Expedição à mineira

Por Bruno GouveiaDa Expedição Brasil-2008

 

Foto Bruno Gouveia

Conforme referido na passada semana, a nossa saída de São Paulo, que nos consumiu quase uma hora apenas para conseguir sair da gigantesca metrópole, levar-nos-ia para São João del Rei e Tiradentes. Um lapso na estrada, porventura pela designação às placas sinalizadoras, em cllara concentração ao muito congestionado tráfego , que também saía da cidade, levou-nos à decisão imediata de alterar, logo ali, o percurso.

A partir dali, a decisão de visitar primeiramente as cidades históricas de Minas Gerais, e no final, então, a passagem por Petrópolis, ficou invertida.Petrópolis, a designada cidade imperial, era a região que refugiava a realeza no período de Verão. Um fantástico palacete envolto num magnânime e gigantesco jardim, foi espaço de, com certeza, grandes momentos e festas da elite da época.

Toda a cidade, em torno da sua zona histórica, apresenta um manancial de construções belíssimas. Consta que a elite burguesa e a aspirante à classe, pretendia ter moradia em Petrópolis. Estar próximo da realeza seria um factor social deveras importante.

Consta também que, inconscientemente ou não, terá sido em Petrópolis que surgiu a primeira medida ecológica do país. a monarquia, criando regras de construção urbana em Petrópolis, conseguiu, com uma das medidas, evitar a proliferação de lixo junto ao rio. Se o habitual era construir as mansões com a frente para a rua, passou a existir a obrigação de as construir inversamente, isto relativamente ao rio que atravessa a cidade. Deste modo, as pessoas deixariam de atirar ao rio todo o lixo que produziam, atendendo a que desejavam evitar a decorrente conspurcação nos frontais das suas casas.

Outra das regras era conceder autorização apenas se a casa possuísse uma volumetria construtiva que não destoasse no tamanho com as demais existentes. Ou seja, Petrópolis apenas era acessível aos endinheirados.

Apesar de distar apenas 65 kms da cidade maravilhosa – Rio de Janeiro, Petrópolis é uma cidade pacata, onde a insegurança carioca, de todo, não se sente. Praticamente não tem policiamento nocturno.

Avançando para o Estado de Minas Gerais, rumo às cidades históricas de São João del Rei e Tiradentes, muito próximas entre si, chegámos à primeira. A dificuldade em encontrar alojamento que enquadrasse distintas variáveis definidas por nós como imprescindíveis, foi solucionada por um advogado, membro de um moto clube local, que se acercou de mim. Sua irmã possuía uma pousada que enquadrava o que pretendíamos.

Atendendo a que entre as duas cidades circula uma “Maria Fumaça” – designação carinhosamente atribuída aos primeiros comboios a vapor, optámos por ir a Tiradentes para conseguir o registo de imagens do citado trem, com boa luminosidade. Em boa hora o fizemos, porque esta cidade apresentou-se-nos muito mais atraente.Dotado de uma estrutura mais turística, Tiradentes recebia por aqueles dias uma feira gastronómica que dinamizava em muito a cidade.

A calçada antiga das ruas permanece intocável. As construções, sejam elas habitações ou casas comerciais, convivendo lado a lado, obrigam a um constante registo de imagens. Por Tiradentes ficámos até expirar o último raio de sol.

As cerca de duas dezenas de kms que a separam de São João del Rei foram percorridas com o breu da noite.

Na manhã seguinte, uma curta e rápida visita à cidade que nos acolheu. Algumas fotos e imagens vídeo e numa conversa com um morador idoso ouvimos de viva voz a opinião sobre a morte de Tancredo Neves – um ilustre de São João del Rei, que caso não falecesse na véspera da tomada de posse, em 1985, seria o primeiro presidente da República do Brasil após o período de ditadura militar. Assassinado, é o que pensam os moradores da cidade natal.

De São João del Rei dirigimo-nos para Ouro Preto, uma das mais importantes cidades da era colonial. Que delícia! Tudo limpo e magnificamente preservado. Atendendo à dimensão física de Ouro Preto, compreende-se perfeitamente ter sido aquela uma das mais prósperas regiões ao tempo do garimpo.

Na manhã seguinte, mais de 700 kms nos separavam fisicamente, e novamente, de São Paulo – cidade.

Às 5.45 horas foi o despertar. A pretensão era estar na estrada com os primeiros raios de sol, que até nem surgiram logo. A manhã surgiu escura e muito nublada.Um encontro casual ajudou a retardar a hora da partida. Ronny, também ele pernoitando na mesma pousada, possibilitou uns dedos de conversa e dicas de atenção ao trajecto, que faríamos no dia seguinte, entre São Paulo e Curitiba, a capital do Estado do Paraná.À gigantesca São Paulo, e ao hotel que já conhecíamos, chegámos com apenas um engano, precisamente na avenida do hotel. Deveríamos ter virado para um lado e fomos para outro. Apesar disso ficámos surpreendidos com a afinada capacidade d4e movimentação patenteada.

E no dia seguinte, quase 500 kms até Curitiba e que nos acontece perdermo-nos um do outro. O Pedro Silva saiu de uma gasolineira, enquanto eu arrumava o equipamento de registo de imagens. Disse-lhe que avançasse e que o apanharia em seguida. Voltando à estrada, fui num ritmo acima do que suponha levar o Pedro. O tempo passava e não o vislumbrava. Até aí sempre pensei que ele estivesse na frente. Daí ter elevado o velocímetro para uns agradáveis 150 kms/h e desenfreadamente ultrapassar veículos atrás de veículos, serpenteando curvas e contra-curvas num prazer impressionante.

Com dezenas de kms rodados, já não cria que o meu companheiro se encontrasse à frente. Decido parar à entrada de outra gasolineira, a 70 kms da primeira, esperando.

O contacto telefónico não funcionou, nem o envio de “sms”. Curiosamente, o telefone do Pedro, de uma operadora brasileira, não tem funcionado em todos as cidades pelas quais passámos. Contrariamente, o meu, de uma operadora portuguesa, não me tem deixado ficar mal. Porventura, acordos inexistentes entre as várias operadoras do Brasil.

Quando reconheço alguns veículos que minutos antes havia ultrapassado, decido continuar a etapa sozinho. Não me preocupei, nem comigo, nem com o Pedro, porque à saída de São Paulo decidimos qual o hotel a ficar em Curitiba.

No último semáforo, a 200 metros do hotel pretendido, enquanto aguardava a abertura do sinal, o Pedro, furando as filas de carros, pára junto a mim. E o que deverá ter acontecido foi eu tê-lo ultrapassado, enquanto um dos enormes camiões de mais de 30 rodados o encobria.

Um feliz reencontro, cujas histórias, antes e depois, podem ser acompanhadas em www.rotasdeaventura.blogspot.com.

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