Brasileiros ajudam a suprir a falta de salva-vidas em Portugal

Da Redação com Lusa

A falta de Salva-vidas portugueses para a vigilância das praias é uma dificuldade de “há muitos anos”, a nível nacional, que tem vindo a ser colmatada com a contratação de estrangeiros, principalmente brasileiros.

Segundo o presidente da Federação Portuguesa de Concessionários de Praia, João Carreira, este ano já estavam a chegar salva-vidas – ou nadadores-salvadores – do Brasil e acrescentou, sobre o preenchimento de vagas, que este verão “as coisas vão correr bem, como aconteceu nos anos passados”.

O presidente da Associação de Nadadores-Salvadores da Costa da Caparica – Caparica Mar (concelho de Almada, distrito de Setúbal), Luís Vitorino, sublinha que a contratação de brasileiros se deve ao fato de as épocas balneares dos dois países se desencontrarem e à possibilidade de conciliá-las.

Lucas Leandro, salva-vidas do estado de Santa Catarina, refere-se à formação portuguesa para praticar a atividade como “bastante mais fácil” e diz que é com essa segurança de obter o certificado pelo Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) que muitos salva-vidas do Brasil vão a Portugal – “não tem prova de corrida nem prova no mar” e o curso tem uma componente “mais teórica”.

No caso de Lucas, no fim da primeira época balnear em Portugal, foi trabalhar como estafeta, porque foi viver permanentemente no país com a mulher e precisava de emprego no inverno. Este ano concorreu para as praias de Cascais (distrito de Lisboa) e conseguiu emprego para o ano inteiro.

Erich Cayris, do estado de São Paulo, vai para Portugal fazer a época balnear desde 2020 e este ano foi o primeiro em que ficou durante o inverno, pois conseguiu arranjar emprego fora da época balnear. Ficará até ao fim desta época.

Erich, que auxilia alguns brasileiros a embarcar para o país, conta que a “maioria dos nadadores-salvadores brasileiros fazem uma temporada lá e uma temporada cá, para não ficar sem emprego”, e refere algumas dificuldades devido às diferentes regras nos dois países.

Nas praias do estado de São Paulo, explica, os profissionais ou pertencem à Polícia Militar, ou têm de concorrer anualmente para trabalhar apenas um verão, além de terem de realizar o teste para exercer a atividade todos os anos.

Já em Portugal o teste de certificação do ISN precisa de ser renovado apenas de três em três anos e é pago pelo próprio salva-vidas, enquanto no Brasil é patrocinado pelo Governo.

O consenso entre os nadadores-salvadores em entrevista a Lusa e os representantes de associações da Costa da Caparica é de que os testes para a certificação no Brasil são mais difíceis, porque exigem mais fisicamente. “Passam muito tempo dentro da água [no mar], enquanto aqui o treino é mais na piscina”, diz Erich Cayris.

O que pode ser considerado um emprego pouco estável é visto de maneiras diferentes. Erich comenta que “seria bom se tivesse emprego o ano todo, tanto aqui como no Brasil”.

“É uma oportunidade interessante fazer uma temporada lá e depois uma temporada cá”, conta, por seu turno, Álvaro Neto, que se encontra em Portugal para fazer a época balnear a partir de junho.

O brasileiro esteve os últimos dois anos sem ir a Portugal, tendo feito a sua primeira época balnear portuguesa em 2019. Foi para Portugal este ano com a intenção de voltar para a época balnear do seu país.

Nos últimos três anos, segundo Luís Vitorino, a Caparica Mar tem começado a contratar também nadadores-salvadores da Argentina e “tem sido um sucesso, porque são muito bons trabalhadores”. Este, diz, é o primeiro ano em que vem “uma grande massa de guarda-vidas argentinos”.

Brian Estevan, da província argentina de Santa Fé, já trabalhou no Brasil e encontra-se agora a frequentar o curso para obter a certificação e trabalhar na Costa da Caparica pela primeira vez.

Nos anos em que esteve no Brasil, ouviu as experiências de alternar épocas balneares e decidiu juntar-se aos “muitos nadadores brasileiros que o fazem”.

Na Associação Apoios de Praia Frente Urbana da Costa da Caparica, o presidente, Miguel Inácio, partilha da opinião de que a falta de salva-vidas para as praias portuguesas é “um problema desde sempre”.

Quando questionado sobre quantos profissionais do Brasil trabalham alternadamente entre os dois países, Miguel Inácio diz que são “quase todos” e acrescenta que os brasileiros que contrata há muitos anos são “profissionais muito bons que salvam vidas todas as semanas” na frente urbana da Caparica.

Quanto aos salva-vidas portugueses, comenta que não tem conhecimento de algum que faça esta escolha de vida e que devem ser muito poucos os que optam por fazer uma época balnear em Portugal seguida de outra no Brasil.

Em resposta à Lusa, o ISN assegura que, apesar de algumas alterações nas provas em janeiro deste ano, a exigência ​”no processo de certificação de nadadores-salvadores se mantém” e que é normal que “tenha tendência para ser elevada”, dado que se trata de “uma atividade profissional que envolve o salvamento de vidas humanas”.

Relativamente ao número de brasileiros a exercer a atividade em Portugal, o ISN refere que começa a ser “significativa [a quantidade] de guarda-vidas brasileiros que solicitam o reconhecimento da sua formação”. Tal como previsto na legislação nacional, através de um protocolo, têm de passar o “exame de certificação de nadadores-salvadores em vigor em Portugal”.

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