Livro: A história de um rico português no Brasil

Manuel Vicente da Anunciação foi um português que deixou grande herança aos seus descendentes num banco de Londres, a qual nunca foi resgatada. A briga na Justiça dura até os dias de hoje.

Por Vanessa Sene
Do Jornal Mundo Lusíada

Era uma vez um português que, fugindo para o Brasil, iniciou uma nova vida no país colônia e reuniu ao longo dos tempos uma grande herança. Antes de sua morte, o português depositou num banco londrino o equivalente a uma tonelada e meia de ouro e pedras preciosas, para ser resgatado pelos seus herdeiros. Mas o resgate nunca aconteceu, e até os dias de hoje o assunto é foco de uma briga judicial que se arrasta por mais de 30 anos.

Esta é a história de Manuel Vicente da Anunciação, que se transformou na obra “Capitão dos Índios”. O livro é escrito por Ana Lígia Lira, quem dedicou 10 anos de pesquisa para contar a história do seu próprio tetravô.

Brasileira, neta de uma índia xukurú com um português da região de Viseu, Ana Lígia é escritora e está lançando sua obra também em Portugal, pela editora Oficina do Livro. “Capitão dos Índios” já teve seus quase 2.500 exemplares esgotados no Brasil no período de um mês, e agora está à venda em Portugal desde segunda-feira, 03 de março. Lançado primeiramente como apoio cultural pela CEPE- Companhia Editora de Pernambuco, o livro teve uma boa aceitação já no seu lançamento durante a Bienal Internacional do Livro do Recife em 2007.

“Na verdade não imaginávamos que o livro fosse ser tão bem aceito quanto foi e tivesse potencial de mercado” diz a autora ao Mundo Lusíada. “Tenho contrato com a Oficina do livro (Portugal) e foi incrível a forma como eles entenderam a obra e as histórias de tantas vidas que ela traz. Para lançar o livro no Brasil preciso encontrar uma editora que entenda tudo isso, que entenda que o que tem ali é uma história real, algo que falo sobre vidas, sobre povos. Gostaria muito de relançar o livro aqui no Brasil”.

Em entrevista ao Mundo Lusíada, Ana Lígia diz que a briga judicial que se arrasta por mais de 30 anos é complicada, os descendentes só tiveram notícias da suposta fortuna quase 100 anos após o falecimento de Manuel. A questão está no Supremo Tribunal Federal e “é um dos casos mais longos da nossa justiça brasileira”. De acordo com a autora, os herdeiros do português no Brasil são, na maioria, pessoas “muito humildes do agreste e sertão pernambucano”. “Temos algumas pistas dos herdeiros dele em Portugal, mas não temos certeza de onde estão” afirma.

A saga de Manuel Vicente, após o livro baseado em história real, estaria sendo adaptada ao cinema no Brasil, de acordo com a editora. Para Ana Lígia, a dedicação de boa parte de sua vida para este relato valeu a pena. “A maioria das tribos indígenas possui uma cultura ágrafa, ou seja, não usam a escrita. No entanto os índios conhecem e preservam sua história muito melhor do quê qualquer homem branco. Através da oralidade, em torno das fogueiras de pai para filho, a tribo vai conhecendo seus heróis, seus mitos, suas batalhas. Parece incrível mas foram eles, sem ler nem escrever, sem papel nem tinta, que guardaram este que talvez seja o maior dos tesouros deixados por Manuel Vicente: sua história”.

Segundo Ana Lígia, muitos anos foram precisos para reunir documentos e informações na aldeia. Uma realização que a autora chama de reencontro. “Parece que a tribo xukurú e seus descendentes guardaram essa história durante tanto tempo porque sabiam que ela tinha de retornar ao ponto inicial, voltar para onde tudo começou: Portugal” disse, e deixou expectativa quanto a obra em Portugal. “Espero que os portugueses recebam com carinho este presente vindo das terras tupiniquins que está sendo guardado e preparado há quase 200 anos”.

Um aventureiro português

Na sinopse do livro, está a história de um aventureiro português que se tornou herói no Brasil colonial e ficou conhecido como capitão dos índios.

Para fugir à perseguição aos judeus no século XIX, Manuel Vicente da Anunciação partiu para o Brasil, viajando como clandestino num navio. Chegando no Recife, Manuel vende uma joia de família, o que permite a compra de um pedaço de terra para criação de gado e plantação de algodão, começando assim a sua fortuna.

Ele ajudava os refugiados que chegavam clandestinamente no Brasil. É assim que conhece Margarida, com quem casa e tem o filho Tomás. Em dado momento, decide com o amigo Joaquim enterrar parte da sua fortuna. A outra parte, uma incalculável fortuna em dinheiro e barras de ouro, deposita num banco londrino. Quando Manuel Vicente da Anunciação morre, começa uma história que perdurará até os dias atuais, correndo nos tribunais brasileiros e internacionais o processo de recuperação dos bens por parte dos descendentes.

2 Comments

  1. Também sou parente de Manuel d’anuciacao duas tias minha já faleceram e a herança nunca chega ficam jogando mas alguém tá esufluindo indevidamente enquanto os verdadeiros familiares os quais teriam direito ficam sonhando.

  2. Essa herança foi noticiada nos anos 50 pela voz do Brasil, onde o banco convocou os herdeiros para providenciar o inventário, porém na época a família não se pronunciou, já nos anos 80 foi travada a disputa entre os herdeiros e a posse do banco.

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