Movimento recolhe assinaturas contra descaracterização na cidade de Lisboa

Da Redação
Com Lusa

Antigos autarcas, professores, aposentados, deputados e engenheiros se reuniram para criar o movimento de cidadãos “Lisboa Precisa” para “erguer a voz” e alertar para a descaracterização da cidade.

A ideia da criação do movimento partiu de dois antigos autarcas lisboetas – Carlos Marques e Fernando Nunes da Silva – porque “estava tudo calado e meio morto”.

“Há muita coisa errada na cidade de Lisboa e o caminho que está a seguir a cidade de Lisboa”, afirmou Carlos Marques à Lusa, considerando que se trata de “um caminho errado” que pode levar à descaracterização.

Por isso, decidiram tomar uma posição pública e surgiu a ideia de criar um movimento, embora pensassem que ficaria entre “o círculo de amigos e conhecidos”.

“Mas, pelos vistos, isto corresponde a uma ansiedade que existia de muita gente pensadora da cidade e, de repente, já temos 100 subscritores”, disse o antigo vice-presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.

O objetivo, explicou Carlos Marques, “para já, é alertar” e, sobretudo, dizer que a maior democracia de todas é a dos movimentos de cidadãos.

“Os cidadãos têm que erguer a voz, não basta eleger os órgãos (…) e depois ficar quatro anos sentado porque quem vai comandar são os grandes interesses econômicos, porque hoje Lisboa está a ser comandada pelos grandes interesses econômicos globais” que investem milhares de milhões de euros “para comprar tudo” e para “construir torres, transformar a cidade numa cidade descaracterizada que não seja a cidade antiga e, com isso, corre-se o risco de matar a galinha dos ovos de ouro do turismo”, salientou.

Até à realização das eleições legislativas marcadas para 06 de outubro, o movimento irá manter o ‘low-profile’ porque é “fundamental que não tenha nada a ver com os partidos”, apesar de ter pessoas “dos mais variados partidos e gente sem partido”.

“Nunca perguntei a ninguém que se inscreveu de onde vem e para onde vai. Sabemos o seguinte: é gente que está de acordo que é preciso erguer a voz, vamos erguer a voz”, reforçou Carlos Marques.

A partir de outubro, o movimento deverá começar a organizar debates temáticos sobre temas como o ambiente, o aeroporto, urbanismo, transportes e mobilidade.

Entre os subscritores do movimento estão, além de Carlos Marques e do antigo vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa Fernando Nunes da Silva, os deputados do BE Pedro Soares e Jorge Falcato, o politólogo André Freire e a historiadora Raquel Varela.

Para o final da manhã desta segunda-feira, o movimento agendou a sua primeira conferência de imprensa, no edifício da Assembleia Municipal de Lisboa, que acabou por se transformar numa espécie de debate informal, com cerca de três dezenas de subscritores do movimento a falar sobre problemas tão diversos como a falta de estacionamento, a construção da Torre das Picoas ou o projeto para o quarteirão da Portugália, na Avenida Almirante Reis.

“Enquanto isto passar despercebido, tudo continuará na mesma”, disse Fernando Nunes da Silva, considerando que muitos dos problemas são uma questão “de política pura e dura”.

No manifesto que acompanha a ‘ficha’ de subscrição é referido que “o anúncio do licenciamento de uma torre gigantesca, nos terrenos da antiga fábrica da Portugália, na Almirante Reis, completamente desenquadrada de toda a tipologia daquela avenida, uma das mais antigas de Lisboa, foi a ‘gota de água’” para os subscritores “levantarem a sua voz contra os demandos urbanísticos que têm vindo a ser perpetuados na cidade de Lisboa”.

No manifesto, os subscritores assumem-se ainda contra o licenciamento de “imponentes edifícios de serviços” da Praça de Espanha, contra o licenciamento do projeto de Entrecampos, “sem qualquer oferta de habitação a preços acessíveis, e contra “o monstro” edificado nas Picoas.

O documento sublinha que a capital perdeu nos últimos dez anos mais de 70 mil habitantes – 50 mil só entre 2011 e 2016 – e que o número de alojamentos locais/turísticos aumentou de três em 2009 para 44 mil em 2018, sendo Portugal “um dos países europeus com menor taxa de habitação pública”.

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