Dois detidos no percurso da manifestação do Chega contra a imigração “descontrolada”

Mundo Lusíada com Lusa

 

A manifestação contra a imigração convocada pelo Chega, que mobilizou milhares de pessoas em Lisboa, percorreu a Avenida Almirante Reis registando-se momentos de tensão, um deles com detenções, quando o desfile se aproximava de uma concentração pró-imigrantes.

O primeiro momento de tensão aconteceu junto à igreja dos Anjos, mais ou menos a meio da Avenida Almirante Reis, onde um grupo de cerca de 20 jovens com a cara tapada esperava pela passagem da manifestação.

A polícia presente no local imediatamente formou um cordão de segurança para impedir qualquer contacto entre os dois grupos.

Os jovens de cara tapada mantiveram-se em silêncio, à medida que a manifestação passava, enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem, insultos ou cantavam o hino nacional.

Posteriormente, entre os Anjos e o Intendente, dois jovens foram detidos pela polícia, constatou a Lusa no local.

Os dois jovens, um rapaz e uma mulher, estariam a gritar ‘25 de abril sempre, fascismo nunca mais’, quando uma pessoa da manifestação contra a imigração se dirigiu aos dois e os agrediu com um soco, foi possível apurar no local.

A Policia imobilizou os dois jovens, que foram detidos.

Na passagem pela zona do Intendente, um forte dispositivo policial impediu qualquer contacto entre os manifestantes e o grupo de cidadãos que estava no largo, com faixas pró-imigração.

A manifestação organizada pelo Chega terminou no Rossio após uma hora e meia, onde o líder do partido, André Ventura, discursou.

Durante todo o percurso, dezenas de voluntários e funcionários do Chega, com coletes amarelos, faziam uma caixa de segurança na frente e nas laterais da manifestação, que foi sempre acompanhada por muitos elementos PSP.

Ventura foi sempre na linha da frente da marcha, ladeado por deputados e dirigentes do partido. No início, um grupo que integrava o líder do movimento de extrema-direita 1143, Mário Machado, tentou colocar-se logo atrás do presidente do Chega, mas foi impedido pelos seguranças do partido, seguindo mais atrás.

“identidade nacional”

Para o presidente do Chega, a manifestação deste domingo contra o que o partido considera ser a “imigração descontrolada” foi o “tiro de partida” para um movimento de “reconquista da identidade nacional”.

André Ventura pediu a todos que gritassem o que “a Europa inteira tem de ouvir a partir de Lisboa”. “Aqui mandamos nós, aqui mandamos nós, aqui mandamos nós”, repetiu inúmeras vezes.

O líder do Chega admitiu que “uma manifestação não fará a transformação que Portugal precisa”, mas considerou que o protesto “é o tiro de partida”.

“O país costuma dizer que uma andorinha não faz a primavera, uma manifestação não faz a primavera. Mas é essa primavera lusitana, é essa primavera portuguesa que eu quero que vocês tenham no coração a partir de hoje: o maior movimento de sempre, de reconquista da alma nacional, de reconquista da nossa identidade e de reconquista desta bandeira”, disse.

Na audiência, ouviram-se gritos de “Reconquista, reconquista”, que é também o nome de um grupo ultranacionalista de extrema-direita.

Durante o comício e ao longo da manifestação, foram também audíveis os gritos de “Remigração é solução”, outro conceito utilizado pela extrema-direita para o retorno forçado de imigrantes aos países de origem.

No palco, Ventura não usou este termo, mas defendeu que não é ser radical defender que “quem comete crimes deve ser devolvido à sua terra”.

“A esses, sejam eles quem forem nós dizemos: deportação, deportação, deportação”, afirmou.

Num discurso de cerca de meia hora e sem qualquer referência a outros temas de atualidade, como o Orçamento do Estado, o líder do Chega agradeceu aos milhares de pessoas que se juntaram ao protesto do partido, aos voluntários que formaram cordões de à volta dos manifestantes e às forças de segurança, que garantiram que “o direito à manifestação fosse respeitado”.

“Uma grande parte do país queria que hoje não corresse bem. Mas correu”, considerou.

No seu discurso no Rossio, Ventura voltou ao exigir ao Governo “o controle das fronteiras” e a repetir que Portugal vai a caminho de “15% de população imigrante”.

“Um país sem fronteiras não é um país. É um terreno e uma bandalheira a céu aberto. A nossa luta é por este país e é para defender as fronteiras deste país”, disse.

O líder do Chega pediu que não se comparassem os emigrantes portugueses com os imigrantes que agora chegam ao país, defendendo que os primeiros “foram para trabalhar” e “nunca procuraram regras especiais”.

“O que está a acontecer em Portugal é um país que decidiu, em vez de promover a natalidade dos portugueses, permitir que aqui entrasse toda a gente sem qualquer controlo, sem regra e sem qualquer critério”, disse, rejeitando o rótulo de racista ou xenófobo.

Ventura disse receber queixas de pessoas de insegurança por todo o país e disse já não reconhecer um país onde “há tiroteios e facadas à luz do dia”.

“De repente, pouco a pouco, da habitação à saúde, passando pela nossa segurança, nós esquecemos o lema que devia estar no nosso coração sempre. É que Portugal tem que estar em primeiro lugar. E que os portugueses têm que estar em primeiro lugar.”, apontou.

No final, deixou um apelo aos que se juntaram no protesto do Chega: “Não tenham medo. Eles vão invadir-vos de medo nos próximos meses. Eles vão invadir-vos de medo nos próximos anos”, disse, sem explicitar a quem se referia.

“Mas as grandes transformações da história sempre aconteceram assim. Com um país que deixa de estar adormecido e passa a acordar”, afirmou.

O comício terminou por volta das 18:00 e foi o culminar de uma manifestação que tinha saído da Alameda perto da 16:00, com milhares de pessoas a percorrerem cerca de 2,7 quilômetros entre os dois pontos em hora e meia.

 

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