Entrevista: A dedicação de uma vida

Mundo Lusíada

>> Angelita Habr Gama e Joaquim José Gama Rodrigues no seu consultório

Angelita Habr Gama e Joaquim José Gama Rodrigues, cirurgiões que lideram projeto do Intestino Gigante com apoio do Ministério da Cultura, são os homenageados da Casa de Portugal deste ano.

Por Vanessa Sene
Mundo Lusíada

O casal de cirurgiões Angelita Habr Gama e Joaquim José Gama Rodrigues foram os escolhidos para receber a homenagem deste ano durante o aniversário de fundação da Casa de Portugal de São Paulo. O evento, que acontece dia 23 de setembro, celebra 75 anos da entidade e sempre presta homenagem à personalidades luso-brasileiras em destaque.

Ele, especializado em estomago, é professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, livre-docente da Faculdade de Medicina da USP e professor do departamento de Gastroenterologia, já participou de mais de 630 conferências, simpósios e congressos científicos, dos muitos realizados no exterior. Ela, especializada em intestino, é professora titular de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Cirurgiã no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, responsável pela criação da disciplina de Coloproctologia da FMUSP, que antes era uma subespecialização.

Ambos receberam o Mundo Lusíada, no seu consultório localizado no bairro do Ibirapuera, em São Paulo, para falar um pouco do trabalho reconhecido, no Brasil e no exterior, na área da prevenção do Câncer de Intestino.

Um dos pilares deste trabalho é o projeto do Intestino Gigante, com 17 metros de cumprimento, promovido pela ABRAPECI (Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino). “Angelita e eu, nossos companheiros participantes da ABRAPECI, e do Instituto Angelita e Joaquim Gama para promoção do ensino na área da saúde, há muitos anos temos tido a preocupação de trabalhar com a prevenção do câncer de intestino” diz Dr. Joaquim Gama. Por isso, eles trabalham para informar a população como prevenir, e reduzir a ocorrência da doença.

O casal Gama também participa de pesquisas genéticas na área, com o Instituto suíço Ludwig, instalado em São Paulo. Abordando as doenças que são transmitidas do ponto de vista genético-hereditário, a Dra. Angelita afirmou que não está muito longe a possibilidade de fazer transformações para uma correta multiplicação nos genes. Segundo ela, será possível fazer mapas genéticos. “Vai ser uma definição do DNA. Enquanto isso, temos que trabalhar com o que existe”.

Eles realizam pesquisas há 15 anos na área, com tecidos de pessoas que passaram por cirurgias e autorizaram o arquivamento para estudo genético. “Para conseguirmos evitar um câncer, ainda estamos nos primórdios. Isso ainda vai levar cerca de 30 anos” diz Dr. Gama, citando os mais de 40 seguidores que cooperam com o casal.

Eles decidiram não ter filhos, e dedicaram-se completamente a profissão. Segundo a Dra. Angelita, “um casamento que deu certo”. Nesta vida de trabalho incansável, a última vez que o casal Gama tirou férias foi há 30 anos, em Portugal.

BAGAGEM
“Meu avô era brasileiro, nascido em Salvador, Bahia, e com dois anos retornou com os pais portugueses para viver em Portugal, onde ele cresceu e formou-se em Medicina, em Coimbra” conta Dr. Joaquim Gama. Seu avô acabou retornando ao Brasil, a pátria do coração, mas nunca esqueceu “tudo o que Portugal lhe ofereceu”. Instalado no Rio de Janeiro, o luso-brasileiro começou a trabalhar com o médico e sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz, e foi encarregado de sanear contra a febre amarela a região do Vale do Ribeira. Acabou radicando-se em Lorena, onde exerceu a medicina até seus 75 anos.

A origem portuguesa faz com que Dr. Gama tenha ligação “afetiva imensa” com o país de origem e seus antepassados. “Nas oportunidades de nos aproximarmos das atividades dos portugueses residentes no país ou seus descendentes, a convivência com os dois ambientes geográficos e pessoas nascidas em Portugal, há uma manifestação de carinho com a comunidade portuguesa muito expressiva. E receber uma homenagem da comunidade portuguesa em São Paulo para mim tem um significado muito especial” diz Dr. Gama.

Segundo o médico, várias foram as oportunidades de participar de congressos científicos em Portugal, principalmente pela atividade que desenvolve com o ensino médico, assim como diversos foram os convites para os portugueses estarem no Brasil. Já a doutora Angelita Habr Gama é descendente de libaneses, casada há 46 anos com Joaquim, foi pioneira na sua área e fundadora da ABRAPECI. Referência até no exterior, ela foi a primeira mulher residente em cirurgia geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em 1958; a primeira mulher a estagiar na especialidade no Saint Mark’s Hospital, da Inglaterra em 1961; a primeira professora titular em cirurgia do Departamento de Gastroenterologia (FMUSP).

“É um trabalho cotidiano, intenso, aulas, viagens pelo Brasil e exterior, publicação de livros, um trabalho que dedico muitas horas por dia, e claro, gerou a confiabilidade e o respeito natural para quem caminha numa direção só” falou Angelita ao Mundo Lusíada. “Consegui alcançar postos elevados dentro da carreira universitária e consegui credibilidade dentro da classe médica” diz a pioneira que abriu caminhos para muitas mulheres que hoje atuam na área. Ela também já atendeu celebridades e políticos, como Adriane Galisteu, Marta Suplicy e Tancredo Neves.

Para o evento da Casa de Portugal, Dra. Angelita não estará presente, pois irá palestrar numa universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. O Dr. Gama estará presente com a sobrinha, Dra. Juliana, em representação a esposa.

3 Comments

  1. gigantes da medicina Dra Angelita e Dr Gama, sou admiradora incansável, destes seres humanos encantadores, exemplo de vida praticamente quase impossível para um ser humano, penso neles todos dias desejando muita saúde, para prosseguir esse projeto maravilhoso, salvando vidas e mais vidas, com tanta responsabilidade, humildade e dedicação, não tenho palavras de agradecimento, so Deus, bjs ao casal vinte, muito lovavel a homenagem feito pela casa de Portugal.

  2. Caros senhores do Mundo Lusíada,

    Declaro logo antes de tudo meu fascínio por Portugal e em particular por Coimbra onde pretendo fazer meu Pósdoutorado.

    Grata surpresa encontrar uma entrevista com o filho de um médico tão importante.

    Neste momento preciso de dados para escrever um verbete sobre o médico Gama Rodrigues que atuou no Vale da Ribeira por volta dos anos de 1920.

    Sou pesquisadora científica do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e venho desenvolvendo pesquisas e publicações sobre memória da Saúde de São Paulo mais especificamente.

    Gostaria de obter contato dos entrevistados para compor o verbete que deixara marcada a passagem de Gama Rodrigues na politica de saúde de São Paulo.

    Atentamente,

    SilvIa Bastos

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