Governo aprova estudo da Fiocruz sobre vacina dupla contra Covid-19 e Influenza

Da Redação

A Comissão Técnica Nacional em Biossegurança (CTNBio), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) aprovou na última quinta-feira, em reunião extraordinária, estudo para uma nova vacina do novo coronavírus realizado pelo Centro de Pesquisa René Rachou – Fiocruz.

Para realização do estudo os cientistas irão manipular o vírus influenza com proteínas do vírus Sars-CoV2 para o desenvolvimento da vacina para dupla prevenção da gripe sazonal e Covid-19.

Em duas semanas, a comissão do Ministério já deliberou sobre dois estudos relacionados ao Covid-19, com a aprovação na semana passada da pesquisa LNBio/MCTIC para o desenvolvimento de novos medicamentos para tratamento da doença.

Outras deliberações ligadas a Covid-19 estão na pauta das próximas reuniões, com datas a serem definidas. A aprovação da CTNBio/MCTIC é necessária porque, de acordo com a Lei de Biossegurança, cabe à comissão, uma instância colegiada multidisciplinar componente do MCTIC, analisar os estudos com organismos geneticamente modificados (OGMs) no Brasil, sejam plantas, células humanas, animais ou micro-organismos.

“A CTNBio, no âmbito do MCTIC, reúne cientistas e especialistas com atuação reconhecida em diversas áreas do conhecimento relacionados a Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Sua finalidade é estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvem OGMs, além de assessorar o governo federal na formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança” segundo o governo.

No dia 8, o grupo de trabalho que reúne ministros de Ciência e Tecnologia de 15 países realizou uma teleconferência para trocar experiências sobre ações de combate ao Covid-19.

Os principais temas da reunião foram testes com tratamentos sorológicos e possíveis protocolos terapêuticos utilizados nos diversos países. A Rede Vírus MCTIC, grupo de especialistas criado pelo ministério para impulsionar a pesquisa no combate à doença, possui iniciativas em múltiplas frentes. O andamento e os resultados dessas iniciativas foram compartilhadas com o grupo de países.

O Brasil está focando em três tipos de ensaio clínicos – seis deles com hidroxicloroquina associada à azitromicina na prevenção e tratamento, em diferentes fases de testes; testes com soroneutralização, que é o uso de material sanguíneo de pacientes recuperados no tratamento de doentes; e o uso de inteligência artificial e métodos avançados para a seleção de medicamentos que podem inibir a propagação do vírus. De uma amostra de 2 mil medicamentos, dois foram selecionados para testes in vitro.

Pesquisa Vacina dupla

“A técnica consiste em usar o vírus da influenza como vetor vacinal. Como se trata de um vírus defectivo para a multiplicação, ele não causa a doença, mas gera produção de anticorpos. Com esse processo, uma das possibilidades é desenvolver uma vacina bivalente, que possa ser usada contra influenza e contra o coronavírus”, explica o pesquisador Ricardo Gazzinelli, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do INCTV.

A rede de estudo no INCT – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas, sediado em Belo Horizonte, é formada por laboratórios de diferentes instituições.

A pesquisa envolve diversas etapas. Para iniciar o estudo, os pesquisadores trabalharão na construção do vírus recombinante. O vírus da influenza será modificado dentro do laboratório para que ele possa transportar parte da proteína do novo coronavírus, que lhe dará capacidade de oferecer proteção contra a Covid-19.

“Terminada esta etapa de construção, serão feitos testes em células infectadas para avaliar se o vírus de fato está produzindo a proteína do Sars-CoV-2. Trata-se de um ‘teste de qualidade do vírus’. A partir daí, iniciam-se novos processos que envolvem testes em camundongos e, futuramente, ensaios clínicos”, explica o pesquisador Alexandre Machado, do Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fiocruz Minas, que está à frente do desenvolvimento desta técnica.

De acordo com Machado, o estudo conta com vários parceiros, que atuarão em diferentes fases da pesquisa. “Trata-se de um esforço coletivo envolvendo os vários membros da minha equipe: pós-doutorandos e alunos de pós-graduação, os quais estão na linha de frente deste projeto, e a colaboração com pesquisadores de diferentes instituições do Brasil, atuando conjuntamente e somando esforços para termos uma vacina nacional, que possa ser distribuída pelo Sistema Único de Saúde [SUS]”, destaca.

Gazzinelli ressalta que, embora as atividades já estejam em andamento, o desenvolvimento de uma vacina leva tempo. Em situações de calamidade pública, como a atual, em que as decisões relacionadas a financiamento são mais céleres, é possível chegar a resultados em torno de dois anos a três anos. “Este é um momento importante em que a ciência vem sendo chamada e nós estamos preparados para dar a nossa contribuição”, afirma.

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