Variante da África do Sul aumenta em Portugal e gera preocupação

Da Redação
Com Lusa

A variante do vírus SARS-CoV-2 identificada na África do Sul está a gerar “alguma preocupação” pelo crescimento recente em Portugal, admitiu o pesquisador João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Em Portugal, morreram 16.918 pessoas dos 827.765 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

“No que diz respeito à variante da África do Sul, temos até à data de hoje 53 casos confirmados. Temos de estar muito atentos ao controlo de fronteiras, não só ao nosso, mas ao dos outros, porque esta variante é preocupante. Há de facto alguma preocupação, um aumento de casos com algum significado”, frisou, sublinhando: “O que estamos a ver é a ponta do icebergue”.

Numa intervenção, na reunião que junta, no Infarmed, em Lisboa, especialistas, membros do Governo e o Presidente da República, para fazer uma avaliação da situação epidemiológica, o especialista na análise das mutações do vírus responsável pela pandemia de covid-19 declarou que a variante sul-africana exige atenção.

De acordo com o investigador do INSA, a variante da África do Sul era responsável por 0% dos casos de covid-19 em Portugal em janeiro e no mês de março teve um “crescimento significativo”, ao representar 2,5% dos casos.

Apesar de reconhecer que está em linha com a maioria dos países europeus, João Paulo Gomes estimou que esta variante tenha cerca de 200 casos a circular em Portugal e que tenha chegado também a partir de Moçambique e de Espanha.

Quanto às outras variantes de preocupação, a associada ao Reino Unido é já tida como dominante, ao ter atingido os 83% no mês passado, sendo “normal que já passe esse número”, segundo o especialista.

“Temos de nos conformar com o domínio na nossa situação epidemiológica de uma variante mais transmissível”, observou.

João Paulo Gomes adiantou também que a variante associada à cidade brasileira de Manaus correspondeu até ao momento a 29 casos confirmados em solo nacional, o que se traduz em 0,4% dos casos em março, algo que descreveu como uma “ótima notícia” pelos “níveis residuais” de disseminação. Já a variante brasileira P.2 (diferente da variante de Manaus) significou somente 0,1% dos casos no mês passado.

“No que diz respeito à vigilância das variantes de preocupação, a situação atual não é impeditiva da continuação do plano de desconfinamento”, na opinião do investigador do INSA, que reiterou apenas a necessidade de manutenção da vigilância.

Crianças

Portugal registrou um “ligeiro crescimento” no número de novos casos, mais expressivo na faixa dos 0 aos 9 anos e com uma tendência de decréscimo nas pessoas com mais de 80 anos, segundo o pesquisador André Peralta Santos.

“O Algarve é a região de Portugal continental que apresenta uma incidência mais elevada. No entanto, mantém-se a tendência de decréscimo nas hospitalizações, na mortalidade e observou-se principalmente um aumento do número de testes e a diminuição da taxa de positividade”, afirmou o investigador da Direção-Geral da Saúde, na reunião do Infarmed.

André afirmou, com base num gráfico que mostra a incidência cumulativa a 14 dias, que Portugal está neste momento com “uma incidência moderada próxima dos 71 casos por 100 mil habitantes e com uma tendência ligeiramente crescente”.

Analisando a dispersão geográfica da incidência, adiantou que há 22 concelhos com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes que correspondem a 636 mil pessoas, 6,5% da população nacional.

Segundo afirmou, o Alentejo e Algarve são os distritos que apresentam uma situação com maiores concelhos com incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes.

Na semana de 21 a 27 de março, o Algarve e Baixo Alentejo foram os que registraram maiores crescimentos, depois na semana seguinte “algum crescimento também na zona do Algarve do Barlavento para o Sotavento e depois na última semana com algum crescimento também na zona norte da zona do Grande Porto e de Trás os Montes”.

Relativamente às idades, existe atualmente “uma redução muito assinalável em todos os em todos os grupos etários”, mas nas últimas semanas observou-se a inversão da tendência e o aumento na faixa etária dos 0 aos 9 anos.

O pesquisador realçou ainda a tendência decrescente na faixa etária dos 80 anos e mais, “a mais vulnerável à hospitalização e à morte”.

Vacinação

A população com mais de 60 anos de idade vai estar vacinada contra a covid-19 até ao início de junho, anunciou o coordenador do plano de vacinação, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.

“Quando vacinarmos toda a população acima dos 60 anos, na realidade, estaremos – segundo os dados dos óbitos – a proteger 96,4% das pessoas que faleceram em resultado desta pandemia. Vamos atingir este valor entre a última semana de maio e a primeira de junho”, disse o responsável na reunião do Infarmed.

A ideia é que 96,4% das pessoas que morreram em resultado do novo coronavírus tinham mais de 60 anos.

Henrique Gouveia e Melo reafirmou também a meta de proteção de 70% da população para meados do verão. “Atingiremos 70% da população, que equivale a termos todas as pessoas acima dos 30 anos vacinadas, entre julho e agosto, com a primeira dose”, explicou.

Com 1,9 milhões de vacinas disponíveis para administrar em abril, o coordenador da ‘task force’ assumiu também que o programa está “numa semana de transição” e que vai entrar em curso “uma nova estratégia”, com a alteração da tipologia da fase 2, “colapsando a fase 2 com a fase 3, uma vez que há disponibilidade de vacinas” e que o aspeto fundamental será a “fluidez” do ritmo de vacinação.

“A partir de agora, vamos fazer uma sequenciação etária pura, usando 90% das vacinas para isso e deixando 10% para outras doenças não relacionadas com a idade e que podem atingir populações muito mais jovens”, referiu Henrique Gouveia e Melo.

O coordenador da ‘task force’ especificou ainda os níveis de cobertura atuais dos diferentes grupos.

“Nos mais de 80 anos já estamos acima de 90%, entre os 50 e os 80 anos com comorbilidades tipo 1 estamos acima de 80%, nos profissionais de saúde nos 96%, nos serviços essenciais em 99% e nas escolas nos 23%”.

“Neste trimestre teremos uma média de administração de vacinas na ordem das 97 mil por dia. Nesta contabilidade, já chegaram a território nacional cerca de 2,6 milhões de vacinas e foram administradas até domingo passado cerca de 2,1 milhões de doses: 1,5 milhões de primeira dose, ou seja, mais de 15% da população, e 600 mil de segunda dose”, reforçou.

Portugal tem hoje menos 20 pessoas internadas com covid-19, registrando-se 408 casos confirmados e mais cinco mortes nas últimas 24 horas, segundo o mais recente boletim.

Estão hoje internadas 459 pessoas, 118 das quais em unidades de cuidados intensivos (menos uma do que na segunda-feira).

As autoridades de saúde deram também como recuperadas mais 746 pessoas nas últimas 24 horas, atingindo-se um total de 785.809 desde março de 2020 e os casos ativos totalizam 25.441, menos 343 do que na segunda-feira.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: