Cimeira de Bruxelas – A UE e o Euro sairão fortificados

Merkel não se encontra muito preocupada com o estilo político e por isso já deixou perceber que esta cimeira não se poderá limitar a troca de meras simpatias descomprometidas. Prevêem-se rajadas fortes para a cimeira esperando-se conceitos muito concretos, porque se não os houver o tempo depois dela revelar-se-á muito tempestuoso para todos. O epicentro será a Alemanha e França. São os dois que determinam o estado do tempo na EU. A experiência, de terem sido arrastados por Atenas e afins, mais os empertiga agora a eles. Merkel no seu egoísmo suave quer acabar com os puros egoísmos nacionais. Não será fácil atendendo ao fato dos ingleses só verem a sua perspectiva e a dos americanos e muitos outros já sentirem a água nas orelhas. Trata-se nesta cimeira de salvar a zona euro e impedir a bancarrota de alguns Estados. Um empreendimento difícil. Para isso os chefes de governo teriam de se transformar num governo econômico que impõem nos seus países o que determinam juntos. Os Estados, que, de fato, já se tornaram sombras de si mesmos, terão de delegar ainda mais poderes na EU, desmiolando ainda mais as soberanias. De fato, as nações também já não têm competência para resolverem, sozinhas, os seus problemas. Há problemas que são universais e que as ultrapassam e que lhes fogem.

Não chegará uma política de poupança se não forem dominados os mercados financeiros. Uma Agência Rating europeia já há muito deveria ter surgido. Para já bastaria, a nível de lei retirar os direitos que se concederam às Rating alheias, que defendem o seu monopólio e dos seus em favor do dólar contra um Euro forte que lhe mete medo pela concorrência fática que se tornará.

A crise foi provocada por grandes e pequenos. Muitos aproveitam-se dela hoje tal como antes dela se aproveitaram todos da abundância de dinheiro. É preciso fazer investimentos nos países fracos, doutro modo asfixiarão nas próprias dívidas. A providência social é a que mais sofre. Os direitos dos trabalhadores são reduzidos enquanto a especulação dos accionistas põe em perigo Estados e a economia de mercado social, que era um exemplo para os outros continentes.

Na Alemanha, governo e oposição engalinham-se cada vez mais. Na Alemanha fala-se do documento desenvolvido pelo presidente do conselho da EU (Herman Van Rompuy), pelo chefe da Comissão (José Manuel Barroso) e pelo presidente do Grupo Euro (Jean-Claude Juncker) como típico “saco de truques de Bruxelas”. Estes procuram adiar os mecanismos da crise contra a intenção forte de alemães e franceses de estruturar melhor a zona euro. Se as coisas corressem como o governo alemão quer a cimeira transformar-se-ia num conclave à semelhança da eleição papal, em que, depois de longas reuniões com vaporadas do fumo negro da crise, surgirá por fim o fumo branco e a frase do  habemus euro.

A Alemanha tem medo de ser desqualificada pelas agências Rating, caso a Europa não dê passos decisivos na solução da crise; quer salvar o Euro a todo o custo.

No meio destas turbulências os chefes de governo têm marginalizado os atores e o papel de Bruxelas. A intenção de rever os Tratados Europeus é muito controversa e penso que irrealista. A EU ir-se-á construindo, pragmaticamente, à margem do povo e da democracia; finalmente o povo aceitá-la-á. A crise ajudará a dar à luz os Estados Unidos da Europa.

António da Cunha Duarte Justo
[email protected]
www.antonio-justo.eu

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