Brasil cria comitê de combate ao fogo após registrar 5 mil focos de incêndio em 24h

Mundo Lusíada com EBC

 

O governo brasileiro publicou um decreto nesta quarta-feira que institui o Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo, Centro Integrado Multiagência de Coordenação Operacional Federal (Ciman), para monitoramento e plano de ações. O comitê terá a tarefa de compartilhar informações e propor ações de curto, médio e longo prazos para enfrentar consequências das mudanças climáticas que geram incêndios em regiões de vegetação.

O Comitê inclui autoridades do Governo Federal, equipes operacionais – como os corpos de bombeiros -, representantes de estados e municípios, entidades ambientais, pesquisadores e acadêmicos, associações de produtores rurais e movimentos sociais que atuam em territórios afetados pelos incêndios ou suscetíveis ao fogo.

A situação de seca atinge 25 unidades da Federação, das quais nove estão com estiagem em 100% de seu território, a baixa umidade relativa do ar e incêndios estão ocorrendo em vários pontos do território nacional.

Ontem o Brasil registrou 5.132 focos de incêndio, concentrando 75.9% das áreas afetadas pelo fogo em toda a América do Sul, segundo o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O aumento no número de focos se deu no bioma Cerrado, que ultrapassou a Amazônia nas frentes de fogo e registrou 2.489 focos, nos dias 9 e 10.

Já nesta quarta-feira, a Bolívia amanheceu com mais de 3,7 mil focos de incêndios em seu território, enquanto Brasil reduziu de 5,1 mil para pouco mais de 2,9 mil os registros nas últimas 24 horas, de acordo com Inpe.

Desde o início do mês, o governo brasileiro enviou missão humanitária ao país vizinho para atuação na área de fronteira, comum entre os dois países. A Bolívia faz fronteira com os estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nos dois biomas que têm sido fortemente afetados pelos incêndios no Brasil, Amazônia, que registrou nas últimas 24 horas 1,2 mil focos e Pantanal com 204 focos.

Nestes primeiros dias de setembro, os focos distribuídos pelo país superam o dobro do que foi observado em 2023. Em apenas dez dias são 37.492 focos registrados, enquanto que no mesmo período do ano anterior haviam sido 15.613. Para Ane Alencar, este ano o fogo foi potencializado por uma confluência de fatores que vão desde fenômenos como o segundo ano de El Niño, seguido de La Niña, passando pelo aquecimento global e a ação humana. “Eu acho que no Brasil, normalmente, já tivemos secas muito fortes na Amazônia, em uma parte do Cerrado, na região central do país, mas pegando vários biomas ao mesmo tempo, eu acho que é uma das primeiras vezes. É quase uma tempestade perfeita, onde o clima é o motor para propagar o fogo que ocorre a partir das queimadas”, diz.

O excesso de queimadas no Brasil vem resultando em uma queda na qualidade do ar em diversas regiões, gerando preocupações com a saúde das populações. No últimos dias, viralizaram nas redes sociais imagens que mostram paisagens encobertas por fumaça em algumas capitais, como Brasília, São Paulo e Belo Horizonte.

Em São Paulo, segundo o governo estadual, 41 das 57 estações medidoras do estado apontam nesta terça-feira (10) a qualidade do ar como ruim ou muito ruim, que pode provocar na população sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta, com falta de ar e respiração ofegante em casos mais graves.

Autoridade Climática

O governo federal ainda está desenhando a estrutura da Autoridade Climática, uma instituição que seja capaz de “atravessar, o que é correto numa democracia, as alternâncias de poder” afirmou a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva.

“O Ibama [o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis], o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Biodiversidade], o Serviço Florestal Brasileiro, Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e outros órgãos sobreviveram a quatro anos de perseguição. Então o que queremos é uma instituição que seja suficientemente robusta, não em tamanho, mas em qualidade”, disse a ministra.

As ações da futura autoridade contarão com o suporte e o lastro de um comitê técnico-científico, que, de acordo com a ministra, reunirá “o que há de melhor na ciência brasileira”. “A Autoridade Climática é um desenho que vai trabalhar no sentido da articulação, da formulação dos regramentos voltados para fazer esse enfrentamento [às questões climáticas]”.

Segundo Marina Silva, os eventos climáticos extremos estão ocorrendo com mais frequência e é preciso se preparar para situações ainda mais extremas.

Segundo a ministra, as queimadas já afetaram 1,1 milhão de hectares de floresta primária, provando que a floresta úmida não é mais imune ao fogo. “Isso é a prova de que a floresta está perdendo umidade, e este é um fenômeno que ainda nem sabemos lidar com ele”, sentenciou.

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