), Amadora-Portugal:20/20 Nascente Editora.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2020

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG

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