Ensino e Formação para o Progresso

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Começo por pedir à/ao leitora/r que leia até ao final, porque a situação difícil que o mundo atravessa, particularmente Portugal, não se resolve a partir de medidas brutais e iníquas de austeridade, de cortes nos rendimentos dos mais fracos. Em qualquer parte do mundo, as dificuldades económicas, financeiras e empresariais vencem-se por investimentos substanciais e permanentes na Saúde, Educação-Formação, Trabalho e Assistência Social. Estes são os pilares para o desenvolvimento sustentável.

Coloque-se, num duplo centro, dois elementos insubstituíveis e privilegiados: professor-formador; aluno/formando, quaisquer que sejam as situações de um e de outro. Mais complexamente, admitam-se a inversão e o poder dos intervenientes: hoje, professor; amanhã, aluno; depois, formador, mais tarde, formando. Os ciclos e alternâncias devem suceder-se ao longo da vida, deste novo cidadão do mundo, o qual nunca estará numa posição de dominância definitiva.

É fundamental ter-se presente que: «O desenvolvimento profissional envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagem e as actividades conscientemente planificadas, realizadas para o benefício directo ou indirecto do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem através destes, para a qualidade da educação na sala de aula. É um processo através do qual os professores, enquanto agentes de mudança, revêem, renovam, ampliam o seu compromisso com os propósitos morais do ensino.» (GUEDES & MIRANDA 2005:2).

A aprendizagem significa, também, algum risco de errância, de aventura e de abertura ao diferente. Implica, ainda, um esforço, face ao ritmo alucinante da produção científica, que é paradigma do tempo pós-moderno. É por isso que se exige, como requisito fundamental, o imperativo da promoção de uma vigorosa cultura de aprendizagem permanente, transformando a informação em conhecimento útil, funcional, que responda às solicitações da vida prática quotidiana, alimentando, porém, uma referência obrigatória do sentido que deve prender a uma bem determinada e, paradoxalmente, realística dose de utopia humana.

No processo de formação ao longo da vida, que a todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os processos de aprendizagem e projetos concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto ético-profissional justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.

E se um dos objetivos da educação poderá equivaler a um produto, com o qual é necessário lidar, com competências e planificações, capazes de levar a resultados previamente conhecidos e calculados, então um daqueles objetivos da educação é obter um bom produto final, consubstanciado na pessoa, no cidadão, no profissional: «Educar vai ser então esse esforço para levar à reflexão sobre a escala de valores que melhor corresponda às exigências da pessoa humana, visando um aprimoramento não apenas no pensar, mas especialmente no agir do homem.» (WERNECK 1994:74).

Paralelamente, ser professor, poderá significar: tomar decisões com capacidade crítica e criativa; ser capaz de utilizar conhecimentos, experiências e valores, em contexto pedagógico; utilizar conhecimentos científicos na tomada de resoluções, tal como qualquer outro profissional autónomo, independentemente de regulamentação oficial, implicando um comportamento profissional, relacionado com a capacidade de, a partir da sua formação inicial, desenvolver e ampliar o seu campo de saber, e de desempenhar as funções sociais, e até políticas, que a sociedade dele espera.

Se se considerar a experiência, como sendo uma das primeiras fontes da educação, então o professor/formador, em determinada fase da sua vida profissional, é sujeito do seu próprio desenvolvimento, em que a reflexão sobre a experiência é uma prática fundamental, isto é, um investigador na sala de aula, em vez de um técnico, ou seja: ele, o professor/formador, será um prático reflexivo, porque a teoria por si só, é insuficiente para orientar a rotina docente.

No sentido de dar corpo ao que se vem defendendo, o autor destas linhas, ele próprio, se expõe à avaliação pública nacional e à crítica, através da sua participação num concurso promovido, justamente, pela Administração do portal “Forma-te”. No âmbito deste concurso nacional: “Formador do Ano-2013”, promovido pelo referido Portal “Forma-te”, foram selecionados três finalistas, um dos quais o autor desta reflexão.

Tratou-se de um concurso aberto a todos os formadores do país, no qual, não só o nosso Concelho, como toda a região norte, foram representados pelo autor destas meditações, considerando que já foi selecionado, por um júri idóneo, para um dos três primeiros lugares e, finalmente, atribuídos três primeiros prémios, “Ex aequo”: Componente Científica; Componente Tecnológica e Componente Sócio-Cultural.

Refletir sobre as vantagens de um esforço de auto-formação, de um currículo mais espaçoso, onde caibam também a educação e formação para os valores e o humanismo de alunos e professores, assim como entender a sala de aula enquanto espaço privilegiado de interação, entre o vivido e o novo, um cruzamento de vivências, de culturas e de diversidade.

Não se pode ignorar que: «A função da escola inclui um fundamental elemento de socialização: de recriação dos laços sociais, o que faz com que cada pessoa constitua também uma comunidade, um povo, uma nação. A tarefa da escola não se esgota na transmissão de conhecimentos, nem tão-pouco só na educação de valores, mas estas dimensões estão intimamente ligadas …» (BERGOGLIO, 2013:99).

 

Bibliografia

BERGOGLIO, Jorge, Papa Francisco, (2013). O Verdadeiro Poder é Servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Tradução de Maria João Vieira /Coord.), Ângelo Santana, Margarida Mata Pereira. Braga: Publito.

GUEDES, J. A. D. e Miranda, M. R. (2005). A Capacidade de Auto-aprendizagem do Professor, no domínio da Formação e Desenvolvimento Profissional dos Professores. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.

SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya.

WERNECK. V. (1994). “Pessoa e Educação”, in Revista da Universidade Católica de Petrópolis. Petrópolis: Universidade Católica, Vol. 2 (6) janeiro-abril, pp.67-78

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal NALAP.ORG
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com
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