Coronavírus chega ao maior campo de refugiados do mundo

Da Redação

Agências humanitárias da ONU confirmaram o primeiro caso de Covid-19 no maior assentamento de refugiados do mundo, Kutapalong, em Bangladesh, que acolhe 860 mil pessoas da minoria rohingya que fugiram da violência em Mianmar, o país vizinho.

Uma pessoa da comunidade de acolhimento também testou positivo. Os dois pacientes estão isolados, sendo tratados, e todos os seus contatos estão sendo rastreados, testados e colocados em isolamento.

Segundo a Coordenadora de Gestão e Desenvolvimento de Campo da Organização Internacional para Migrações, OIM, Kerry Mcbroom, existem três grandes desafios.

“Em primeiro lugar, recursos e infraestruturas limitadas. Antes da crise, os parceiros de saúde tinham recursos limitados e agora a capacidade de isolar e tratar pessoas que podem ter sintomas é ainda mais baixa” defendeu.

“Em segundo lugar, há um problema de compreensão sobre a doença e como ela funciona no campo. Este mal-entendido pode resultar em pânico ou problemas para as nossas equipes e, ao mesmo tempo, reduzir o nosso acesso ao campo. Finalmente, há um estigma por volta da Covid-19. A estigmatização dos trabalhadores da saúde e voluntários na linha da frente também tem riscos.”

Trabalho
Até o momento, 108 refugiados foram testados. Em assentamentos com excesso de população, e poucos recursos de saúde e saneamento, esta população está entre os grupos de maior risco em todo o mundo.

Em parceria com a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, 250 refugiados foram treinados para atuar como parte do Sistema de Alerta e Resposta a Alerta Precoce. Mais de 3 mil voluntários refugiados receberam formação sobre o vírus.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, está preparando um centro de tratamento e isolamento de infecções com 210 canas. As primeiras 90 camas estarão prontas até 22 de maio e as restantes até 30 de maio.

Kerry Mcbroom falou sobre o trabalho que continua sendo feito.

“Neste momento, a OIM reforça as equipes de saúde e água e saneamento. Em saúde, melhoramos a capacidade de isolar e tratar as pessoas com sintomas. Ao mesmo tempo, compramos equipamentos essenciais como estações de lavagem de mãos, equipamento de proteção e água e sabão. Por outro lado, a nossa equipe de água e saneamento faz tudo para garantir uma distribuição contínua de sabão, água e mensagens sobre higiene. Em cima disso, fazemos tudo para sensibilizar e falar com a comunidade.”

Esse trabalho está sendo feito com programas de rádio, linhas de telefone de apoio e campanhas de comunicação. Ao mesmo tempo, a funcionária da OIM diz que estão sendo feito esforços “para evitar rumores que podem espalhar o pânico no campo.”

Futuro
A OIM coopera com o governo, outras agências da ONU e parceiros humanitários nesses esforços. Kerry Mcbroom explicou quais serão as prioridades nas próximas semanas.

“No futuro, continuamos com as atividades para salvar vidas e adaptamos às necessidades dos refugiados. Ao mesmo tempo, vamos trabalhar com a comunidade no campo na disseminação de mensagens e informação. Mas o mais importante é a coordenação e cooperação dentro da comunidade humanitária. Estamos numa crise global sem precedentes que exige uma resposta coordenada para salvar vidas.”

Segundo o Programa Mundial de Alimentos, PMA, a Covid-19 ameaça reverter os ganhos de desenvolvimento obtidos por Bangladesh nas últimas cinco décadas.

Antes da crise, cerca de 40 milhões de pessoas já vivem na pobreza, e agora os números devem aumentar. Segundo o PMA, “o vírus pode ser mortal, mas a fome é igualmente mortal.”

Nesta semana, a ONU também mostrou preocupação com os assentamentos informais, favelas e comunidades em cidades como Rio de Janeiro, Mumbai e Johannesburgo, segundo alerta da diretora-executiva do ONU-Habitat, a agência das Nações Unidas para Assentamentos Humanos.

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