Batman, Coringa, amores bandidos. Freud explica?

Por Ronaldo Andrade

Lembro-me que em minha infância uma das brincadeiras que mais gostava era a de ‘Polícia e ladrão’. Na maioria das vezes eu, menino tímido e cumpridor das regras, que tinha receio de ser pego fazendo coisas erradas, preferia ser escolhido como policial, o qual buscava cumprir, com zelo e altivez, a caçada para achar os “criminosos”.
Confesso, entretanto, que gostava quando por vezes era designado a ser um dos ladrões,  pois libertava-me de me tornar o exemplo a ser seguido, cumpridor de todas as regras; isso cansa.
Desta forma, por alguns momentos poderia praticar o que bem – ou mal – entendesse, sem a preocupação de estar ou não fazendo a coisa certa: criminosos, por definição, e com toda a subjetividade e relativização que isso pode acarretar, não fazem a coisa certa.
Tal lembrança vem à tona quando surgem, por alguns setores da sociedade, reações contrárias às ações contra criminosos, sendo a última de grande repercussão a operação da Polícia Civil na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e também setores que aplaudem eventuais excessos cometidos nessas ações. Por que bandidos exercem fascínio a ponto de terem inúmeros seguidores e defensores?
Bandidos, que fique claro, podem ser tanto os que carregavam fuzis (portar fuzis, apesar de aparentar ser normal, face à violência presente na sociedade brasileira, não é) quanto integrantes das forças policiais que se aproveitam para extrapolar leis e cometer abusos de autoridade. Comprovados os delitos, devem ser punidos de forma exemplar, dentro do Estado Democrático de Direito.
O intuito deste artigo, entretanto, é analisar o porquê de criminosos, com ou sem farda, possuírem, digamos, muitos admiradores, que passam o pano para seus ilícitos. Síndrome de Estocolmo? ‘La casa de papel’? Esquadrões da morte? Milícias? Freud explica?
Usando como exemplo o cinema, arte que tanto admiro, vemos que os vilões costumam ter muitos fãs, talvez até mais que os heróis. Entre vários, dois que seguramente estão entre os maiores: Darth Vader, da saga Guerra nas Estrelas (Star Wars) e Coringa (este último personagem ganhou dois Oscars, interpretados pelos atores Heath Ledger, vencedor de forma póstuma, e Joaquin Phoenix). Batman, o personagem? Nunca ganhou…
Darth Vader e Coringa se tornaram malvadões devido a fatores que são apresentados ao público no decorrer de suas respectivas histórias, que ajudam a explicar (passar o pano?) porque foram, parafraseando o filme intergaláctico, para ‘o lado negro da Força’.
Até que ponto as agruras da vida justificam seus terríveis atos? Nasceram assim ou, seguindo o pensamento do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, a sociedade os corrompeu? São vítimas da sociedade? Suas vítimas, são o quê?
Quanto aos mocinhos, que no caso dos super-heróis, usam uniformes? No filme ‘Batman, o Cavaleiro das Trevas’, o homem-morcego, para capturar o Coringa, teve que infringir algumas regras – agressão (tortura?) contra o vilão, escuta ilegal dos telefones da população – em nome do “bem maior”: salvar Gotham City e sua gente. Ética? Moral?
“Os fins justificam os meios”, frase escrita pelo poeta romano Ovídio em sua obra ‘Heroides’ e atribuída ao filósofo italiano Nicolau Maquiavel, autor do livro ‘O Príncipe’. Justificam mesmo?
Como estamos em maio e para tentar compreender todas essas questões, finalizo com uma das icônicas frases de Guerra nas Estrelas, que faz referência com o dia 4 de maio, conhecido como o ‘Dia de Star Wars’, devido a um trocadilho em inglês: May the 4th be with you / May the Force be with you: “Que a Força esteja com você”. E, reforço, com toda a gente.

Por Ronaldo Andrade

Jornalista, fotógrafo. Correspondente do Jornal Mundo Lusíada na Baixada Santista desde 2007. Servidor público. Pós-graduado em Política e Relações Internacionais (Fundação Escola e Sociologia de São Paulo / SP) e em Gestão Pública Municipal (Universidade Federal Fluminense / RJ).

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