Chuvas de fim de temporada alagam zonas e isolam aldeias em Portugal

Três povoações isoladas, 37 estradas submersas e oito cortadas em Santarém.

 

Um bar que ficou submerso com a subida das margens do rio Douro, na Régua, 01 de Abril. Os níveis do caudal do rio Douro deverão “normalizar” nas próximas 48 a 72 horas, mas as autoridades mantêm-se “atentas” devido à previsão de mais chuva e aos débitos ainda acima do normal das barragens. NUNO ANDRE FERREIRA/LUSA
Um bar que ficou submerso com a subida das margens do rio Douro, na Régua, 01 de Abril. Os níveis do caudal do rio Douro deverão “normalizar” nas próximas 48 a 72 horas, mas as autoridades mantêm-se “atentas” devido à previsão de mais chuva e aos débitos ainda acima do normal das barragens. NUNO ANDRE FERREIRA/LUSA

Mundo Lusíada
Com agencias

As chuvas que caíram em Portugal durante o feriado da Páscoa (estendido à segunda-feira em diversas regiões do país) alagaram cidades e a área rural do distrito de Santarém, na região do Ribatejo, a nordeste de Lisboa.

Segundo a Agência Nacional de Proteção Civil (ANPC), as águas que caíram desde o final do inverno, até o princípio da primavera no hemisfério norte elevaram em sete metros o nível dos rios Zêzere e Tejo.

O tráfego de veículos ficou lento em mais de 20 estradas vicinais. No início de abril, três aldeias ficaram isoladas em Santarém, por causa das enchentes e o abastecimento e transporte de emergência estão sendo feitos por bombeiros e pela ANPC.

O Ministério da Agricultura ainda não calculou o prejuízo que as chuvas causaram para a lavoura (culturas como tomate, batata, milho e tabaco), mas a avaliação prévia é de que as águas tenham desperdiçado o preparo do solo e adiem por três semanas o plantio. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, cerca de 80% dos produtos alimentares consumidos em Portugal são cultivados e extraídos no próprio país.

Em Portugal continental, sete distritos estiveram em alerta amarelo, o segundo menos grave de uma escala de quatro, Castelo Branco, Évora, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém e Setúbal estão em “situação meteorológica potencialmente perigosa”.

As ilhas do arquipélago da Madeira também estiveram sob aviso amarelo, devido a agitação marítima e a vento forte.

Caso de Santarém

O distrito de Santarém continuava, em 03 de abril, a ser o mais atingido pelas chuvas, com três povoações isoladas, 37 estradas, um parque de campismo e um parque de estacionamento submersos e oito estradas cortadas devido a inundação.

Segundo a ANPC, os municípios de Constância, Vila Nova da Barquinha, Golegã, Chamusca, Alpiarça, Santarém, Torres Novas, Cartaxo, Benavente, Coruche e Almeirim são os mais fustigados no distrito.

A povoação de Reguengo do Alviela, Caneiras, e a povoação de Palhota, no Cartaxo, estiveram isoladas por se encontrar submersa a única estrada de acesso.

No distrito de Viseu a povoação de Valonguinho, na freguesia de Barrô, continuava isolada devido ao desabamento de parte da estrada municipal.

Ponta Delgada

O mau tempo afetou também os Açores, e tem originado a queda e morte de aves marinhas, entre as quais cagarros e gaivotas.

“As intempéries dos últimos dias no arquipélago, tendo em conta a sua intensidade e regularidade, têm provocado danos materiais, mas também ao nível da própria natureza. Um desses casos tem a ver com as aves marinhas das ilhas dos Açores que têm estado a cair em números extraordinários em relação a outros anos”, afirmou o diretor regional dos Assuntos do Mar, Frederico Cardigos, em declarações à Lusa.

Com a chegada da primavera, algumas aves migratórias regressam às falésias e ilhéus do arquipélago para iniciarem um novo ciclo reprodutor, mas devido ao “inverno rigoroso, algumas acabam por cair em terra” por “dificuldades de alimentação e por estarem permanentemente sujeitas a temperaturas baixas, a ventos fortes, a precipitação”.

No Faial foram encontrados, na última semana, mais de uma dezena de aves marinhas mortas, principalmente na baía de Porto Pim, na Horta. Já em São Miguel, foram recolhidos 11 cagarros adultos com vida que foram libertados junto à costa.

Vindimas

Os produtores de vinho de Alenquer, concelho com maior área de vinha da região vitivinícola de Lisboa, temem perder a produção deste ano, se continuar a chover, de acordo com uma associação local.

João Carreira, vice-presidente da cooperativa Coopquer, que dá apoio aos viticultores do concelho, explicou à agência Lusa que, devido ao excesso de água nos solos, os produtores “não conseguem entrar nas vinhas para fazer tratamentos, o que aliado à forte umidade cria condições propícias para a propagação de doenças nas videiras”.

“Podemos vir a ter uma vindima perdida”, sublinhou. A vinha ocupa 50 a 60% da área agrícola do concelho, seguida da cultura dos cereais (30%).

Em relação aos produtos hortícolas, os agricultores temem não poder vir a plantar tomate se continuar a chover nos próximos 15 dias.

Além da produção estar atrasada, João Carreia adiantou que existem compromissos financeiros assumidos, com encomendas de plantas e de adubos, que poderão vir a trazer prejuízos aos agricultores, mesmo que as culturas não sejam feitas, a acrescer à subida vertiginosa dos preços no mercado, com a importação de produtos.

Em Alenquer, as várzeas localizadas entre as vilas de Alenquer e do Carregado, onde se cultiva tomate, estão inundadas, em consequências das chuvas e do elevado caudal do Rio Alenquer, um dos afluentes do Rio Tejo.

O presidente da câmara, Jorge Riso, adiantou que o município teve de intervir em dois casos de derrocadas em habitações que corriam o risco de cair para a via pública, porque “os proprietários não fazem nada”. A estrada municipal que liga as localidades da Pipa a Santana da Carnota está interrompida e o trânsito circula de forma alternada num único sentido, devido ao aluamento de terras.

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