Governante brasileira tentou promover tratamento ineficaz em Portugal

Da Redação com Lusa

A secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde brasileiro ofereceu ao Governo português a partilha da sua experiência no uso de medicamentos considerados ineficazes no tratamento da covid-19, noticiou o portal G1.

Com base em documentos obtidos pela Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) que investiga as ações e omissões do Governo brasileiro na pandemia, o G1 divulgou na noite de terça-feira informações sobre um e-mail enviado por Mayra Pinheiro, conhecida como ‘capitã cloroquina’, no qual se colocou à disposição para partilhar conhecimentos sobre o chamado ‘tratamento precoce’ com o Governo de Portugal, em janeiro passado.

“Diante das informações sobre o elevado número de casos e desfechos clínicos desfavoráveis da covid-19 em território português, e na qualidade de cidadã portuguesa e de Secretária Nacional do Ministério da Saúde [do Brasil], coloco-me à disposição para contribuir com compartilhamento da nossa experiência em atendimento precoce no combate à doença”, escreveu a médica.

A oferta da secretária da Saúde foi feita em 25 de janeiro para uma representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros português num e-mail intitulado: “Compartilhamento de experiências de enfrentamento à covid-19”.

‘Tratamento precoce’ ou ‘atendimento precoce’ é o nome dado ao uso de um conjunto de medicamentos sem comprovação científica ministrados contra a covid-19 no Brasil que são defendidos por integrantes do Governo brasileiro, incluindo o Presidente do país, Jair Bolsonaro, como a cloroquina e a ivermectina.

Em pronunciamento, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Mayra Pinheiro é investigada no Brasil por recomendar o uso destas substâncias sem eficácia comprovada contra o vírus SARS-Cov-2 e é suspeita de ter ignorado informações sobre a crise de oxigênio que levou dezenas de pacientes à morte em Manaus, capital do Amazonas.

Num depoimento à CPI da pandemia em maio passado, Mayra Pinheiro assegurou que “centenas” de estudos científicos atestam a eficácia da cloroquina para reduzir a virulência da covid-19 sem nomear estes trabalhos e defendeu que este e outros medicamentos foram ‘criminalizados’ por opiniões políticas dos cientistas.

A governante também argumentou no depoimento à CPI da pandemia que os estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras instituições globais sobre a cloroquina, que não comprovaram sua eficácia, “têm uma qualidade metodológica questionável” e, portanto, afirmou que as autoridades brasileiras não têm a “obrigação” de assumi-los como válidos.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar 544.180 vítimas mortais e mais de 19,4 milhões de casos confirmados de covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 4.119.920 mortos em todo o mundo, entre mais de 191,3 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil e Peru.

CPI Pandemia

Prorrogada na semana passada para mais três meses de trabalhos, a CPI da Pandemia chega ao recesso parlamentar após 33 depoimentos colhidos e informações referentes à quebra dos sigilos de 62 pessoas e empresas. Nas próximas duas semanas, a comissão parlamentar de inquérito deve fazer diligências internas, antes de retomar as audiências, em agosto.

O volume de informações reunidas pela CPI é recorde em investigações parlamentares do Senado Federal, e o material deverá ser analisado pelos senadores e suas assessorias no período do recesso para embasar os próximos passos, segundo a Agência Senado.

Além dos depoimentos e dos sigilos quebrados, a CPI tem contratos para compra de vacinas e insumos, atas e relatórios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Avisa), auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e perícias sobre documentos e mensagens.

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