Após lei do aborto, clandestinidade persiste em Portugal

Mundo Lusíada Com Agencias

Inácio Rosa – 04.fev.2007/Lusa

NA MESMA >> Secretário-Geral do Partido Socialista, José Sócrates, durante a sessão pública "O SIM Responsável", Domingo 04 de Fevereiro de 2007, no Centro Cultural de Belém. onde o líder do PS, fez um apelo no domingo à mobilização no referendo sobre a despenalização do aborto e alertou que a abstenção terá um preço: "tudo ficar como está".

Após seis meses da entrada em vigor da Lei do Aborto em Portugal, permitindo a IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) até as 10 primeiras semanas nos estabelecimentos de saúde legalmente autorizado, pesquisas comprovam que mulheres portuguesas ainda recorrem à clandestinidade.

Apesar do número ter diminuído drasticamente, um ano depois do referendo sobre a descriminalização em que o "sim" ganhou com 60% dos votos, as mulheres portuguesas ainda recorrem ao aborto clandestino muitas vezes por deixarem ultrapassar o prazo legal, segundo informações de parteiras que se dedicam à prática e da Associação para o Planejamento Familiar (APF), em entrevista à Lusa. "Não esperávamos que a aplicação da lei acabasse de vez com as situações de clandestinidade, mas fez reduzir drasticamente", disse Duarte Vilar, diretor executivo da APF.

Um semestre após a entrada da lei em vigor, cerca de 6 mil mulheres já fizeram a IVG, em hospitais públicos e privados. "Em termos práticos 6 mil abortos significa mil abortos por mês, significa 33 por dia, significa um por hora, significa que em Portugal morrem 12% dos nascimentos", justificou António Pinheiro Torres, da associação Juntos Pela Vida, acrescentando que o fato é "para nós uma mortandade, é um resultado trágico e é um atentado à dignidade de uma sociedade e à dignidade da mulher". Para o Diretor-Geral de Saúde, Francisco George, os dados são positivos vendo que o esperado seria de 20 mil abortos no ano. Dados indicam, segundo ele, que a mulher em Portugal "escolhe antes de mais nada a interrupção medicamentosa" imitando o aborto espontâneo. "Por outro lado, há o reconhecimento que o problema da interrupção em jovens adolescentes é menor do que aquilo que se temeu ao princípio. Tudo indica que estamos perante um problema que não tem a dimensão que poderíamos ter imaginado", concluiu.

Só na Clínica dos Arcos, um dos três estabelecimentos privados oficialmente reconhecidos para a prática, foram realizados 1.832 abortos, a maioria mulheres enviadas pelos dez hospitais públicos com que a unidade mantém acordos, de acordo com a diretora da unidade, Yolanda Hernandéz. Segundo ela, na clínica chegam mulheres com um aborto já em curso devido à ingestão de medicamentos abortivos, como o Cytotec, comprimido indicado para problemas de estômago que tem efeitos abortivos quando tomado em determinadas doses. Em muitos casos, a mulher tem hemorragias e não aborta e quando dá conta que continua grávida já passou as dez semanas, com eventuais complicações para a criança.

Com dores e hemorragias, muitas mulheres batem à porta de parteiras em busca de auxílio.Uma parteira, que há 36 anos faz aborto e com nome fictício de Maria, disse em entrevista à Lusa que os abortos ilegais hoje são poucos, segundo ela porque muitos casos "as mulheres não tinham recursos financeiros e perdiam algum tempo até conseguir reunir o dinheiro para fazer o aborto".

Além do tempo ultrapassado de aborto em até 10 semanas, permitido pela lei lusa, outros motivos que levam as portuguesas ao aborto clandestino é a falta de informação ou mesmo a vergonha. Outras não querem esperar pelos três dias de reflexão obrigados pela legislação. Yolanda Hernandéz considera que "não tem sentido continuar a haver aborto clandestino" e defende que devia haver "mais informação para a mulher conhecer os seus direitos e fazer a IVG em condições dignas".

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