Dois anos de Presidência honrando os portugueses no Brasil

Eulália MorenoDo Rio de Janeiro, para Mundo Lusíada

Lucélia Fernandes

APERITIVO >> Para a comunidade, foi servido alguns “comes e bebes” no Palácio São Clemente.

O domingo (09/03) amanheceu radioso e quente. Enquanto Cavaco e Silva inaugurava na Biblioteca Nacional a exposição “Lisboa e Rio- Paradigmas de Cidades Atlânticas”, a entrada do Palácio de São Clemente, em Botafogo, antiga sede da Embaixada de Portugal, já fervilhava. Desde as 9h00 uma fila começou a formar-se: “Não adianta insistir, os portões só vão ser abertos a partir das 11h30”, gritava o segurança à porta. Às 11h00 mais de 500 pessoas, em pé, aguardavam o momento em que os portões se abririam. Nas mãos o convite, em nome do “Presidente da República Portuguesa e Senhora DE Cavaco Silva” (por erro de impressão ou algum modismo), para a recepção em honra das Comunidades Portuguesas e Luso-brasileiras. “Vamos ter almoço ou vai ser um lanchezinho?” perguntava um senhor emigrante no Brasil há 56 anos. “Há de ser o que calhar”, respondia a filha na sua indumentária de plumas e paetês (exagerando no traje recomendado que era apenas e tão somente… “passeio completo”).

Finalmente às 11h40 abriram-se os portões e os salões do Palácio começaram a receber os convidados do presidente e da primeira-dama de Portugal. À porta, Ângelo Horto, primeiro nome da lista de candidatos ao Conselho das Comunidades Portuguesa (CCP) pelo Rio de Janeiro recebia a todos com um grande sorriso, tapinhas nas costas e vênias.

Não possuindo nenhum sistema de refrigeração, à medida em que os minutos passavam e os salões se enchiam, as portas e janelas abertas mostraram-se insuficientes para arejar o ambiente e as pessoas. As senhoras prevenidas trouxeram leques, os homens transpiravam dentro dos seus ternos escuros.

E o presidente e sua comitiva nunca mais chegavam. Às 12h45 ainda circulavam apenas copos d´água e os convivas começaram a imaginar onde seria o tal almoço para as 4 mil pessoas que as agências noticiosas haviam divulgado.

Finalmente às 13h15 os batedores anunciaram a aproximação dos anfitriões e Cavaco e Silva foi recebido pelos representantes das várias casas regionais do Rio de Janeiro e Associações luso-brasileiras. Muito aplaudido posou para fotos com todos os que o paravam enquanto se encaminhava para o espaço destinado de onde faria a sua saudação às, aproximadamente, duas mil pessoas presentes.

Devido ao adiantado da hora para o “almoço” e as reclamações dos presentes, o acesso a uma enorme mesa com tábuas de frios e queijos foi liberada deixando livre todo o espaço à frente de Cavaco e Silva facilitando assim o trabalho da imprensa. Acompanhado pelo embaixador Francisco Seixas da Costa e pelo secretario de Estado das Comunidades, Antonio Braga, o presidente fêz o seu breve discurso de saudação assinalando estar ali com a comunidade portuguesa e luso-brasileira comemorando o segundo ano da sua Presidência. “Tal como já tinha acontecido quando completei um ano, em que estive com a comunidade portuguesa de Luxemburgo, agora vou celebrar esta data com a notável comunidade portuguesa e luso-brasileira desta cidade e quero fazer um agradecimento especial pelo orgulho que me dão quando ouço, do presidente Lula e dos ministros, os mais rasgados elogios”.

Aplausos, muitos aplausos. Alguns que já tinham estado com Cavaco e Silva há dois anos durante a campanha eleitoral, estranhavam a “poupança” nos salgadinhos, o excesso de água e refrigerantes, os poucos copos de vinho servidos de forma discreta pelos garçons do Buffet Izidro. “A seguir teremos o almoço ou não?”. E os que se aperceberam que os “comes e bebes” ficariam mesmo por aquilo mesmo, começaram a deixar o Palácio São Clemente. Tal e qual os jornalistas na noite anterior, a ordem foi debandar e procurar uma churrascaria ou um “restaurante a quilo”.

Às 16h45 o presidente Cavaco e Silva e a sua comitiva abandonaram o local, já quase vazio, encerrando assim a última etapa desta sua viagem ao Brasil.

Para a sua memória e no que diz respeito à nossa Comunidade, apenas os discursos circunstanciais, as almoçaras e jantaradas e os trajes e estandartes puídos do nosso folclore. Nenhum grupo de teatro, nenhum grupo musical. A visita presidencial que começou com uma Teresa Salgueiro, descaracterizada, cantando música popular brasileira não assistiu, por exemplo, a nenhum evento cultural promovido por alguma das nossas Associações. Tampouco se ouviram guitarras ou fados. Ficamos assim, envelhecendo num respeitoso silêncio. Até sempre, presidente Cavaco e Silva.

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