Em um mês, conflito na Ucrânia deslocou metade das crianças no país

Da Redação com agencias

Nesta quinta-feira, 24 de março, o conflito na Ucrânia completou um mês. Neste período, 4,3 milhões de crianças precisaram abandonar suas casas. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, este total representa metade dos menores de idade ucranianos.

A agência da ONU explica que 1,8 milhão de crianças cruzaram as fronteiras e estão refugiadas, enquanto 2,5 milhões vivem como deslocadas em outras áreas do país, divulgou a ONU News.

A diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, declarou que “a guerra tem causado um dos deslocamentos em larga escala mais rápido envolvendo crianças desde a Segunda Guerra Mundial”.

Russell lembra que “as consequências poderão perdurar por várias gerações” e destaca que “a violência terrível, sem pausas, está ameaçando a segurança, o bem-estar e o acesso a serviços essenciais.”

O Escritório da ONU para os Direitos Humanos confirmou pelo menos 78 crianças mortas e 105 feridas desde 24 de fevereiro e a entidade acredita que os números reais sejam bem maiores.

O Unicef já notou uma redução da cobertura de vacinas obrigatórias incluindo contra sarampo e poliomielite. A agência alerta para a possibilidade do surgimento de surtos, especialmente em áreas superpovoadas, onde as pessoas buscam abrigo da violência.

Com a ajuda de entidades parceiras, o Unicef atua na Ucrânia e em nações vizinhas na assistência humanitária. Dentro do país em conflito, já foi possível levar suprimentos para 49 hospitais em nove regiões, incluindo Kyiv, Kharkiv, Dnipro e Lviv.

Essa ajuda beneficiará 400 mil mães, recém-nascidos e crianças. O Unicef está distribuindo água e itens de higiene em comunidades sob cerco. Em zonas em conflito, 63 caminhões da agência conseguiram levar suprimentos a 2,2 milhões de pessoas.

A violência na Ucrânia tem atingido diretamente o sistema de saúde no país: a Organização Mundial da Saúde, OMS, contabilizou 64 ofensivas a centros de saúde ou hospitais, profissionais e ambulâncias. Foram pelo menos 15 mortes e um total de dois a três ataques por dia.

Segundo a agência, 7 milhões de ucranianos estão deslocados no país e o total de refugiados em outras nações está perto de 4 milhões. As condições das pessoas que sofrem de algum problema de saúde são ainda mais delicadas, sendo que um entre três deslocados internos tem algum tipo de doença crônica.

Antes da ofensiva da Rússia, pelo menos 50 mil ucranianos eram vacinados por dia contra a Covid-19, mas em todo o período que vai de 24 de fevereiro a 15 de março, o número caiu para menos da metade.

O representante da OMS na Ucrânia, Jarno Habicht, declarou que “ataques ao sistema de saúde são uma violação da lei humanitária internacional e lamentavelmente uma tática comum de guerra, destruindo infraestrutura crítica e pior ainda, acabando com a esperança.”

Logo no primeiro dia de conflito, a OMS acionou seus planos de contingência, mobilizou funcionários e passou a focar nas necessidades emergenciais. Com o Ministério da Saúde da Ucrânia, a agência identifica onde a ajuda é necessária e com isso, foram enviadas mais de 100 toneladas de material hospitalar.

36 toneladas de suprimentos seguem a caminho de Lviv, além de 108 toneladas que já estão prontas para serem despachadas, incluindo material para tratar de traumatismos e ferimentos, medicamentos contra doenças crônicas, remédios para crianças e material para transfusão de sangue.

Habitch, que também é médico, explica ainda que cada “kit para traumatismos” contêm material para tratar 150 feridos, sendo que com 10 kits, é “possível salvar 1,5 mil vidas”.

Nos últimos dias, foi possível também entregar máquinas de ventilação artificial para pulmões, roupa de proteção a químicos, equipamento para análises de sangue, oxigênio líquido e cilindros com criogênio.

Mais de 20 equipes médicas também foram enviadas para Ucrânia, Polônia e Moldávia, para fornecer treinamento e cuidados especializados para os serviços existentes, segundo a ONU News.

Resolução

No dia 24, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou, com uma esmagadora maioria de 140 votos, uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise humanitária na Ucrânia devido à guerra.

A resolução, apresentada pela França e pelo México e apoiada pela Ucrânia, obteve 140 votos a favor, cinco contra e 38 abstenções, dos 193 Estados-membros das Nações Unidas.

Votaram contra este texto a Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia, e entre os países que se abstiveram estão Angola, Moçambique, Guiné-Bissau ou China, segundo divulgou a agencia Lusa.

Portugal, Cabo Verde, Brasil e Timor-Leste votaram a favor e o voto da Guiné Equatorial não foi registrado, segundo o placar da votação apresentado na Assembleia-Geral.

A resolução lamenta as “terríveis consequências humanitárias” da agressão da Rússia, que diz ser “numa escala que a comunidade internacional não vê na Europa há décadas”. Lamenta os bombardeamentos, ataques aéreos da Rússia a cidades densamente povoadas, incluindo à cidade de Mariupol, e exige acesso irrestrito à ajuda humanitária.

Além da questão humanitária, a resolução aprovada na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, “exige” da Rússia um fim “imediato” da guerra na Ucrânia.

O embaixador da Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, classificou esta resolução como “outro ‘show’ político anti-russo, desta vez ambientado num contexto supostamente humanitário”.

Nebenzya alertou na quarta-feira que a adoção deste projeto de origem franco-mexicano “tornará uma solução para a situação na Ucrânia mais difícil”, uma vez que encorajará os negociadores ucranianos e irá “estimulá-los a manter a atual posição irrealista, que não está relacionada com a situação no terreno, nem com a necessidade de atacar as causas profundas” da ação militar da Rússia.

Além desta resolução de origem franco-mexicana, a Assembleia-Geral das Nações Unidas tinha ainda sob avaliação uma outra resolução humanitária proposta pela África de Sul, que, por sua vez, optava por deixar de fora qualquer responsabilização de Moscovo pela guerra, o que levou o projeto a ser duramente criticado por não identificar o agressor.

Nesse sentido, a resolução da África do Sul não reuniu sequer apoio suficiente para ir a votos, após apelos da Ucrânia para que isso não acontecesse.

O embaixador da Ucrânia junto da ONU, Sergiy Kyslytsya, afirmou que o texto da África do Sul “nunca foi produto de consultas com a Ucrânia, nem é produto de consultas inter-regionais”, ao contrário da resolução hoje aprovada.

“É tinta fresca na estrutura mofada e podre da Assembleia, onde a tinta não é realmente tinta, mas o sangue de crianças, mulheres e defensores ucranianos”, disse, exaltado, Sergiy Kyslytsya, sobre a resolução proposta pela África do Sul, frisando que esse projeto foi promovido pela própria Rússia.

Vários diplomatas comemoraram a aprovação da resolução franco-mexicana, como a norte-americana Linda Thomas-Greenfield, que salientou que “mais uma vez, o mundo permaneceu unido diante da invasão injustificada e não provocada da Ucrânia pelo Presidente russo, Vladimir Putin”.

“Juntos, pedimos a proteção de todos os civis que fogem do conflito e medidas para mitigar o aumento da insegurança alimentar causada por essa guerra sem sentido. E juntos, reafirmamos a Carta da ONU. (…) Como o Presidente [dos EUA, Joe] Biden afirmou claramente, Vladimir Putin não verá a vitória na Ucrânia. E vimos hoje que ele também não a tem aqui em Nova Iorque”, disse a embaixadora.

Questionada por jornalistas sobre o eventual impacto no terreno da aprovação desta resolução, Linda Thomas-Greenfield disse não ter dúvidas de que esta “encorajará o povo ucraniano” e levará mais ajuda humanitária a esses cidadãos.

A diplomata disse ainda não poder haver lugar para a neutralidade nesta causa, referindo-se às 38 abstenções que a resolução obteve.

A votação segue-se a uma derrota esmagadora da Rússia também no Conselho de Segurança da ONU, que na quarta-feira levou a votos uma resolução que reconhecia as crescentes necessidades humanitárias da Ucrânia – mas sem mencionar qualquer responsabilidade nessa guerra que deixou milhões de ucranianos sem comida, água e abrigo.

A 02 de março, por iniciativa da União Europeia, a Assembleia-Geral da ONU aprovou um primeiro texto condenando a Rússia por ter invadido a Ucrânia há um mês, em 24 de fevereiro.

A resolução foi descrita como “histórica”, por ter obtido 141 votos a favor, 35 abstenções e apenas cinco votos contra.

Contudo, vários diplomatas recordaram na ONU que nada foi feito pelo Kremlin desde então, frisando que os ataques a civis até aumentaram.

A guerra na Ucrânia causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou pelo menos 1.035 mortos e 1.650 feridos entre a população civil.

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