Reino Unido vota pela saída da União Europeia e líderes lamentam em Portugal

Mundo Lusíada
Com Lusa

UniaoEuropeiaOs eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido vai sair da União Europeia, depois de o ‘Brexit’ ter conquistado 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira, cuja taxa de participação foi de 72,2%.

Segundo os resultados finais do referendo de quinta-feira, os defensores da saída do Reino Unido do bloco europeu tiveram 17,41 milhões de votos, segundo dados divulgados no portal da BBC, após ter terminado o apuramento em todos os 382 círculos eleitorais. Já os partidários da permanência do Reino Unido na União Europeia obtiveram 16,14 milhões de votos. A taxa de participação no referendo foi de 72,2%.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, já anunciou a intenção de se demitir em outubro, na sequência do referendo em que os britânicos. Falando à imprensa à porta da sede do Governo, David Cameron afirmou que, depois da vitória do “Sair” com 52%, o país precisa de uma nova liderança.

Os resultados do referendo levaram também o partido Sinn Féin a defender uma votação na Irlanda do Norte sobre a unificação com a República da Irlanda enquanto a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, anunciou que a Escócia vê o seu futuro como “parte da União Europeia”.

Os presidentes das principais instituições europeias vão reunir-se hoje em Bruxelas para debaterem o resultado do referendo. Para além dos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Conselho Europeu, Donald Tusk, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz, a reunião extraordinária de líderes europeus incluirá também Mark Rutte, primeiro-ministro holandês, por ser este o país que detém, até julho, a presidência rotativa da União Europeia.

O resultado do referendo levou as principais bolsas europeias a abrir em forte queda depois de conhecido o resultado, com os principais bancos em Londres a cair 30%.

Divórcio rápido
Os presidentes da União Europeia (UE) querem um ‘divórcio’ do Reino Unido o mais rapidamente possível “por muito doloroso que seja o processo”, segundo um comunicado divulgado após a escolha dos britânicos pela saída do bloco.

“Esperamos agora que o Reino Unido dê cumprimento à decisão do povo britânico o mais rapidamente possível, por muito doloroso que o processo possa ser”, sustentam os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Conselho Europeu, Donald Tusk, do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e da presidência rotativa holandesa da UE, Mark Rutter.

O comunicado salienta ainda que “qualquer atraso só prolongaria desnecessariamente a incerteza”, estando os líderes “prontos para iniciar as negociações rapidamente com o Reino Unido sobre os termos e condições da sua retirada da União Europeia”.

Os quatro presidentes lembram ainda que o artigo 50.º do Tratado de Lisboa estipula o procedimento a seguir se um Estado-membro decidir sair da UE.

No que respeita ao futuro, os signatários esperam que o Reino Unido venha a ser “um parceiro próximo” da UE, sublinhando aguardarem propostas de Londres neste aspeto.

“Qualquer acordo que venha a ser concluído com o Reino Unido enquanto país terceiro terá que refletir os interesses de ambas as partes e ser equilibrado em termos de direitos e obrigações”, referem ainda Juncker, Tusk, Schulz e Rutter.

“Num processo livre e democrático, o povo britânico expressou o seu desejo de sair da União Europeia. Lamentamos esta decisão mas respeitamo-la”, salientam os quatro presidentes.

Em Portugal
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros português lamentou profundamente a decisão do Reino Unido, considerando que “é um dia triste”, reiterando que os interesses das comunidades portuguesas serão “protegidos e defendidos”.

Já o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que o projeto europeu se mantém válido sem o Reino Unido, mas defendeu que os ideais que estão no cerne da sua construção precisam de ser “repensados e reforçados”.

O PS lamentou o resultado do referendo no Reino Unido, defendendo como resposta uma “reabilitação” da União Europeia, e sugeriu a criação pela diplomacia portuguesa de uma estrutura de missão para acompanhar os interesses estratégicos bilaterais.

Esta posição foi transmitida pelo presidente do PS, Carlos César, na Assembleia da República, de acordo com o líder parlamentar socialista, no plano europeu “a grande tarefa será a de reabilitar a Europa, que não terminou e que recomeçou num novo ponto de partida”.

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) considerou que este “é um momento de início da desagregação da União Europeia”, se não houver uma mudança de agenda que ponha fim à “defesa da austeridade”.

“Este é um momento importante, é um momento de início da desagregação da União Europeia e, ou há mudanças drásticas a nível europeu, ou se a Europa se fechar sobre si própria e insistir nos erros, este é um prenúncio do futuro que aí virá”, declarou Pedro Filipe Soares à agência Lusa, no parlamento, numa reação à saída do Reino da União Europeia.

Para comentar esta decisão, o líder parlamentar do BE recorreu à expressão “quem brinca com o fogo queima-se”. “Por isso, o que nós esperamos que possa acontecer a curtíssimo prazo é que ganhem juízo, que na Europa não se lembrem agora de continuar a centrar o discurso europeu nas sanções a Portugal. Que esse tipo de políticas, essa defesa da austeridade deixe de ser o objetivo da União Europeia, porque, caso contrário, continuaremos a brincar com o fogo”, acrescentou.

Segundo Pedro Filipe Soares, está a abrir-se espaço para “um discurso e uma agenda de extrema-direita que estava escondida” e que “beberá sempre que o caos econômico persista e que a instabilidade social também singre”.

Questionado sobre o que deve a União Europeia fazer, respondeu que, “em primeiro lugar, deve rasgar os tratados que têm feito contra os povos: o Tratado Orçamental, que está a permitir este debate de chantagem contra Portugal” e “garantir que há uma mudança na política europeia e que não se pune os povos com a austeridade”.

“Que há um respeito pelos povos, uma defesa da soberania e dos preceitos democráticos de cada um dos povos”, acrescentou, defendendo que isso corresponde a “uma agenda completamente diferente, que rompe com o que a política da Europa tem sido”.

Já o PCP saudou o resultado do referendo no Reino Unido, considerando que é “uma vitória sobre o medo, as inevitabilidades, a submissão e o catastrofismo”, abrindo “um novo patamar de luta” contra a União Europeia.

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