Unesco reconhece Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

Da Redação

Praticantes de Capoeira fazem uma demonstração, junto ao Padrão dos Descobrimentos, na iniciativa “Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa”. TIAGO MARQUES/LUSA
Praticantes de Capoeira fazem uma demonstração, junto ao Padrão dos Descobrimentos, na iniciativa “Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa”. TIAGO MARQUES/LUSA

Uma das manifestações culturais mais conhecidas no Brasil e reconhecidas no mundo, a Roda de Capoeira recebeu, em 26 de novembro, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O título foi concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Após votação durante a 9ª sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, a Roda de Capoeira ganhou oficialmente o título.

“O reconhecimento da Roda de Capoeira pela Unesco é uma conquista muito importante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo”, destacou a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler.

Além da presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado; da diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI-Iphan), Célia Corsino; e dos diplomatas da delegação do Brasil junto à Unesco, capoeiristas brasileiros também acompanharam a votação, entre eles os mestres Cobra Mansa, Pirta, Peter, Paulão Kikongo, Sabiá e a Mestra Janja. O som do atabaque e do berimbau comoveram os representantes dos países presentes à apresentação que fizeram no dia 25 na sede da Unesco.

A presidenta do Iphan, Jurema Machado, explicou que as políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir títulos, mas para que os governos assumam compromissos de preservação de seus bens culturais, materiais e imateriais, como a Roda de Capoeira. “O reconhecimento internacional amplia as condições de salvaguarda desse bem”, esclarece. “Os compromissos assumidos pelo governo para com essa salvaguarda envolvem ações de promoção, de valorização dos mestres, seja na inserção no mercado de trabalho, seja na preservação das caracteristicas identitárias da capeoeira ou na formação de redes, de cooperação e de transmissão de conhecimento”, complementa a presidenta do Iphan.

Para isso, o órgão, vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), deu apoio aos próprios capoeiristas para realizar amplo inventário dos grandes grupos decapoeira e mestres no Brasil e ajudou-os a instalar comitês estaduais distribuídos pelo País. Neles, capoeiristas podem formular reivindicações e compromissos relacionados à salvaguarda e à promoção dessa manifestação cultural.

“A política do patrimônio imaterial tem uma especificidade: é fundamental que os mestres e praticantes tenham iniciativa porque passam a ser protagonistas da própria política”, destaca Jurema Machado. As medidas que favorecem a salvaguarda como ação sistemática do Iphan tiveram início com um decreto do ano 2000. Quatro anos mais tarde, houve outro grande avanço na área, quando se criou um departamento exclusivo para isso no órgão.

“É trazer para proteção do Estado toda uma diversidade de práticas e conhecimentos que são patrimônio brasileiro tanto quanto prédios e paisagens. É patrimônio vivo que implica uma complexidade grande, com muitas ações por parte do poder público, mas que temos aprendido a fazer”, conclui.

Com o título, a prática cultural afro-brasileira que é, ao mesmo tempo, luta, dança, esporte e arte, reúne-se agora ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA), à Arte Kusiwa- Pintura Corporal (AP), ao Frevo (PE) e ao Círio de Nazaré (PA), também reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Originada no século XVII, em pleno período escravista, a capoeiradesenvolveu-se como forma de sociabilidade e solidariedade entre os africanos escravizados, estratégia para lidarem com o controle e a violência. Hoje, é um dos maiores símbolos da identidade brasileira e está presente em todo território nacional, além de ter praticantes em mais de 160 países, em todos os continentes.

A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira tiveram o reconhecimento do Iphan como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008 e estão inscritos, respectivamente, no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes.

O Patrimônio Cultural Imaterial abrange expressões de vida e tradições de toda parte do mundo que ancestrais passam para seus descendentes. Segundo a Unesco, embora procure manter uma identidade e continuidade, esse patrimônio é vulnerável porque muda constantemente. Por isso, a comunidade internacional adotou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial em 2003.

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