Paulo Portas pede um “salto” nas relações econômicas entre Brasil e Portugal

Mundo Lusíada

Com agencias

Brasília - Os chanceleres, de Portugal, Paulo Portas, e do Brasil, Antonio Patriota, durante entrevista coletiva, após reunião de trabalho. Foto: Valter Campanato/ABr

Durante sua visita de dois dias ao Brasil, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, defendeu que o crescimento das relações econômicas entre Brasil e Portugal pode ser exponencial e que o seu papel é promover as exportações portuguesas. “É preciso dar um salto muito grande nas relações econômicas entre os dois países”, afirmou o ministro português, após chegar à capital brasileira.

Portas, que teve uma reunião com seu homólogo brasileiro, António Patriota, considerou que os governos de ambos os países devem atuar juntos para fortalecer as suas relações, mas respeitando sempre a economia de mercado. “Os governos devem estar aqui para conseguir dar um incentivo forte a essas relações, mas respeitando evidentemente a economia de mercado, porque são as empresas que fazem seus negócios todos os dias, e (ajudando também) a desbloquear problemas que possam ser desbloqueados”, considerou.

Portas ainda citou o crescimento das relações culturais como essencial. “Como nós constituímos do ponto de vista da língua uma comunidade de 240 milhões de pessoas, o português tem que ser uma das poucas línguas que vai vencer o desafio da globalização”, afirmou.

O português, de acordo com o ministro, tem como vantagem o fato de ser falado em oito países, de quatro continentes distintos e em dezenas de comunidades locais. “Se Portugal e o Brasil, mais os países que falam o português, com destaque para os africanos, fizerem uma política inteligente, todos têm a ganhar”, enfatizou.

Durante o almoço oferecido pelo embaixador de Portugal em Brasília, João Salgueiro, o ministro enfatizou que Portugal “vai cumprir o acordo, vai honrar a palavra” dada aos credores do empréstimo concedido pela “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). “85% dos deputados apoiam o acordo”, disse.

“Sou muito focado em diplomacia econômica. O essencial é construir uma excelente diplomacia econômica e melhorar a percepção de Portugal no exterior”, disse. Mas, como fazê-lo, tendo em conta a crise, os cortes orçamentais, as dificuldades da Aicep (Agência para a internacionalização e comércio externo de Portugal)?, questionou o Portugal Digital. A resposta foi breve: “Otimizar e maximizar. Articular a rede comercial com a diplomática”.

Privatizações, crise e EUA

O governo português adotou as privatizações para tentar amenizar a crise financeira resultante do estouro da dívida soberana. Em março, agências de classificação rebaixaram a nota de grau de investimento do país, o que agravou o clima de insegurança entre investidores e países parceiros. Uma ajuda financeira entre 70 bilhões e 80 bilhões de euros foi cogitada e países da União Europeia cobraram reformas e austeridade fiscal.

Mas Portas garantiu que os investimentos brasileiros serão “bem tratados” em Portugal. “Nós cremos que o investimento português e as empresas portuguesas são bem tratados no Brasil, também sabemos que devemos tratar bem os investimentos brasileiros em Portugal. É essa situação, em que ambos ganham, a nossa perspectiva enquanto governo”, disse o ministro português. De acordo com ele, as privatizações vão ocorrer de forma transparente e rigorosa e os investidores podem esperar segurança política, institucional e jurídica em Portugal.

Para Patriota, caberá aos empresários brasileiros avaliarem a participação nas privatizações. “Isso compete ao empresariado e com base em considerações de interesse comercial. Vai ser um processo transparente em que haverá previsibilidade”, disse o ministro brasileiro. A expectativa é que, até 2013, sejam feitas privatizações que resultem em mais de 6 bilhões de euros para os cofres portugueses. Uma das estatais que devem passar pelo processo é a empresa aérea TAP, que já opera no Brasil.

Portas deixou o encontro tecendo elogios à economia brasileira. “O Brasil é hoje, por mérito próprio, um país muito importante e não é sequer uma economia emergente, é uma economia que já emergiu. E por isso é importante explicar bem qual é a narrativa correta do ponto de vista do governo português sobre a crise financeira”.

Sobre a crise da dívida interna dos Estados Unidos, Portas foi otimista: “mesmo que as notícias de hoje sejam preocupantes, eu acredito que as de amanhã serão melhores”. Já Patriota afirmou que a economia americana tem impacto sobre as demais, mas ressalvou que o Brasil tem bons indicadores para driblar uma possível crise.

Promover a exportação

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, sua tarefa é promover a exportação de produtos e marcas portuguesas. O ministro foi taxativo, no entanto, ao dizer que o esforço de expansão nas relações econômicas entre Portugal e Brasil deveriam vir de investimentos mútuos e benéficos para ambos os lados. “Eu só acredito em relações econômicas em que ganham os dois lados, em que ganham os investimentos portugueses no Brasil e os investimentos brasileiros em Portugal”, afirmou Portas.

O ministro citou nomeadamente os setores de telecomunicações, turismo, obras públicas, gás e eletricidade como segmentos em que há possibilidade de se “alargar” os investimentos recíprocos.

Segundo o ministro, o Brasil é hoje o maior investidor líquido em Portugal, enquanto o Brasil é o principal destino estrangeiro fora da Europa de Portugal. Para Portas, esse dado reflete o grande interesse mútuo existente, que ele tem como “missão” promover.

É a primeira visita que Paulo Portas faz ao Brasil desde que tomou posse, no dia 21 de junho passado. Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, os ministros também mantiveram um diálogo conjunto a respeito da realização da XI Cimeira Luso-Brasileira, prevista para decorrer em Brasil ainda neste semestre. Além de examinada a proposta de realização do Ano do Brasil em Portugal e de Portugal no Brasil, entre os dois Estados.

Em 2010, as trocas comerciais entre Brasil e Portugal ficaram em 2 mil milhões de dólares (1,37 mil milhão de euros), enquanto no primeiro semestre deste ano o volume atingiu 1,3 mil milhão de dólares (895 milhões de euros), com saldo positivo em 607 milhões de dólares (417 milhões de euros) para o Brasil.

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