Crônica: Em louvor do cachorro

O matutino de hoje noticia a notável aventura da cadelinha galega, que em terras da Corunha se perdera, e decorrido oito anos, capturada em Trás-os-Montes.

Graças à dedicação do veterinário de Vinhais, a cachorrinha, foi após aturadas diligencias, identificada. Avisado o dono, caçador desportivo, prontamente a veio buscar.

Diz o repórter, que não foi preciso identificar o proprietário do animal, porque este, logo que o pressentiu, desatou em alegre e festiva correria.

Mais um exemplo, entre muitos, da dedicação canina; animais que nos ensinam significativas lições de amizade e gratidão.

Também João Bosco possuía robusto amigo de quatro patas.

Encontrou-o na rua, em noite escura e fria. Era agigantado, de meter medo, mas acercou-se do santo, tão carinhosamente, que D. Bosco não hesitou adoptá-lo.

O cão, como se sabe, consegue distinguir, nos humanos, sentimentos. É intuição que raras vezes o engana.

O Pardo, ao avizinhar-se do fundador dos Salesianos, reconheceu, por certo, os nobres qualidades do santo.

O companheiro tornou-se não só amigo, mas também protetor. Corajosamente o defendeu em situações bem difíceis.

Agora outros exemplos de amizade canina:

Na presença de meu pai, contou-me a Drª Maria da Glória, médica gaiense, que encontrando-se exausta, resolveu descansar na marquise do consultório.

De súbito penetra na sala, o cachorro, e insistentemente puxa-lhe, com os dentes, o vestido.

Contrariada acompanhou-o Mal havia dado escassos passos, desabou, com formidável estrondo, o estuque do teto.

Lembram-se do cão do mítico Ulisses, quando regressou a Ithaca? Nem os familiares o reconheceram, apenas o Argus, ao vê-lo, tão alegre ficou, que morreu de contentamento.

Virgílio, Homero, Sócrates – que jurava pelo seu cão, – e Alexandre Magno, não pouparam, em escritos e palestras, rasgados elogios ao cachorro, que lhe foi dedicado.

Gioto, chegou a imortalizar o cão de guarda, que o acompanhou em verdes anos, na base do campanile de Florença.

E Guilherme Braga e Luiz Guimarães, dedicaram-lhes belos e comoventes poemas. Um ao Sultão; outro, ao Veludo, rafeiro que de cansaço sucumbiu junto ao dono.

Conhece-se os sentimentos caninos pela cauda, agitação e língua (lambendo – sinal de ternura e amizade); já agora, se me permitem, uma curiosidade: só o cão domesticado ladra; e ladra para poder comunicar-se com os humanos.

Não admira, portanto, que os cachorros sejam os únicos que não precisam de trabalhar para serem amados. E são amados, porque amam incondicionalmente a quem lhes mostre carinho. Amam não por interesse nem por medo, mas por amor e gratidão. Qualidades que raramente conhecemos no nosso semelhante.

 

 

Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal

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