Vacinas em Portugal começam em janeiro para 950 mil pessoas prioritárias

O primeiro-ministro, António Costa, usa da palavra durante a sessão pública de apresentação do Plano de Vacinação de Combate à covid-19, no Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, em Lisboa, 03 dezembro de 2020. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

As vacinas contra a covid-19 vão começar a ser administradas a partir de janeiro em Portugal, sendo os grupos prioritários as pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas, residentes e trabalhadores em lares, e profissionais de saúde e de serviços essenciais.

A informação foi divulgada por Francisco Ramos, coordenador do grupo que preparou o plano de vacinação, segundo o qual numa segunda fase a prioridade será para pessoas com mais de 65 anos sem patologias associadas, e pessoas com mais de 50 anos, mas com um leque mais alargado de patologias associadas, como a diabetes.

Na apresentação do plano, em Lisboa, o responsável estimou que sejam vacinadas 950 mil pessoas numa primeira fase, sendo 250 mil o grupo dos lares, 400 mil as pessoas com mais de 50 anos e comorbilidades associadas e 300 mil profissionais.

Na segunda fase serão vacinadas 1,8 milhões de pessoas com mais de 65 anos e cerca de 900 mil com patologias associadas e mais de 50 anos.

Francisco Ramos especificou que as pessoas com mais 50 ou mais anos da primeira fase da vacina (universal, gratuita e facultativa) serão as que tenham associadas uma ou mais patologias como insuficiência cardíaca, doença coronária, insuficiência renal e doença respiratória crônica com suporte ventilatório.

Na segunda fase, além de todas as pessoas com 65 e mais anos, estão pessoas com 50 e mais anos com alguma das seguintes patologias associadas: diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crônica, insuficiência hepática, obesidade, e hipertensão arterial. A comissão recomenda que se podem incluir outras patologias, caso se considere necessário.

A terceira fase, disse o responsável, compreende o resto da população, desde que se confirme um ritmo de abastecimento das vacinas que o permita, porque caso contrário podem ser criados ainda outros grupos.

 A operação logística da vacinação contra a covid-19 vai ser “mais robusta” e centralizada do que habitualmente, funcionando numa “lógica de comando e controle”, explicou o coordenador do plano.

“Em termos de logística, está a ser preparada uma operação mais robusta do que é habitual”, afirmou Francisco Ramos. A vacinação contra a gripe, por exemplo, ocorre num processo descentralizado, regionalizado e próximo dos locais de vacinação.

Ao contrário, no caso da vacina contra a covid-19, esta nova operação será centralizada, naquilo que o coordenador descreveu como “uma lógica de comando e controle”.

Complexo

O primeiro-ministro advertiu que o processo de vacinação terá imponderabilidades externas a Portugal, sendo também complexo ao nível interno, com as dificuldades a aumentarem quanto maior for o universo de cidadãos a vacinar.

“Há agora uma luz ao fundo do túnel, mas o túnel é ainda muito comprido e bastante penoso. Portugal irá adquirir 22 milhões de vacinas, mas essa quantidade de vacinas não chega automaticamente no primeiro dia. Vão chegando escalonadamente e gradualmente ao longo de todo o ano de 2021”, declarou o líder do executivo.

António Costa salientou que a operação de vacinação vai desenvolver-se ao longo do ano e não se concentrará apenas num primeiro momento.

De acordo com o primeiro-ministro, os critérios propostos pela comissão para a vacinação contra a covid-19 “são claros”.

“Em primeiro lugar, vamos proteger quem nos pode proteger, ou seja, os profissionais de saúde, os trabalhadores dos lares, as Forças Armadas e forças de segurança, aqueles que são fundamentais em todos os serviços essenciais”, justificou.

Em segundo lugar, de acordo com o líder do executivo, estão “as populações mais vulneráveis, seja por fator etário, seja por comorbidades associadas”, ambos grupos de risco.

“É um critério claro, transparente e que todos compreendemos”, defendeu, antes de destacar o papel que terá nesta missão as Forças Armadas, designadamente ao nível do planejamento logístico e de execução da operação.

Imunização

O epidemiologista Manuel do Carmo Gomes defendeu hoje que “se tudo correr normalmente” com a vacinação contra a covid-19, no final de março haverá uma imunização “suficientemente grande” na população para evitar “grandes aumentos de casos”.

Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, respondia desta forma a questões levantadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na reunião que decorreu no Infarmed, em Lisboa, onde especialistas e políticos analisaram a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal.

No final da apresentação dos especialistas, Marcelo Rebelo de Sousa, enalteceu as exposições feitas pelos peritos, considerando que “foram excecionalmente interessantes” e “muito instrutivas” e lançou várias questões aos investigadores, sendo a primeira “como veem o mês de dezembro em relação ao início de 2021”.

“Das projeções parece poder depreender-se que apesar da evolução com sinais positivos há uma necessidade de consolidação, atendendo a que em termos de internamentos, em termos de internamentos de unidades cuidados intensivos ou se está ainda a atingir o pico ou não se atingiu o pico e não se sabe qual a evolução subsequente”, disse o chefe de Estado.

A segunda dúvida é “mais específica” e prende-se com o fato de no quadro das medidas a adotar como é “que veem a questão, nomeadamente em períodos como o Natal e o fim do ano, da deslocação ou da mobilidade das pessoas” e qual o grau de relevância desta medida.

Manuel do Carmo Gomes começou por dizer que está “otimista em relação ao fim do ano”, mas afirmou que isso depende do aliviar das medidas ou não” e da adesão dos portugueses a essas medidas para travar os contágios.

No seu entender, as medidas “não devem ser aliviadas significativamente”, salientando que vai haver famílias que se vão reunir no Natal e como mostraram apresentações realizadas na reunião esse comportamento “aumenta a probabilidade de contágios”.

“Inevitavelmente espero que haja um aumento do número de contágios na altura das festas, naquela semana entre o dia 23 e o fim do ano e isso depois reflete-se passados 15 dias (…) na incidência da doença”, disse Manuel do Carmo Gomes, prevendo que haja um recrudescimento de casos no início de janeiro.

Mas disse esperar que “não seja muito grande” e que se consiga controlar concomitantemente com o início da vacinação.

“Eu penso que se tudo correr normalmente quando chegarmos ao fim de março teremos uma quantidade de pessoas imunizadas por vacinação suficientemente grande para evitar já grandes aumentos que nos surpreendam da incidência”, salientou.

No então, continuará a haver surtos e as pessoas têm de continuar a adotar medidas de proteção, até porque não existe a certeza se a vacina evita a infeção e a transmissão em assintomáticos, advertiu.

Disse ainda esperar que no verão o país já esteja “próximo do retomar da normalidade”: “Tenho esperança que possamos já ter boas perspetivas” para a atividade econômica e do turismo”, mas, disse, “até lá vamos ter que lamber as feridas”.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.495.205 mortos resultantes de mais de 64,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 4.724 pessoas dos 307.618 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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