G20: Irá mesmo ser verdade?

Há uma meia dúzia de dias, no âmbito da mais recente reunião do G 20, eis que fiquei completamente atónito, e mesmo agora ainda estranhado e incrédulo, perante certa promessa de Nicolas Sarkozy: não estamos dispostos a tolerar isto, pelo que, países com paraísos fiscais serão banidos da Comunidade Internacional. E completava: irá ser publicada uma lista com os nomes desses países.
Tenho aqui que confessar que fiquei perplexo, porque o sistema capitalista neoliberal, marcado por uma ausência profunda de valores de ordem moral e ética, não poderá aceitar um tal caminho futuro, a não ser que a classe política sobreponha o interesse geral aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros. Mas como ir por aí, se ainda há pouco se pôde ficar a saber que Muammar Kadhafi até havia financiado diversos políticos europeus, por via das já célebres malinhas de mão (repletas de dinheiro, claro)?… Para já, é estranho.
Simplesmente, logo num outro noticiário a minha perplexidade começou a baixar, porque Sarkozy, numa outra passagem da sua intervenção, disse isto: os países que acolherem paraísos fiscais que encubram informação financeira, serão banidos. Uma frase que, se vista com alguma atenção, é já distinta da anterior.
De fato, a primeira frase refere os países com paraísos fiscais, mas logo a segunda aponta os países com paraísos fiscais que encubram informação financeira. Destas duas frases, tendo presente a realidade imoral do tempo que passa, eu propendo para a segunda, que contempla apenas os países que encubram informação financeira.
Trata-se, pois, de uma treta, porque a Grécia não era um paraíso fical e, contudo, encobriu camiões de informação financeira. O problema dos paraísos fiscais não está em encobrirem informação financeira, mas no papel que desempenham, onde o tal encobrimento tem um lugar de honra. É sempre assim, ou seja, os paraísos fiscais vão continuar a encobrir informação financeira, mas criando a estrutura adequada para assim poderem proceder com segurança durante muito tempo.
Não acredito, pois, que a pergunta que constitui o título do presente texto possa vir a ter uma resposta positiva. O grande problema do tempo que passa, com o desnorte quase global que se está a ver, reside na perda completa de moral e de ética na condução da vida pública, seja ao nível dos Estados, seja no das grandes regiões monetárias, seja no da própria Comunidade Internacional. O bem comum deixou de ter interesse, com os políticos a dirigirem comunidades onde o efémero é o que conta. Ou seja: a vida do ser humano deixou de ser a prioridade da governação.
Por tudo isto, é minha convicção que estas palavras recentes de Nicolas Sarkozy tiveram dois objectivos essenciais: tentar apresentar um ar moralizador perante a crise mundial que se está a viver, e parar um possível trunfo dos seus adversários na próxima eleição presidencial francesa. Lá diz o velho ditado popular: palavras, leva-as o vento.

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: