Educação e Formação

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Coloque-se, num duplo centro, dois elementos insubstituíveis e privilegiados: professor-formador; aluno/formando, quaisquer que sejam as situações, de um e de outro. Mais complexamente, admitam-se a inversão e o poder dos intervenientes: hoje, professor; amanhã, aluno; depois, formador, mais tarde, formando. Os ciclos e alternâncias devem suceder-se ao longo da vida deste novo cidadão do mundo, o qual nunca estará numa posição de dominância definitiva.

Medite-se, por agora, nas condições nobre e sublime do professor/formador/educador, na perspectiva, praxis e interiorização de um verdadeiro apostolado, porque, em boa verdade, ser professor/educador não é apenas sinônimo de um bom ensinante, de um conceituado técnico-especialista.

Muito mais do que isso, ele deverá ser um agente de proximidade, de contágio, atento aos sinais da alteridade dos seus alunos/educandos, um gestor hábil na manutenção dos equilíbrios necessários, sempre difíceis, entre desejo de influência, inerente ao ato pedagógico, e o risco da manipulação.

Aliás, e para uma melhor contextualização, julga-se ser conveniente iniciar-se esta reflexão a partir de um dos muitos conceitos de educação, o qual: «Designa uma postura pedagógica de valorização do ensino humanístico e da cultura geral. Segundo esse enfoque, considera-se que o educando chegará à sua plena realização como pessoa através do saber, do conhecimento, atingido por meio do esforço.» (SILVA 1988:79).

Além do mais, terá que ser tolerante, paciente, atento, facilitador e rigoroso, eticamente parceiro no projeto educativo/formativo, porque as respostas sociais e educativas, reclamadas pela contemporaneidade, convocam-nos para a necessidade de desenvolver um pensamento cada vez mais elaborado, porque mais complexo, sustentado num processo paciente de ensino/aprendizagem, que se vai (e deve) desenvolver ao longo da vida.

É fundamental ter-se presente que: «O desenvolvimento profissional envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagem e as atividades conscientemente planificadas, realizadas para o benefício directo ou indirecto do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem através destes, para a qualidade da educação na sala de aula. É um processo através do qual os professores, enquanto agentes de mudança, revêem, renovam, ampliam o seu compromisso com os propósitos morais do ensino.» (MIRANDA 1975:2).

A formação que se impõe para o futuro, deve surgir como um projeto estruturante de uma cultura profissional, assente na atitude metodológica reflexiva, tendo por objetivos o rigor e o sentido de humanidade.

O processo que pode suportar um tal projeto, materializado num sistema de ensino/aprendizagem prático, realista e rigoroso, sendo fascinante, não é fácil, na medida em que implica “aprender-a-prender”, exige trabalho, esforço, paciência, disciplina e abnegação, um verdadeiro apostolado, uma cruzada sem fim, no tempo e no espaço, embora com objetivos concretos.

A aprendizagem significa, também, algum risco de errância, de aventura e de abertura ao diferente. Implica, ainda, um esforço face ao ritmo alucinante da produção científica, que é paradigma do tempo pós-moderno.

É por isso que se exige, como requisito fundamental, o imperativo da promoção de uma vigorosa cultura de aprendizagem permanente, transformando a informação em conhecimento útil, funcional, que responda às solicitações da vida prática quotidiana, alimentando, porém, uma referência obrigatória do sentido que deve prender a uma bem determinada e, paradoxalmente, realística dose de utopia humana.

No processo de formação ao longo da vida, que a todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os métodos de aprendizagem e projetos concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto ético-profissional, justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.

Nesse sentido, exige-se que a formação seja valorizada e usufruída como um direito, como mais uma oportunidade do exercício da autonomia e maturidade profissionais. Este procedimento de formação, ao longo da vida, pressupõe: forte envolvimento, sem cedências a facilitismos; um permanente espírito de curiosidade sócio-científica e técnico-cultural; uma consciência da importância daquilo que surpreende, e que é necessário cultivar com atenção, no silêncio intelectual, sem revelações precipitadas, porque infundadas; enfim, adotar a flexibilidade mental, e realizar a difícil ginástica do espírito, praticando aquele princípio cartesiano da “dúvida metódica”, para não haver incomodidade quando surgem interpelações, para as quais ainda não existem respostas e soluções exequíveis. A humildade que a prudência aconselha, será a atitude correta e apreciada.

E se um dos objetivos da educação, poderá equivaler a um produto com o qual é necessário lidar, com competências e planificações, capazes de levar a resultados previamente conhecidos e calculados, então um daqueles objetivos da educação é obter um bom produto final, consubstanciado na pessoa, no cidadão, no profissional que: «Educar vai ser então esse esforço para levar à reflexão sobre a escala de valores que melhor corresponda às exigências da pessoa humana, visando um aprimoramento não apenas no pensar, mas especialmente no agir do homem.» (WERNECK 1994:74).

Paralelamente, ser professor, poderá significar: tomar decisões com capacidade crítica e criativa; ser capaz de utilizar conhecimentos, experiências e valores, em contexto pedagógico; utilizar conhecimentos científicos na tomada de decisões, tal como qualquer outro profissional autónomo, independentemente de regulamentação oficial, implicando um comportamento profissional relacionado com a capacidade de, a partir da sua formação inicial, desenvolver e ampliar o seu campo de saber e de desempenhar as funções sociais, e até políticas, que a sociedade dele espera.

Se se considerar a experiência como sendo uma das primeiras fontes da educação, então o professor, em determinada fase da sua vida profissional, sujeito do seu próprio desenvolvimento, em que a reflexão sobre a experiência, é uma prática fundamental, isto é, um investigador na sala de aula, em vez de um técnico, ou seja, ele, o professor, será então, um prático reflexivo, porque a teoria por si só, é insuficiente para orientar a prática docente.

Até porque a escola produz uma cultura interna que lhe é própria, que exprime valores, crenças e atitudes daqueles que nelas atuam, e também, segundo uma sofisticada orientação ideológica, assente numa legislação, que tendo uma carga subjetiva inerente, é suscetível de várias interpretações.

Reflectir sobre as vantagens de um esforço de autoformação, de um currículo mais espaçoso, onde caibam, também, a educação dos valores, e a humanidade de alunos e professores, e também, entender a sala de aula, enquanto espaço privilegiado de interação entre o vivido e o novo, um cruzamento de vivências, de culturas e de diversidade.

 

Bibliografia

MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de, (1975). Educação no Brasil (Esboço do Estudo Histórico). Universidade Federal de Pernambuco. Recife/PE: Editora Universitária. Págs. 29-58

SILVA, E. D. M. (2005) O Professor Reflexivo. (Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar). Vila Nova de Gaia: ISPGaya – Instituto Superior Politécnico Gaya. (Não publicado)

WERNECK. V. (1994). “Pessoa e Educação”, in Revista da Universidade Católica de Petrópolis. Petrópolis: Universidade Católica, Vol. 2 (6) janeiro-abril, pp.67-78

229-236

 

Venade/Caminha – Portugal, 2022

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

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