Cientista brasileira defende necessidade de aproximar resultados científicos do público

Por Igor Lopes

A cientista brasileira Jackeline Alecrim defendeu ser necessário “mudar as expectativas em relação à prática científica no Brasil” durante palestra na Universidade de São Paulo (USP), entre os dias 27 e 29 de junho, no âmbito do evento “A Química do Futuro”, parte integrante do curso de extensão do Centro de Estudos em Química (CENEQUI) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto e em comemoração ao Dia do Químico.

Esta pesquisadora, que é também especialista em Cosmetologia Avançada e Produtos Naturais de Plantas e Derivados, abordou o tema “Empreendedorismo na Ciência”, no qual lamentou que os resultados das pesquisas científicas, que auxiliam no desenvolvimento de produtos, muitas vezes não são convertidos em produtos e disponibilizados no mercado.

“De uma forma generalizada, vejo que os frutos científicos ficam condicionados à produção de um artigo científico, à uma tese e o pesquisador fica sem referências para saber como vai transformar a sua constatação em algo prático, num produto ou serviço. As inovações podem estar em coisas simples que podem ser melhoradas no dia a dia, na prestação de um serviço ou no desenvolvimento ou aprimoramento de um produto. Quando um pesquisador desenvolve algo, é possível que o fruto desse trabalho chegue à comunidade”, comentou Jackeline Alecrim.

Esta empreendedora é conhecida no campo científico do Brasil justamente por ter levado essa ideia adiante. Em 2017, Jackeline Alecrim começou a comercializar um produto dermocosmético que promete auxiliar no tratamento de problemas capilares. O produto ganhou repercussão significativa no campo científico nacional por ser fruto de uma tecnologia desenvolvida a partir do extrato biotecnológico do café e que, após ser testado com 100% de eficácia nos resultados, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Brasil.

“Estudei o extrato do café por longos anos e consegui identificar as substâncias presentes, benéficas para o ciclo de crescimento capilar e para a fisiologia do couro cabeludo. Identificando essas substâncias, as isolei e, em seguida, passei mais quatro anos tentando encontrar a concentração ideal das substâncias benéficas presentes no extrato. Todo esse estudo deu origem a uma biotecnologia patenteada para tratar a queda de cabelo, a calvície e outros distúrbios na região do couro cabeludo”, explicou essa profissional, que é ainda CEO e fundadora da empresa brasileira Magicscience.

Terceirizar a produção e resguardar princípios éticos

Jackeline Alecrim revelou que conseguiu disponibilizar o produto no mercado apenas depois de terceirizar a sua produção, evitando assim gastos avultados com o processo industrial.

“Existem hoje no mercado empresas terceirizadas que se dedicam a tratar da produção de cosméticos e de outros produtos. O pesquisador desenvolve um produto e uma empresa terceirizada trata de transformá-lo em produto final, com embalagem, rótulo e dentro das normas especificadas pelas legislação brasileira. A distribuição é feita pela minha empresa”, contou Jackeline Alecrim, que sublinhou ser fundamental “aproximar a ciência do mercado no sentido de frutificar os feitos científicos e transformá-los em produtos e serviços que possam beneficiar um grande número de pessoas, resguardando sempre os princípios éticos e legais envolvidos nesse processo”.

“O pesquisador no Brasil, de forma genérica, tem um grande potencial desperdiçado. Existe uma angústia desses estudiosos que acumulam um grande conhecimento, mas que não encontram formas de materializar o seu conhecimento em produtos ou serviços. A ciência deve se aproximar da comunidade em forma de feitos, conhecimentos. Deve ser acessível para não elitizarmos essas informações. Sou idealista nesse sentido. É indiscutível que a pesquisa académica é fundamental”, finalizou Jackeline Alecrim.

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