Coimbra – Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Por Rui Lopes

Biblioteca Joanina. Foto Divulgação: ©UC|Delfim Ferreira
Biblioteca Joanina. Foto Divulgação: ©UC|Delfim Ferreira

Não são poucas as cidades portuguesas e de outros países classificadas pela UNESCO, Coimbra ainda não havia sido, mas merecia esta classificação como adiante vamos demonstrar, sendo a candidatura trabalhada desde a década de 1990 até à atualidade, tendo vários Reitores trabalhado neste projeto, inclusivamente a atual equipa reitoral com destaque para a Vice Reitora Clara Almeida Santos que, nos últimos tempos, foi um dos rostos mais visíveis desta candidatura.

Sabia-se que a UNESCO anunciaria a classificação no Cambodja no dia 23 de Junho, no entanto, a UNESCO resolveu surpreender e anunciar na madrugada do dia 22 de Junho, Coimbra acordava com uma vitória que começava a circular na internet. O facto, logo originou uma Serenata espontânea de consagração, às zero horas com vários grupos de fado no Largo da Sé Velha e a assistência que ultrapassou as 1000 pessoas, tendo o evento encerrado com um discurso de agradecimento do Reitor da Universidade de Coimbra.

Era uma candidatura, é certo, mas não havia razões para a não aprovação de Coimbra Património Mundial da UNESCO, senão vejamos:

– Coimbra tem um extenso património edificado na alta e baixa da cidade: os colégios na Rua da Sofia, a Igreja de Santa Cruz, as duas sés, a Torre da Universidade de Coimbra (que, afinal, continua a ser a imagem de marca da cidade), todos os edifícios da alta universitária construídos no Estado Novo, o colégio das artes, o Laboratório Chimico (hoje Museu da Ciência), o Colégio de S. Jerónimo (onde se situa o Museu Académico de Coimbra – único museu exclusivo de vida estudantil no mundo), a Biblioteca Joanina, a Capela da Universidade, a Sala dos Capelos, o Edifício da Associação Académica de Coimbra, entre muitos outros exemplos.

– Também em documentação e bibliografia não podíamos esquecer o Arquivo da Universidade de Coimbra, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Imprensa da Universidade são importantes.

– O património material e imaterial único, onde incluímos a Canção de Coimbra, as Repúblicas de estudantes de Coimbra, os rituais próprios das festividades estudantis  como a latada e queima das fitas, os rituais próprios do corpo docente na Sala dos Capelos, todo um conjunto de organismos autónomos da Associação Académica de Coimbra: Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra, Coro Misto, Tuna Académica, Orfeon Académico de Coimbra. Todas as secções culturais e desportivas da Associação Académica, estando muito do património desta exposto no Museu Académico de Coimbra.

– Sendo a Universidade de Coimbra a única em Portugal até 1911, formou todas as elites portuguesas e do mundo lusófono, não nos esqueçamos que os artífices da independência do Brasil estudaram e até foram professores em Coimbra, caso de José Bonifácio Andrada e Silva, ou mesmo o primeiro Presidente de Angola, Dr. Agostinho Neto, era formado em Medicina em Coimbra. Com isto, a Universidade contribuiu para a divulgação da língua e cultura portuguesa por séculos.

O primeiro passo está dado com esta vitória, agora é preciso muito mais trabalho a promover, divulgar e melhorar o que já existe, fato que aumentará certamente as visitas dos turistas a Coimbra.

Termino com duas propostas específicas para melhorar:

1 – Que o Museu Académico de Coimbra seja revitalizado e melhorado, sendo-lhe dada a grandeza que merece, uma vez que é o único museu exclusivamente de vida estudantil no mundo, fator mais que suficiente para merecer a aposta neste museu.

2 – Que a recente lei do arrendamento seja retificada e crie um estatuto especial para as Repúblicas, caso isso não aconteça, muitas repúblicas podem desaparecer daqui a 5 anos, o que será um contrassenso ser património da UNESCO e, ao mesmo tempo, ter uma lei que pode “assassinar” esse património único que são as Repúblicas de estudantes.

 

Por Rui Lopes
Mestre em História pela Universidade de Coimbra

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