Família imperial brasileira lamenta “abandono” e diz que tem acervo para ajudar na reconstrução do Museu Nacional

Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Mundo Lusíada
Com agencias

Em visita ao local do incêndio no dia 03, o príncipe Dom João de Orleans e Bragança esteve no Museu Nacional no Rio, local que já foi residência das famílias real portuguesa e brasileira, lamentou a perda. “O prédio pode ser reconstruído, esse acervo nunca mais vai ser ser reconstruído”.

O Príncipe Dom João Henrique de Orleans e Bragança – primogênito de Dom João Maria de Orleans e Bragança, e assim, trineto de Dom Pedro II, e bisneto da Princesa Isabel, declarou que tem peças de seu acervo que foram da família real e que podem ser emprestadas para uma possível reinauguração do Museu. “Tenho peças que pertenceram a Dom Pedro II, uma coleção de fotografias inéditas, gravuras. Pedro II gostava muito de arqueologia, são peças importantes e a pequena parte que me cabe quero emprestar ao museu”.

O incêndio que destruiu na noite de domingo o Museu Nacional – criado por D. João VI, e que funcionava na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, extinguiu um patrimônio histórico e multicultural acumulado ao longo de 200 anos: eram 20 milhões de itens de História, Arqueologia e documentos, entre outros.

Segundo o príncipe, o fato “é um símbolo do descaso das autoridades”, devido também à falta de água em hidrantes, na porta do museu, e de um laudo técnico que pudesse orientar os bombeiros no combate às chamas.

Em uma carta aberta intitulada “História reduzida a cinzas”, a Família Imperial Brasileira pede investigação das causas e punição dos responsáveis, mas destaca que é importante “jogar luz sobre o abandono e o desinteresse que põe claramente em iminente risco outros bens do povo brasileiro”.

“Os avisos foram muitos, nenhum governo pode se dizer desinformado e nem se pode tratar o incêndio de domingo como uma exceção. Na verdade, negligenciamos nosso imenso e rico patrimônio histórico, cultural e científico, como o fazemos com tantos outros aspectos da vida brasileira” declaram os Orleans e Bragança. “A dor é universal, mas a vergonha é nacional”.

Pesquisadores do Museu Nacional nutrem a esperança de que parte do acervo, justamente peças mais raras e valiosas, possa ter sido salva do fogo dentro de cofres e armários de aço especiais. Entre essas, está o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, com mais de 12 mil anos. Alguns departamentos guardavam peças mais valiosas dentro de cofres que podem ter resistido às altas temperaturas.

Também os esqueletos de dinossauros que estavam em exposição eram, em sua maioria, réplicas, segundo o pesquisador Helder de Paula Silva, um dos responsáveis pela coleção de paleontologia. Grande parte, com maior valor científico, ficava dentro de um armário de aço compactador, que é fechado e pode resistir a impactos e a altas temperaturas, desde que não sejam extremos.

Plano de recuperação

Os Ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC) anunciaram na segunda-feira a formação de um comitê executivo para a recuperação do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Inicialmente, serão destinados R$ 15 milhões, provenientes do MEC – sendo R$ 10 milhões para a segurança do local, reforço das estruturas e da contenção e resgate de parte do acervo; e outros R$ 5 milhões para a criação de um projeto executivo de restauração da entidade.

De acordo com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, o plano se divide em quatro etapas. A primeira parte é a proteção da estrutura física do museu e do acervo, onde estão sendo identificadas as obras e peças que ainda podem ser resgatadas. “O Ministério da Educação vai liberar essa semana R$ 10 milhões para a UFRJ, destinados à contratação de uma empresa para esse trabalho assim que a Polícia Federal terminar a perícia”, explicou o ministro.

A segunda etapa é a elaboração do projeto básico e do projeto executivo para a reconstrução do Museu e dos equipamentos necessários para a obra. Estão previstos R$ 5 milhões para essa fase, com a possível participação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Após a conclusão desses projetos, será realizada a obra de recuperação em si. “Para essa etapa, queremos contar tanto com recursos orçamentários quanto com recursos de patrocinadores, via Lei Rouanet”, pontua Sá Leitão. A última etapa seria a da reconstituição do acervo, com os itens recuperados após o incêndio e com o acervo do Horto do Museu Nacional, no Parque da Quinta da Boa Vista, local não atingido pelas chamas.

O presidente Michel Temer entrou em contato com bancos e empresas privadas, que já sinalizaram o interesse em patrocinar uma Rede de Apoio em prol do patrimônio.

No Brasil, há mais de 3.734 museus. Destes, 456 são museus federais. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) é diretamente responsável pela administração de 30 museus federais. No Rio de Janeiro, são de responsabilidade do Ibram o Museu Vila-Lobos, Museu Imperial e Museu Da República / Palácio Do Catete. Os demais museus federais têm vínculo com o Iphan, universidades federais e outros como Poder Judiciário.

Inquérito

Em nota pública divulgada também dia 3, o Ministério Público Federal (MPF) lamentou o incêndio do Museu Nacional e informou que já requisitou instauração de inquérito policial.

O objetivo é apurar as causas e as responsabilidades pelo dano causado ao imóvel e ao acervo. O documento é assinado pelo Grupo de Trabalho Patrimônio Cultural e pelo colegiado da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF (4CCR).

A procuradora-geral da República, que participa de evento da ONU no Rio de Janeiro, também lamentou o fato. “Amanhecemos de luto no Brasil pela grande perda para o patrimônio cultural brasileiro e mundial. Que essa tragédia desperte a urgência de preservar a memória”, disse Raquel Dodge.

Um vídeo publicado na internet mostra como ficou o interior do Museu Nacional depois do fogo:

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