Em tempos de crise, Aicep em São Paulo mostra oportunidades às empresas nos dois mercados

Em entrevista exclusiva ao Mundo Lusíada, Carlos Moura, o diretor da Agência para o Investimento e Comercio Externo de Portugal diz que numa grande dificuldade é que aparece sempre uma grande oportunidade e neste contexto, incentiva empresas a investirem nos dois mercados.

 

Por Odair Sene

Carlos Moura, Aicep São Paulo. Foto Mundo Lusíada
Carlos Moura, Aicep São Paulo. Foto Mundo Lusíada

Carlos Moura, diretor da Agência para o Investimento e Comercio Externo de Portugal (Aicep), trabalha no mercado brasileiro representando o órgão há cerca de quatro anos, vindo do escritório da Aicep de Cingapura, onde cobria os mercados asiáticos. Tendo conhecimento e experiência em diversos mercados, diz que o Brasil, com todos os seus problemas e riscos, continua a ser um mercado de grandes oportunidades, especialmente para as empresas portuguesas. “Eu costumo dizer que, numa grande dificuldade aparece sempre uma grande oportunidade e o Brasil neste momento é isso, tem muitas dificuldades e muitas oportunidades”.
A Aicep é um órgão que se reporta diretamente ao Vice Primeiro Ministro de Portugal. Por regra é integrada ao Ministério da Economia por pertencer exatamente a área econômica, “mas nos últimos anos temos vindo a estar na tutela do Vice Primeiro Ministro que tem acompanhado toda a área da Aicep, diplomacia econômica, dos negócios internacionais, etc..”, refere.
Ao Mundo Lusíada o responsável fez uma projeção de que o Brasil seja em 2030 o quinto maior mercado de consumo do mundo, portanto com futuro bastante promissor, e a tendência natural para as empresas portuguesas virem para o Brasil por vários fatores. Atualmente existem 450 empresas portuguesas já sediadas no Brasil.
Em outros mercados, como da Ásia, não há esta presença, apesar do crescimento local, mas ainda não é um mercado de tanta atração. E no Brasil o diretor tem a incumbência de conhecer bem o mercado local, identificar as oportunidades e passar essas oportunidade às empresas interessadas.
“Nosso papel quando uma empresa portuguesa chega à Aicep é fazermos um retrato muito detalhado de como é o mercado e onde este produto, da empresa interessada, pode se encaixar neste mercado, como há também a possibilidade de uma avaliação negativa, de um determinado produto que não se encaixa num determinado mercado. É uma informação objetiva e muito honesta que passamos para as empresas, além das avaliações damos fatos concretos sobre essas possibilidades”.
No Brasil existem escritórios da Aicep em São Paulo e no Rio de Janeiro, com uma equipe no Brasil muito enxuta, porém muito versátil e muito conhecedora do próprio mercado. E para cobrir e atender o resto do Brasil, o diretor diz que isso é feito através das Câmaras de Comercio, que somam quatorze no total estando em lugares como Manaus, Pará, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Minas, “então temos trabalhado com as Câmaras fora desse eixo Rio-São Paulo, e temos ajuda mutua entre Aicep e Câmaras de Comércio”.

Relações Portugal/Brasil
“Nosso papel tem sido de cada vez mais apoiar as empresas portuguesas, seja para exportar para o Brasil, seja em se nacionalizar, seja trabalhar no mercado brasileiro do ponto de vista de angariar investimento brasileiro para Portugal, ou seja, incentivar as empresas brasileiras a investirem em Portugal. O que podemos constatar do ponto de vista bi-lateral, e dos negócios, é que nos últimos anos essa relação tem vindo a crescer. Cabe aqui dar algumas grandezas para se perceber essa relação: do ponto de vista dos produtos, aqueles que colocamos nos containeres que enviamos (transacionáveis), no final de 2014 Portugal exportou para o Brasil 700 milhões de euros, mas não podemos esquecer que temos os serviços, ou seja, aquilo que não se coloca no container mas são os serviços nos setores de turismo, engenharia, tecnologia que, em 2014 somou um bilhão e 100 milhões em termos de exportação para o Brasil, ou seja se nós somarmos a exportação de bens e serviços temos nitidamente uma balança positiva para Portugal. Uma relação que não é descontrolada porque o Brasil tem quase os mesmos valores para Portugal, mas no compito geral, Portugal exporta mais para o Brasil do que o Brasil para Portugal.”
Sobre o investimento estrangeiro, Carlos Moura diz que o Brasil tem sido o grande destino dos investimentos das empresas portuguesas, com grandes exemplos no Brasil, assim como Portugal tem sido destino de muito investimento brasileiro. “Eu gosto sempre de dar o exemplo da Embraer que investiu muito em Portugal numa planta de raiz, este ano já reinvestiu outros valores num centro de pesquisa e desenvolvimento, e outros negócios como da Cimpor, ou da Portugal Telecom com a OI, a TAP mais recentemente que vai revolucionar esta ligação mostrando que, definitivamente, Portugal está a ficar no radar das empresas brasileiras.”
Segundo o diretor, o recente negócio envolvendo a TAP mostra bem o interesse no mercado do turismo que deve ser muito bem aproveitado por conta do movimento de cerca de 500 mil turistas brasileiros que todos os anos viajam para Portugal. “A TAP tem mais de 80 voos por semana do Brasil para PT e como se sabe, o turismo é um setor essencial para a economia portuguesa, e este movimento tende a crescer porque cada vez tem mais interessados em conhecer Portugal, portanto há uma perspectiva muito positiva”, refere.

Como a Aicep tem se posicionado no Brasil
“Eu costumo dizer que a Aicep ao longo dos últimos anos tem mudado de nome, já foi Agência, já foi Instituto, já foi Fundo, porém a roda está inventada e as funções da agência hoje se mantém as mesmas, que é dar apoio à exportação, apoio para a internacionalização e angariação de investimento estrangeiro, ou seja, com seus variados nomes, variadas tutelas, em diversos setores, a agência tem vindo sempre a desenvolver suas funções”, diz Moura concluindo que o Brasil é um caso pragmático, “não podemos nos esquecer que hoje o Brasil é o décimo parceiro de Portugal na área dos negócios, não é uma posição de se desprezar, e esta área tem vindo a crescer nos últimos anos”.

As estratégias definidas para o Brasil
“Desde três ou quatro anos temos uma estratégia muito bem definida para Brasil, que é sairmos deste eixo Rio-SP, trabalhar os outros estados brasileiros e este trabalho vem marcando muito a atuação da Aicep aqui com ações das mais diversas em vários estados, ou seja, tudo que não era realizado antes, estamos fazendo aqui diversificando setorialmente. Trabalhamos os bens tradicionais, com muito peso português em termos de presença, como azeite e o vinho, e hoje trabalhamos muito com setores como tecnologia da informação, comunicação, biotecnologia, serviços de engenharia, de consultoria, setores que eram menos trabalhados no mercado brasileiro.

A relação da agência com organismos públicos para facilitar o trabalho das empresas
“Toda nossa ligação com as entidades públicas no Brasil, seja com prefeituras, seja com governos estaduais, regionais, seja com ministérios, seja com as agências de controle e ou regulamentação, como Anvisa, por exemplo, temos trabalhado muito próximos, para desobstruir alguns obstáculos que possa haver nesta relação das empresas com o Brasil. Nós temos trabalhado naquilo que chamamos de tentar reduzir o custo Brasil para as empresas portuguesas. Fazemos um trabalho também de acompanhamento direto das empresas, desde quando ela chega, até quando ela se instala no próprio mercado, além de toda a parte legislativa, regulamentar do Brasil, que é bastante complexa e temos vindo a ajudar neste sentido.”

A imagem do Portugal moderno e da atual indústria da panificação
“Por outro lado o nosso contato com a imprensa tem vindo a surtir alguns efeitos porque nitidamente o Brasil hoje tem uma imagem muito diferente de Portugal. Hoje os portugueses que tem chegado ao Brasil, mudam os conceitos nas empresas, nas universidades, então hoje Portugal não é mais visto como somente o país dos padeiros, mas como um país de tecnologia, avançado, desenvolvido, e minha referência aos padeiros é com muita honra que temos, tomara todos os países pudessem ter uma classe de padeiros e de padarias portuguesas como tem o Brasil. Nitidamente, os portugueses que montaram este conceito moderno da padaria brasileira, montaram com uma eficácia, muita capacidade e gerando aí muitos negócios. Então eu digo que ainda bem que os nossos padeiros conseguiram evoluir para uma indústria altamente sofisticada de panificação, de negócios altamente rentáveis, onde toda a sociedade brasileira se utiliza dos serviços das padarias, tanto da classe A à classe E. Em Portugal este setor das padarias estão a ressuscitar mas por muitos anos houve uma queda muito grande neste setor, porque as padarias em Portugal vendem pão, as padarias no Brasil vendem de tudo, tornando um grande negócio. Porém a imagem do Portugal de hoje, começa a ser cada vez mais reconhecida como de um país integrado ao espaço europeu, desenvolvido, criativo, com muitas marcas reconhecidas, com produtos reconhecidos, e o Brasil é um dos países que melhor reconhece o produto alimentar português, o brasileiro escolhe o produto português e sabe o que está escolhendo, são produtos reconhecidos como sendo os de melhor qualidade, seja o bacalhau, o vinho, o azeite que aliás responde por 50% do mercado brasileiro, isso não se pode desprezar.”

Mais exemplos, mais modernidade, mais tecnologia
“Um exemplo muito conhecido no Brasil e que tem origem portuguesa é o conhecido cartão pré-pago, como também o sistema do banco eletrônico, e muita gente não sabe se tratar de criação portuguesa. Se uma empresa brasileira, de início, olha para a tecnologia alemã ou inglesa, como tecnologia de ponta, esquecendo a tecnologia portuguesa, quando experimenta a tecnologia portuguesa não tem dúvida de que tem aí um bom parceiro, e vem daí um grande crescimento de Portugal nas áreas de serviços e nas áreas das tecnologias. E por outro lado, de trabalhar o mercado, e tem sido estratégia da Aicep, angariar ou atrair investimento estrangeiro para Portugal, temos muitos casos de sucesso em Portugal como exemplos.”
Segundo Carlos Moura, o Brasil percebeu que Portugal é um grande mercado, seja na localização, seja na formação de recursos humanos, com engenheiros altamente qualificados, economistas, seja no domínio de vários idiomas, seja das condições logísticas, dos portos, infra-estrutura, dos aeroportos, ou seja no recente plano de incentivos financeiros que Portugal tem, com recursos de 25 mil milhões de euros de fundos comunitários para apoiar o desenvolvimento, grande parte do fundo é para a área empresarial, para atrair novos investimentos, seja para empresas internas ou de fora, tratamento igual, oferecendo vantagens do ponto de vista financeiro e do ponto de vista fiscal.

Diáspora portuguesa no Brasil
“Este é um mercado bastante importante, com grande grupos brasileiros mas de origem portuguesa, muitos de filhos e netos de portugueses para os quais estamos tentando mostrar o Portugal novo e altamente competitivo para se investir no espaço europeu. “Portugal é sem dúvida um dos melhores mercados e aberto ao mercado europeu e muitas dessas empresas que estamos a tratar tem alguma ligação, com seus fundadores portugueses e para esses estamos a mostrar um Portugal moderno que é altamente competitivo para seus negócios”.

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