Prisão para estrangeiros em São Paulo tem 61 portugueses

Da Redação
Com Lusa 

 

Mais de 80 nacionalidades convivem na penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva, em Itaí, no interior de São Paulo, entre as quais 61 portugueses, numa variedade linguística que rendeu ao local o nome de “Torre de Babel”.

Na história bíblica, a Torre de Babel era uma construção feita por humanos que queriam chegar ao céu. Como castigo, Deus multiplicou as línguas e os homens deixaram de se entender.

Na Babel de São Paulo, muitos dos reclusos chegam após terem cruzado o céu num avião com drogas e a condenação para as chamadas “mulas”, por tráfico de estupefacientes, é a mais comum no local, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária.

A prisão de Itaí, que fica a quase 300 quilÔmetros da cidade de São Paulo, conta com 1.472 homens no regime fechado, quase o dobro da sua capacidade de 792 reclusos, e 125 presos no regime semiaberto, adequado para 108 pessoas, de acordo com dados de maio.

Apesar dos diversos idiomas, entre os quais dialetos africanos, do búlgaro e do romeno, destacam-se o inglês, o espanhol, falado pelos 515 presos do sul e centro da América, e o português, ensinado nas aulas e usado pelos 201 presos lusófonos, entre portugueses, angolanos (83), moçambicanos (17), guineenses (37) e cabo-verdianos (3).

O português Mário Machado, 61 anos, condenado a um ano e quatro meses por adulteração de combustível, afirma que “um quase não entende o outro” nos corredores. “Fala-se muito o inglês, que eu não falo”, disse à Lusa.

A administração da penitenciária informa que a maioria dos reclusos aprende o português com o tempo. Mas as dificuldades linguísticas extrapolam as grades da prisão.

“A falta de um tradutor é complicada principalmente para os interrogatórios de expulsão. Acaba havendo um tradutor informal para o inglês em alguns casos”, afirma o defensor público da União João Chaves, coordenador do grupo especializado em presos estrangeiros.

O idioma e a sobrelotação não são as únicas dificuldades enfrentadas pelos presos em Itaí. Segundo Chaves, não há um médico permanente na unidade, nem chuveiros quentes ou advogados em número suficiente.

A Secretaria de Administração Penitenciária informa que o banho frio é padrão, mas os presos com limitações de saúde são levados para um local com água quente.

Segundo a instituição, está decorrendo um concurso público para contratar médicos para todo o sistema prisional. Itaí, atualmente, conta com dentistas, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.

Seis em cada dez presos estrangeiros no Brasil estão em São Paulo, segundo o Conselho Nacional de Justiça.

Esta maioria acontece por conta do aeroporto internacional de Guarulhos, que possui voos frequentes para Portugal e para a África do Sul, duas portas de entrada para a droga na Europa.

Ao contrário dos homens, as mulheres estrangeiras não possuem uma prisão só para elas em São Paulo, mas ficam num pavilhão separado na Penitenciária Feminina da Capital.

Em todo o Brasil, os presos sul-americanos e africanos são maioria entre os estrangeiros. Apesar disso, a presença de europeus aumentou desde o início da crise econômica no continente.

No Brasil, entre homens e mulheres, havia 436 presos europeus em dezembro de 2008. Quatro anos depois, o número subiu para 663.

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