A Transformação Digital em Portugal herda raízes do Brasil

Por Karla Passeri

O movimento de brasileiros que buscam o mercado digital português cresce a cada ano e, para isso, há explicação. O Brasil tem um mercado mais maduro e, atualmente, Portugal é uma grande oportunidade para quem quer fazer a vida no exterior, longe do caos político, econômico e social que se instaurou no país.

Nos últimos anos, Lisboa vem passando por significativas modificações socioculturais e econômicas. Desde o marcante acontecimento da Expo’98, ou Exposição Internacional de Lisboa, que atraiu mais de 10 milhões de pessoas à cidade e remodelou toda a área oriental lisboeta, até hoje, 20 anos depois, a capital portuguesa reúne eventos, manifestações e práticas culturais que oferecem projeção internacional à cidade. Não à toa, nos últimos dois anos coleciona os prêmios de cidade mais cool da Europa; World Travel Award de melhor destino turístico do mundo, depois do melhor destino europeu e melhor site oficial de turismo; Design Awards, entre outros.
Certamente, tantos prêmios e outras intervenções turísticas fizeram com que os territórios lisboetas ganhassem ampla notoriedade no exterior. Tal internacionalização também está a afetar – e muito! – o mercado de Marketing Digital da capital portuguesa.
Primeiramente, cabe ressaltar que o mercado digital de Portugal é, ainda, embrionário, se compararmos com o do Brasil. Grandes especialistas da área, de um país e do outro, relatam que o mercado brasileiro tem um avanço de 3 a 6 anos em relação ao português. Nota-se, portanto, o motivo de Portugal beber tanto das fontes brasileiras neste sentido. Por isso, logicamente, tanta gente cruza o oceano em busca de uma vaga nesta área – que pode englobar desde o TI, passando pelo gestor de mídias sociais, ao CDO (Chief Digital Officer). De acordo com a própria ACEPI (Associação da Economia Digital Portuguesa), 60% das empresas não têm presença online em Portugal, e a proposta é, nos próximos três anos, capacitar cerca de 50 mil micro e pequenas e médias empresas, as chamadas PMEs, que são maioria no país.

O cenário português em detalhes
Atualmente, Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes (sim, isso é menor que muita cidade no Brasil!), e 7.73 milhões de pessoas têm acesso à internet, o que significa que 75% da população está conectada. Destas, 64% são usuários ativos das mídias sociais, sendo 55% ativos pelo mobile. Quem vem do Brasil, portanto, tem algo muito importante a considerar: o tamanho do mercado.
Não raro, o investimento digital começa em Portugal e, rapidamente, se expande para outros países da Europa, principalmente a Espanha – o país vizinho é cinco vezes maior.
De qualquer maneira, outros dados animam o mercado digital da terra lusitana: apenas 8% dos portugueses nunca comprou online. E mais: os 92% de portugueses que compram online estão satisfeitos com as suas experiências – numa escala de 0 a 10, apresentam uma média de 7,6 no que diz respeito ao atendimento e à qualidade do serviço prestado. A questão da experiência é algo bem relevante, já que 79% dos clientes admite que a experiência de compra tornou-se tão importante quanto o produto. Além disso, 88% dos utilizadores admite ter pouca vontade de voltar a um site onde teve uma má experiência. Com relação aos setores mais consumidos, são: viagens, seguido por espetáculos, livros e decoração.
Mais que todos os importantes dados acima citados, há também uma grande relação dos brasileiros com os portugueses no que diz respeito aos eventos de marketing digital que acontecem no país. Profissionais brasileiros como Nino Carvalho, Rafael Rez e Pedro Caramez estão constantemente com palestras em eventos diversos e workshops pelo país, além de presença com palestras e/ou aulas em cursos livres e nas universidades portuguesas. O contrário também acontece: nomes como Paulo Faustino, Luis Madureira e Frederico Carvalho se apresentam como palestrantes no Brasil e também lecionam em programas brasileiros de Marketing Digital.

Os eventos digitais em Portugal
Web Summit, Click Summit e Digitalks são alguns exemplos dos maiores eventos que acontecem em Portugal, com presença de brasileiros tanto enquanto palestrantes quanto como público. O Web Summit já tem acordo com o governo português e continua em Lisboa por mais 10 anos, de acordo com Paddy Cosgrave, organizador da conferência, que acontece na Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações. O Click Summit, conferência de Marketing e Vendas Online, organizada pelo time do Frederico Carvalho, vai para a sua 6ª edição neste ano, com cada vez mais interesse dos participantes. E o Digitalks, evento que acontece no Brasil desde 2009, ultrapassou as fronteiras em 2018 e lança, em março de 2019, o Expo Fórum Portugal, para fomentar ainda mais o mercado digital entre os dois países.

A Transformação Digital é uma realidade para Portugal
Quando se fala em transformação digital, parece óbvio que todos os países queiram participar deste movimento – afinal, não dá para fugir do movimento online e todas as ferramentas, os impactos sociais e as mudanças no comportamento do consumidor que isso traz.
No entanto, perceber que este não é um conceito do futuro, mas, sim, do presente, de fato, é algo que requer mudanças estruturais, seja numa pequena empresa, seja num país inteiro. Tal transformação diz respeito não só à tecnologia envolvida e ao treinamento de pessoas, mas também à estratégia de negócio a ser adotada.
Saí do Brasil em 2017 e, depois de quase dois anos em Portugal, país extremamente apegado a processos não-digitais, já é possível notar diferenças com relação ao mindset que se adota nas novas empresas – há diversas startups surgindo aqui – bem como no que diz respeito à tentativa da mudança de cultura em empresas já tradicionais, inclusive as governamentais. Trata-se, portanto, de uma mudança, antes, de mentalidade para, em seguida, ser acompanhada (e, não, engolida!) por processos digitais.

 

Por Karla Passeri
Especialista em Marketing Digital e mestranda em Cultura e Comunicação na Universidade de Lisboa

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