A Democracia Totalitária

Tive já a oportunidade de referir a obra de Paulo Otero, A DEMOCRACIA TOTALITÁRIA, e por vezes diversas. Uma obra cujo título, a uma primeira vista, parece deslocado, mas que realmente o não é. Para perceber que é esta a realidade basta ter presente o que se entende por estrutura totalitária e olhar para o que se está hoje a passar no Mundo. Neste momento, muito em especial, na Grécia, depois dos gregos terem escolhido a sua estrutura política parlamentar e em eleições livres.

Dizem os manuais que a estrutura política democrática tem sempre a possibilidade de fornecer portas de saída para os casos diversos da vida pública, por muito difíceis que sejam. Uma explicação para a qual concedo o meu apoio e que serve especialmente para a situação que está hoje a ser vivida pela Grécia e pelo seu povo.

A situação em que se encontra a Grécia e os gregos foi criada, acima de tudo, pelos políticos da Nova Democracia, mas por via de práticas políticas e financeiras aconselhadas pelo banco, Goldman Sachs. Práticas desde sempre conhecidas pelas correspondentes autoridades alemãs e europeias. No ambiente financeiro de topo, como se sabe hoje indubitavelmente, a realidade do endividamento (secreto) da Grécia era plenamente conhecida.

Acresce, para lá desta realidade atual, que a Alemanha nunca até hoje pagou à Grécia a sua dívida de guerra, na sequência do último conflito mundial, e que, a preços atuais, deverá andar ao redor – um pouco mais – dos seiscentos mil milhões de euros. Ainda assim, cinjamo-nos à realidade atual, com a finalidade de procurar uma porta para o (aparente) beco sem saída em que se encontram a Grécia e os gregos.

A recente eleição para deputados ao Parlamento da Grécia mostrou à saciedade que os gregos responsabilizam hoje a Nova Democracia e o PASOK pelo estado a que chegaram. A subida do SYRIZA ao segundo lugar do partidos mais votados, de parceria com as mais recentes sondagens que dão este partido já agora em primeiro lugar, mas com vinte e quatro por cento de votos, realmente representativos de vinte e sete por cento por via da lei eleitoral grega, mostra que uma boa parte da população grega, e que até parece crescer, aprofundou a recusa das respostas (de sempre) dos partidos que conduziram a Grécia à atual ruína.

Há, porém, uma porta de saída para a atual situação, e que é, afinal, o recurso ao referendo sobre a presença da Grécia na Zona Euro e na União Europeia. No fundo, o que os dirigentes do PASOK ainda pensaram fazer, mas em que acabaram por recuar, dada a sua fraca capacidade de defender os interesses da Grécia e do seu povo perante os de uma camarilha que se apoderou das estruturas da União Europeia e que conduz os destinos desta ao sabor dos interesses nacionais da Alemanha e da França (de Sarkozy).

Qualquer que seja a decisão grega, ela comportará sempre sofrimento. Ainda assim, fora da Zona Euro e com o retorno à moeda nacional, os gregos passarão a estar entregues a si mesmos, não restando dúvidas de que acabarão por ver nascer uma luz ao fundo do túnel que a Nova Democracia e a escroqueria financeira internacional lhes causaram.

Tomo sempre por válida a máxima de que, a ter de morrer, sempre é preferível fazê-lo com honra, em vez de se ser morto por via de se aceitar uma prática de vida escravizante. Mas a saída da Grécia da Zona Euro terá até o condão de mostrar a verdadeira face da hipocrisia dos políticos da atual União Europeia, porque se querem um continente de paz e virado para um futuro que seja melhor, há que encontrar para a Grécia, já então fora da Zona Euro, o essencial apoio à sua recuperação.

Em contrapartida, se os gregos decidirem em referendo continuar na Zona Euro, então não haverá razão para os dirigentes do SYRIZA obstaculizarem a solução dos partidos Nova Democracia e PASOK. Espero, pois, que o Presidente da República da Grécia, de parceria com a maioria parlamentar adequada, deitem mãos do essencialíssimo referendo, que neste caso porá tudo em pratos limpos. Deixemos funcionar a democracia direta, que é aqui o caminho a seguir.

 

 

Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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