Covid-19: Cloroquina não previne infecção, mas pode diminuir replicação do vírus em doentes

Da Redação
Com Lusa

O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) declarou que a cloroquina não previne infeções pelo novo coronavírus, mas admitiu que pode ajudar a conter o vírus em doentes com covid-19.

“O nosso conselho é que as pessoas não utilizem a cloroquina profilaticamente porque não vai funcionar. A cloroquina só vai começar a funcionar a partir do momento em que a pessoa estiver infetada e vai ajudar a diminuir a replicação do vírus ao nível do pulmão”, disse Filomeno Fortes.

Em entrevista à agência Lusa, o médico angolano disse ainda que não há qualquer vantagem em começar a tomar este medicamento antimalárico sem prescrição médica e de forma preventiva, e que o mesmo se aplica à hidroxicloroquina, uma droga similar, usada no tratamento de doenças como a artrite reumatoide, o lúpus ou algumas doenças hepáticas.

Filomeno Fortes, que como médico usou cloroquina durante décadas para tratamento da malária, explicou que o medicamento “tem efeitos anti-inflamatórios e analgésicos e ajuda a estabilizar as células do pulmão e isto contribui para a inibição da multiplicação do vírus”, disse.

“Verificou-se que cerca de 57% dos doentes infetados reagiram positivamente com a administração da hidroxicloroquina, mas esta reação mostrou-se mais favorável quando associada a um antibiótico, sendo que o que se tem associado mais é a azitromicina”, disse.

O uso de cloroquina ou da hidroxicloroquina no tratamento de infeções pelo novo coronavírus foi recomendada pelos presidentes norte-americano, Donald Trump, e brasileiro, Jair Bolsonaro, mas o uso do fármaco para esse fim ainda não foi aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

As recomendações, associadas a vídeos virais nas redes sociais a promover a substância, estão a provocar um aumento de procura em vários países, mesmo sem prescrição médica, – sendo que na Nigéria já foram reportados casos de sobredosagem e nos Estados Unidos um homem morreu após a ingestão de cloroquina.

Países como a República Democrática do Congo, a Nigéria ou o Brasil anunciaram que vão adotar a cloroquina para tratar doentes de covid-19 e na Guiné-Bissau o medicamento esgotou mesmo antes de serem registados os primeiros casos da doença e em Moçambique a procura também aumentou.

De acordo com Filomeno Fortes, em Portugal é também já “muito difícil” encontrar o medicamento à base de hidroxicloroquina.

“Está praticamente esgotado nas farmácias”, disse, apelando para que as pessoas não façam automedicação.

Filomeno Fortes ressalvou que, apesar da combinação terapêutica estar adotada na Europa e nos Estados Unidos para outros fins, o seu uso no tratamento de doentes de covid-19 continua a levantar dúvidas à OMS por não haver “evidência suficiente em número de casos em comparação com outros esquemas terapêuticos”.

Ainda assim, Filomeno Fortes lembrou que, em situações de crise e epidemias anteriores, outros medicamentos foram utilizados antes da aprovação final da OMS, apontando como exemplo um antirretroviral usado no tratamento do Ébola.

O diretor do IHMT alertou ainda que a cloroquina tem efeitos secundários importantes, incluindo hipotensão, alterações cardíacas ou convulsões e que, em caso de sobredosagem ou administração incorreta, pode levar à morte dos doentes.

“É preciso ter algum cuidado na utilização da cloroquina”, disse, adiantando que, no contexto da pandemia da covid-19, a opção por este tratamento implica sempre “uma decisão política, técnica e de humanismo”.

Angola e Cabo Verde registam, cada um, três casos da covid-19 nos seus territórios, tendo ocorrido uma morte pela doença em Cabo Verde.

Moçambique confirmou cinco casos de infeção e a Guiné-Bissau dois.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou perto de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 20 mil.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Globalmente, o continente africano contabiliza mais 2.700 casos e 72 mortes.

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