Desfile da Liberdade juntou no Porto centenas de pessoas

Da Redação
Com Lusa

Centenas de pessoas percorreram hoje várias ruas do Porto, no “Desfile da liberdade”, saindo da Avenida Rodrigues de Freitas, junto ao antigo quartel da PIDE, rumo à Avenida dos Aliados, gritando “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”.

A democracia em Portugal, cumpridos 47 anos da Revolução dos Cravos, terá de vencer vários perigos e cabe às escolas e aos partidos esse papel, disse à Lusa o coronel João Ambrósio, da Associação 25 de abril.

Aspirante da Academia Militar em 25 de abril de 1974, então com 21 anos e um “orgulhoso membro da retaguarda” dos militares que encetaram a revolução, João Ambrósio relatou à Lusa as suas impressões e apontou os caminhos a seguir.

“Como vou dizer na alocução da associação [no final do desfile] existem hoje perigos que a nossa democracia terá de vencer, em que teremos todos de nos unirmos para suprir esses perigos. Dá a impressão de que isto é cíclico, por isso temos de estar atentos e vigilantes”, alertou.

A solução, prosseguiu, passa por “os partidos serem mais abertos ao povo” e criarem-se “melhores condições de vida e mais cultura, muita cultura”.

Ponto fulcral deste caminho ainda por fazer, segundo o antigo militar, é a capacidade de atrair “os jovens para a política”.

“Os jovens hoje sofrem muito com a precariedade no mercado de trabalho, têm dificuldade em arranjar emprego, mas isso não pode ser o motivo para que desistam ou se alheiem da política e da democracia”, vincou João Ambrósio, sensível ao facto de as gerações mais recentes desconhecerem o que é viver sob uma ditadura.

Exemplo disso, contou, verificou-se quando ia aos liceus “falar sobre democracia e o 25 de abril”, em que experimentava uma “grande dificuldade em transmitir como as pessoas viveram” no tempo do Estado Novo.

Por isso, reiterou, porque os jovens “não viveram no tempo do fascismo e nunca souberam o que era isso, é preciso ter um discurso e uma pedagogia que os traga para a vida política”.

“As escolas são muito importantes para que os jovens tenham uma educação cívica e o sentido da liberdade e da democracia. (…) E depois os partidos (…) têm de dar um pouquinho de voz aos jovens”, vincou.

Sem dar por isso, o pequeno Paulo contrariou em quase todos os sentidos os temores levantados pelo coronel, saindo à rua trajado à “tropa”, como explicou à Lusa a prima Jéssica Monteiro.

“Eu disse-lhe que no dia de hoje, há muitos anos, os tropas vieram para a rua por causa das pessoas e ele respondeu, então quero ir para o meio das pessoas vestido à tropa”, contou a familiar entre fotos à criança em pose de continência.

Questionado se estava ali para participar no desfile, a jovem refutou, explicando querer apenas mostrar à criança “porque estavam as pessoas a festejar”.

Concluída a conversa, permaneceram mais uns minutos no local, já que o traje militar depressa suscitou a atenção dos presentes que, de telemóvel em punho, quiseram, também, registrar o momento.

Antes do desfile, membros do núcleo do Porto da União de Resistência Antifascista fizeram uma intervenção, lembrando aqueles que no edifício atrás sofreram por serem contrários ao regime, seguindo-se a deposição de uma coroa de cravos vermelhos à porta do antigo quartel de PIDE.

As várias centenas de pessoas, entre eles jovens, prosseguiram depois, com tantas máscaras na cara quantos cravos na lapela, rumo à Avenida dos Aliados, onde foram ouvidos os discursos de encerramento, num trajeto que decorreu tal como o previsto pela organização.

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