Pandemia aumenta situação de vulnerabilidade de pessoas migrantes e refugiadas, dizem especialistas

Da Redação

A série de webinários População e Desenvolvimento em Debate, promovida pelo Fundo de População do ONU (UNFPA), contou com mais uma edição na última quarta-feira, diz 17. Nesta oitava edição, o tema foi Migrantes e Refugiados no Contexto de Distanciamento Social.

Ao longo da discussão, especialistas chamaram a atenção para as condições que pessoas migrantes e refugiadas estão enfrentando. Muitas vezes, ainda não plenamente formalizados e em situação de vulnerabilidade social, essa parcela da população poderá sentir maiores efeitos da pandemia de Covid-19.

Diante do contexto de distanciamento social, medida fundamental para o enfrentamento a pandemia de Covid-19, a situação de pessoas migrantes e refugiadas é particularmente grave, pois muitos vivem em condições provisórias ou precárias de habitação, impactando também em sua saúde.

A professora Deisy de Freitas Lima Ventura trouxe dois exemplos de fatores sociais adicionais que determinam a saúde desta população, como as condições de partida (percurso que os migrantes fazem até chegarem no país de destino) e as características da sua chegada (direitos dos migrantes dependem da sua nacionalidade).

Além disso, as condições de saúde mental também se tornam mais relevantes para esse grupo populacional e os mecanismos de apoio institucionais devem considerar múltiplas demandas dentro do contexto da pandemia atual e sobre o futuro desdobramento das condições de vida. O padre Paolo Parise compartilhou como este ponto é uma realidade na Missão Paz.

“Existe um aumento no sentimento de frustração, derrota e pressão, pois as pessoas migrantes e refugiadas não conseguem emprego e têm seus familiares no país de origem para sustentar”. Paolo Parise também compartilhou como tem sido a rotina em meio a este contexto. Por conta do distanciamento social e fechamento do comércio, o número de pessoas migrantes e refugiadas que estão atendendo cresceu nos últimos dois meses, em especial de mulheres, que foi de 35% para mais de 50% dos que buscam ajuda. Também, nos últimos dois meses, atenderam cerca de duas mil famílias que necessitavam de auxílio.

Adiciona-se a esses grupos a situação de pessoas que se encontram impedidas de retornar aos seus países devido ao fechamento de fronteiras internacionais e ausência de voos comerciais. Jahvier Lemus, ativista da ONG Aldeias Infantis SOS, compartilhou relatos de pessoas migrantes e refugiadas venezuelanas que se encontram em Manaus.

“Mesmo os que conseguem atravessar a fronteira, após uma difícil viagem, são recebidos pelo exército venezuelano com um acampamento estabelecido e um rígido controle de quarentena antes de entrarem no País”, explica o ativista sobre a situação daqueles que tentam voltar para seus países de origem.

José Egas, representante da ACNUR no Brasil, chamou a atenção para o impacto socioeconômico, com as perdas das fontes de renda; o colapso do sistema de saúde pública; transmissão comunitária do vírus (coronavírus) em assentamentos informais e/ou em situações extremas; acesso das comunidades à comunicação segura e confiável; aumento da violência sexual e de gênero; e os obstáculos que as populações indígenas vêm enfrentando.

Participaram do debate o ativista na ONG Aldeias Infantis SOS Jahvier Lemus; o padre e coordenador da Missão Paz Paolo Parise; a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP Deisy de Freitas Lima Ventura; e o representante do ACNUR Brasil, José Egas. A mediação do webinário foi realizada por Rosana Baeninger, professora colaboradora da UNICAMP.

A cada semana, a série “População e Desenvolvimento em Debate” promovida por UNFPA e ABEP realiza discussões entre academia, governo e sociedade civil sobre temas emergentes na Agenda de População e Desenvolvimento. Na próxima quarta-feira 24/06 o tema será: A pandemia da COVID-19 e a crise ambiental e sanitária na Amazônia. Acompanhe no perfil do UNFPA no Youtube: youtube.com/unfpabrasil.

Recorde de deslocados

As Nações Unidas divulgaram, na quinta-feira, o relatório “Tendências Globais” sobre o movimento de pessoas deslocadas por violência, perseguição, conflitos e outras emergências.

Ao todo, são 79,5 milhões de pessoas vivem nessa condição. O número representa quase o dobro de deslocados e refugiados há uma década em todo o globo. O total de deslocados com status de refugiado é de 26 milhões.

Com isso, uma em cada 97 pessoas, no mundo, vive como deslocada interna ou refugiada. Somente no ano passado, mais 8,7 milhões foram adicionadas à lista e os países em desenvolvimento são os mais duramente afetados. Mas outras metodologias indicam que 11 milhões de pessoas passaram a esta situação.

O Acnur estima que entre 30 milhões e 34 milhões de deslocados sejam crianças. O alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que este é o maior número já registrado pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur.

Falando a jornalistas em Genebra, Grandi contou que o tema afeta a todas as nações, mas os países pobres continuam abrigando 85% daqueles que são forçados a fugir de suas casas.

O alto comissário conta que a situação deve ser um tema global, mas que afeta principalmente os países em desenvolvimento.

As maiores emergências continuam ocorrendo do Afeganistão à República Centro-Africana e Mianmar.

Outras nações e regiões consideradas críticas são a República Democrática do Congo, Burkina Fasso e a região do Sahel além da Síria.

O relatório Tendências Globais revela que 73% dos quase 80 milhões de deslocados internos e refugiados buscaram abrigo em países vizinhos. Quase sete em 10 deslocados vieram da Síria, da Venezuela, do Afeganistão, do Sudão do Sul e de Mianmar.

Pela primeira vez, a Venezuela registrou mais de 3,5 milhões de deslocados internos no relatório do Acnur. Em parte, devido ao aumento de refugiados entre 2018 e 2019 por causa da intensificação da crise política e humanitária.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: