Associação comercial espera que aeroporto no Montijo ajude a ultrapassar crise

Da Redação
Com Lusa

Passageiros no Aeroporto do Algarve. LUIS FORRA / LUSAA Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal considera que um novo aeroporto no Montijo pode ajudar a ultrapassar uma das “maiores crises da história”, enquanto os ambientalistas alertam para a necessidade de estudos rigorosos.

A base aérea n.º 6, localizada no Montijo, distrito de Setúbal, está a ser estudada para receber um novo aeroporto, complementar ao Humberto Delgado, em Lisboa. O memorando de entendimento entre o Governo e a ANA — Aeroportos de Portugal para aprofundar os estudos sobre esta localização vai ser assinado na quarta-feira.

O presidente da Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal, Francisco Carriço, defende que, se se confirmar, esta construção implicará “enormes benefícios”: “Montijo e Alcochete vão ser os dois concelhos na linha da frente, pela proximidade e por terem um número de camas pequeno. Prevê-se o triplicar do número de camas, a hotelaria vai crescer”, disse, em declarações à Lusa.

Segundo o responsável, o turismo, o comércio e os serviços, bem como a gastronomia e as pescas, irão conhecer um desenvolvimento significativo.

“Vai ser uma mudança de paradigma e uma mudança radical na grave crise que estamos a viver na zona. Pode ser um volte-face total da situação gravíssima que se vive em toda a região”, defendeu.

No entender da associação, todos os municípios da região devem envolver-se e apostar na promoção, ao nível da que é feita na Madeira.

“Tem que se fazer uma promoção muito forte, como acontece na Madeira. A região e todos os concelhos não podem passar despercebidos neste novo aeroporto. Esta região tem sofrido muito, vamos ver se o aeroporto é uma alavanca grande para este volte-face”, salientou.

Já Carla Graça, da associação ambientalista ZERO, defendeu a necessidade de todos os estudos serem “transparentes e rigorosos”.

“Em princípio, é uma boa opção um aeroporto complementar em relação a um aeroporto de raiz, mas primeiro temos que saber se é necessário este complemento, pois pode haver folga nas ‘slots’ [direitos de aterrar ou descolar] da Portela e, depois, a optar-se por esta localização, existem questões que nos preocupam”, salientou.

Carla Graça lembrou que a base aérea do Montijo está numa zona de proteção especial na orla da reserva natural do estuário do Tejo, constituindo uma das dez zonas úmidas mais importantes da Europa.

“Atravessam e nidificação aqui milhares de aves e existem até riscos para as próprias aeronaves. Depois, temos a questão da qualidade do ar e ruído, pois existem zonas que podem ser afetadas, como a Baixa da Banheira, caso se confirme o corredor de descolagem”, justificou.

Se a infraestrutura avançar, sublinha a ZERO, são necessárias medidas de contenção.

“Tem que haver medidas de contenção como, por exemplo, em relação ao desenvolvimento que vai permitir. O aeroporto pode ser bom, porque existem poucas dormidas na região, mas tudo tem que ser feito com bom senso, porque a pressão imobiliária é uma preocupação”, frisou.

Pilotos
Os pilotos avisaram que a base aérea do Montijo não poderá ser alternativa ao aeroporto de Lisboa nos voos de longo curso caso avance a desativação de uma das duas pistas do Aeroporto Humberto Delgado.

“O Governo já está absolutamente ciente de que a pista 01/19 do Montijo, fechando a 17/35 [do aeroporto de Lisboa], não é uma alternativa para voos de longo curso, pois é muito pequena, não tem ajudas rádio que permitam aterragens por instrumentos e o pavimento, eventualmente, não tem resistência para suportar aviões de grande porte”, afirmou à agência Lusa o presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA).

“Entre três e quatro meses do ano, por razões de segurança, devido a fenómenos atmosféricos moderados a severos, a pista 17/35 é a melhor para aterrar e não a 03/21, pista que se usa normalmente”, frisou o presidente da APPLA.

Caso se concretize a desativação da pista 17/35 do aeroporto de Lisboa, durante três a quatro meses do ano, os aviões de longo curso não poderão aterrar no Montijo e terão de divergir para um aeroporto alternativo, sendo os mais próximos Porto ou Faro.

Miguel Silveira frisou que a atual pista do Montijo, em termos de tamanho e resistência, poderá receber apenas aviões de pequeno e médio curso.

O representante dos pilotos transmitiu estas preocupações ao secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d´Oliveira Martins, durante uma reunião, na sexta-feira.

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