Após morte de jornalista britânico e ativista brasileiro na Amazônia, ONU pede mais proteção do Brasil

Da Redação com agencias

Neste dia 18, a polícia brasileira confirmou que o ativista e especialista em assuntos indígenas Bruno Pereira e o jornalista britânico que o acompanhava, Dom Phillips, foram mortos com uma “arma de fogo”, durante expedição na Amazônia.

O jornalista britânico Dom Phillips e o ativista Bruno Pereira desapareceram em 05 de junho quando navegavam num rio no Vale do Javari, uma região de selva perto das fronteiras do Brasil com o Peru e a Colômbia, onde estavam para recolher material para um livro do jornalista sobre ameaças enfrentadas pelos indígenas na região.

Bruno Pereira foi atingido por três tiros, um dos quais na cabeça, e Dom Phillips por uma bala no tórax, segundo comunicado a polícia federal brasileira.

Também foi anunciado a detenção do terceiro suspeito na morte dos dois homens, identificado como Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, e alegadamente cúmplice dos irmãos Amarildo e Oseney da Costa Oliveira, que já estavam detidos por suposto envolvimento direto neste duplo homicídio.

Jeferson da Silva Lima, cuja detenção foi ordenada na sexta-feira por um juiz do estado do Amazonas, compareceu voluntariamente na madrugada de hoje na esquadra da região de Atalaia do Norte, mas declarou-se inocente, adiantou a agência noticiosa Efe.

“De acordo com todas as provas e todos os testemunhos que ouvimos até agora, ele esteve no local do crime e participou ativamente no duplo homicídio”, referiu o comissário Alex Perez Timoteo, da Polícia Civil da Atalaia do Norte.

As autoridades brasileiras revelaram na sexta-feira que acreditam que os suspeitos pela morte do jornalista e do ativista na Amazônia “agiram sozinhos” e admitiram a possibilidade de mais detenções relacionadas com este caso.

Na quarta-feira à noite, as autoridades encontraram restos humanos numa zona remota da Amazônia, que foram posteriormente confirmados como sendo do jornalista britânico e do ativista brasileiro.

Dom Phillips esteve radicado durante 15 anos no Brasil, onde colaborou com vários ‘media’ internacionais, incluindo o Financial Times, New York Times e Washington Post, entre outros.

Apelo da ONU

O Escritório de Direitos Humanos da ONU lamentou profundamente os assassinatos do jornalista britânico e do indigenista brasileiro.

Uma nota divulgada pela porta-voz Ravina Shamdasani condena o “terrível e brutal ato de violência” e pede “às autoridades do Estado para garantir que as investigações sejam imparciais e transparentes”, além de garantir que as famílias das vítimas sejam reparadas.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU lembra que “ataques e ameaças contra defensores de direitos humanos e povos indígenas, inclusive os que vivem em isolamento voluntário, continuam persistentes”.

As Nações Unidas fazem um apelo às autoridades brasileiras para que “aumentem os esforços para garantir que defensores de direitos humanos e indígenas estejam protegidos de todas as formas de violência e de discriminação por parte do Estado e de atores não-estatais”.

Outro pedido é para que o Brasil “tome medidas para prevenir e proteger territórios indígenas de ações ilegais, por meio do reforço de órgãos governamentais responsáveis pela proteção dos povos indígenas e do meio ambiente: Funai e Ibama”.

Procurador Investigação

O procurador-geral da República, Augusto Aras, lidera uma comitiva de membros do Ministério Público Federal (MPF) em uma série de reuniões na Amazônia, neste domingo (19). Eles desembarcam em Tabatinga, no extremo oeste do estado, próximo da região onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados.

Acompanham Aras os coordenadores das câmaras de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais e Criminal do MPF, Eliana Torelly e Carlos Frederico, respectivamente, o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, além de outros integrantes do alto escalão do órgão.

Segundo informe da PGR, o objetivo é discutir medidas e ações de restruturação da atuação institucional na região amazônica, bem como ampliar a articulação do MPF com outros órgãos públicos com vistas ao combate à criminalidade e ao enfrentamento de violações aos direitos indígenas, direitos humanos e outros crimes registrados na região.

A previsão é que o procurador-geral da República participe de reunião com membros do MPF lotados em Tabatinga, com representantes do Exército, Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e outras instituições.

O PGR e os demais membros do MPF também vão conversar com as autoridades responsáveis pela investigação do assassinato de Pereira e Phillips, para acompanhar os desdobramentos do caso.

Também no Senado Federal, a Comissão Externa Temporária criada para investigar o caso se reune na segunda-feira para escolher presidente, vice-presidente e o relator da comissão. Também há previsão de definição do plano de trabalho e da viagem ao interior do Amazonas, segundo assessoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que sugeriu a criação do colegiado.

A intenção é investigar também o aumento dos casos de violência na Amazônia e omissões na proteção de ativistas ambientais. “Não podemos permitir a continuação desses ataques a comunidades tradicionais e defensores da preservação da floresta”, disse o parlamentar a Agência Senado.

Assassinatos
Dom Phillips, que era colaborador do jornal britânico The Guardian, e Bruno Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram vistos pela última no dia 5 de junho, na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares. Eles se deslocavam da comunidade ribeirinha de São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), quando sumiram sem deixar vestígios.

O indigenista denunciou que estaria sofrendo ameaças na região, informação confirmada pela PF, que abriu procedimento investigativo sobre a denúncia. Bruno Pereira estava atuando como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) – entidade mantida pelos próprios indígenas da região. Entre as suas missões, estava a de impedir a caça e a pesca ilegal na reserva, bem como outras práticas criminosas.

A Terra Indígena do Vale do Javari concentra o maior número de índios isolados ou de recente contato do planeta e qualquer aproximação com não índios pode desencadear um processo de extermínio desses povos, seja pela disseminação de doenças ou enfrentamento direto.

Segundo os autores do crime, a motivação do assassinato de Bruno e Dom teria sido justamente a atuação deles na denúncia de acesso e exploração ilegal da reserva. A PF chegou a dizer, nesta sexta-feira (17), que não haveria mandantes nem participação de organizações criminosas. A conclusão, no entanto, foi rechaçada pela Unijava, que, em nota, informou terem sido repassados dados sobre organizações criminosas que estariam atuando na região.

Governos no estrangeiro, como os Estados Unidos exigiram na sexta-feira que seja apurada a responsabilidade pelas mortes, manifestando apoio aos defensores da floresta tropical.

No dia 16, o Presidente brasileiro enviou condolências às famílias do jornalista britânico e do indigenista brasileiro, por mensagem em rede social. “Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!”, escreveu Jair Bolsonaro, numa mensagem da conta de Twitter da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

No dia anterior, Jair Bolsonaro tinha declarado que o jornalista britânico desaparecido na Amazônia Dom Phillips era malvisto na região, porque fazia reportagens denunciando crimes ambientais.

A Anistia Internacional denunciou os “comentários cruéis e insensíveis” do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

A Greenpeace salientou que a perda dos dois profissionais veteranos é o resultado das “ações e omissões de um governo empenhado na economia da destruição”.

“Somos órfãos de dois grandes defensores da Amazonia e, ao mesmo tempo, reféns do crime organizado que hoje é soberano na região amazônica”, sublinhou a Greenpeace.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: