Dois meses depois, Novo Banco apresenta nova presidência e primeiro-ministro defende venda

Mundo Lusíada
Com agencias

Fotografia de arquivo de 2007, do novo presidente do Conselho de Administração do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha. Foto: MIGUEL A. LOPES/LUSA
Fotografia de arquivo de 2007, do novo presidente do Conselho de Administração do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha. Foto: MIGUEL A. LOPES/LUSA

Vítor Bento abandona a liderança do Novo Banco dois meses depois de ter aceitado liderar o BES, cargo que assumiu por “dever patriótico” antes do fim do banco como existia até então o ter tornado presidente do Novo Banco.
A saída da equipe de Vítor Bento é atribuída à rejeição pelo banco central da estratégia de longo prazo que apresentaram. O governador do BdP quer vender o Novo Banco o mais rápido possível e diretamente a uma outra instituição bancária, enquanto Vítor Bento e a restante equipe defendem um projeto a médio prazo e com dispersão de capital em bolsa, segundo afirmou o Expresso.
Também o ministro da Economia, Pires de Lima, defendeu esta semana em entrevista ao Diário Económico que o Novo Banco devia ser vendido o mais rapidamente possível.
O nome de Vítor Bento surgiu, no início de julho, como a solução para o BES, quando a equipe de Ricardo Salgado já estava de saída do banco, por ordem do Banco de Portugal, e depois do nome de Amílcar Morais Pires (administrador financeiro e braço direito de Salgado) não ter sido consensual para substituir o líder histórico.
Inicialmente, o então presidente da gestora da rede Multibanco SIBS apenas queria assumir o cargo depois de fechadas e apresentadas as contas do primeiro semestre, referentes à gestão de Ricardo Salgado, mas foi ultrapassado pela sucessão dos acontecimentos.
Após uma reunião extraordinária da administração do BES num domingo, na segunda-feira 14 de julho o BES abriu portas com Vítor Bento como presidente executivo, José Honório como vice-presidente e João Moreira Rato como administrador financeiro. No dia seguinte, em mensagem aos colaboradores, Vítor Bento disse que a sua prioridade era “reconquistar a confiança dos mercados”, “pondo fim à especulação e abrindo caminho a um novo capítulo” na instituição financeira.
Em apenas mês, Vítor Bento assumiu a liderança do BES, apresentou os maiores prejuízos semestrais de sempre da história empresarial em Portugal (3,6 bilhões de euros no primeiro semestre, referentes ainda à gestão de Ricardo Salgado) e, no início de agosto, passou a presidente do Novo Banco, instituição financeira resultante da cisão do BES e que ficou com os ativos considerados não problemáticos.
O Novo Banco recebeu uma capitalização de 4.900 milhões de euros do fundo de resolução bancário, que foi buscar a maior parte do dinheiro a um empréstimo do Tesouro (3.900 milhões de euros), enquanto o restante valor foi colocado pelos bancos que participam no fundo.

Explicação e Sucessor
O Banco de Portugal confirmou em 14 de setembro em comunicado que Eduardo Stock da Cunha foi o escolhido para suceder a Vítor Bento na liderança do Novo Banco.
A nova equipe de gestão do banco de transição que resultou da cisão do Banco Espírito Santo (BES) inclui ainda Jorge Freire Cardoso (administrador financeiro), Vítor Fernandes e José João Guilherme.
No dia 15, o presidente demissionário Vítor Bento escreveu aos colaboradores e clientes da instituição, justificando a saída do Conselho de Administração e destacando o “profissionalismo” e “experiência” do seu sucessor.
“Estou convicto de que esta mudança ocorre no momento mais oportuno para o efeito”, escreve Vítor Bento na comunicação interna aos colaboradores, a que a Lusa teve acesso, acrescentando que “estão praticamente resolvidas as questões mais complexas e desgastantes da transição do regime do Banco”.
Segundo Vítor Bento, “libertando a nova equipe daquele desgaste”, a atividade do banco ganhará “um novo impulso”.
O presidente demissionário do Novo Banco dirigiu duas cartas, uma aos colaboradores do Novo Banco e outra aos clientes.
Para Vítor Bento, o novo presidente é “uma pessoa muito experiente no setor é um profissional reconhecido e estou certo de que será o garante da preservação desse valor”.
Eduardo Stock desempenhava atualmente funções de diretor no Lloyds Banking Group (LBG), em Londres, depois de ter trabalhado vinte anos como administrador no Grupo Santander Totta e, mais tarde, no Sovereign Bank/Santander Bank N.A., nos Estados Unidos.

Primeiro-Ministro quer venda
O primeiro-ministro afirmou ser do “interesse de todos” vender o Novo Banco “nas melhores condições possíveis”, depois de falar da saída da equipe de Vitor Bento da administração e de elogiar a intervenção do regulador.
“É do interesse de todos que este processo se possa desenvolver da forma mais expedita possível. Não é vender à pressa, amanhã, não há nenhuma razão para isso. É para vender nas melhores condições possíveis de modo a minimizar a incerteza”, disse o chefe do Governo.
Para Passos Coelho, a forma como Bento “agarrou” o Novo Banco “foi decisiva para que o projeto se iniciasse com muita credibilidade, o que é importante para a estabilidade do sistema financeiro”.
Posteriormente, o primeiro-ministro enalteceu as “boas decisões” que Carlos Costa, governador do BdP, tem vindo a tomar no âmbito das suas funções independentes de supervisor. “Agradecemos ao senhor governador do Banco de Portugal não ter andado a tapar o sol com a peneira, fazer de conta que o problema não existia, a empurrar com a barriga para a frente, como porventura se fez no passado”, advogou o chefe do Governo.
Passos Coelho lembrou ainda que o Governo, como “todos os portugueses”, não queria que a crise do BES acontecesse. Nas suas palavras, a situação do BES foi um contratempo no processo de recuperação da economia em curso e “também não ajuda um Governo que tem eleições daqui a um ano”, defendendo que este é um problema que deve ser enfrentado de frente.
“Se tivéssemos interesse em tapar o problema para poder fazer as eleições [legislativas de 2015] mais confortáveis, se calhar estaríamos muito aborrecidos com o senhor governador do BDP, por ter atuado como atuou. Mas não estamos. Estamos a dar todo o apoio, porque achamos que quando temos um problema ele tem de ser enfrentado e resolvido. Com eleições ou sem eleições”, declarou.

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