Maria Alcina Fadista, um mito castrense em terras brasileiras

O fado é a sua vocação!

Natural de Cetos, no concelho de Castro Daire, Maria Alcina está no Brasil há 53 anos, onde adotou o fado como profissão e criou um estilo próprio. Após chegar ao Rio em 1953, passou por momentos difíceis, mas com o apoio da família, dos amigos e através da sua voz tornou-se uma das portuguesas mais conhecidas no país, sendo apelidada de “Maria Alcina Fadista”. Abriu um restaurante “A Desgarrada”. Após 45 anos dedicados ao fado, ainda hoje o seu nome é requisitado nos encontros da comunidade portuguesa no Brasil.

Ígor Lopes (Portugal)- A pouco mais de um mês de completar 67 anos de idade, Alcina recebeu o Mundo Lusíada em sua casa no Rio de Janeiro, onde contou como foi o começo da sua vida, a sua relação com a comunidade portuguesa radicada no Brasil, os grandes momentos da sua carreira, os nomes que não lhe saem da memória e as alegrias que o fado lhe deu.

Maria Alcina chegou ao Brasil em 1953, com 14 anos de idade, junto da mãe, para rever o pai separado pela guerra. O começo, como de todo emigrante, foi difícil, “mas a vontade de vencer e o carinho do povo brasileiro levou-me à vitória”, disse.

O fado foi uma bênção divina. “Graças ao fado, as minhas três filhas se realizam dentro da área da medicina e espiritualmente. Gravei três LP’s, quatro compactos e um CD pela “SomLivre”. Acho pouco para uma carreira de 45 anos, mas no Brasil as portas não se abrem facilmente para o tipo de música que escolhi, mesmo assim, tive muita sorte ao fazer muitos programas de televisão, novelas, mini-séries e a correr todo o Brasil e América do Sul com o meu canto”, comentou.

Para além do fado, Maria Alcina abriu um restaurante chamado “A Desgarrada”. Foram 25 anos a representar Portugal no Brasil num “cantinho” em Ipanema. Todas as noites cantava e proporcionava aos freqüentadores (90% eram brasileiros) a alegria de estarem em Portugal. “Fui muito feliz naquela época. Lá recebi presidentes da República, ministros, artistas, grandes poetas, embaixadores de muitos países que, mesmo sem perceber a língua portuguesa, inebriavam-se com o fado e com o choro da nossa guitarra”.

Em sua casa portuguesa passaram nomes conhecidos como: Carlos do Carmo, António Chainho, José Maria Nóbrega, António Mourão, Amália Rodrigues, António Campos, Sá Moraes, Lúcia dos Santos, Sebastião Robalinho, Mário Simões, Adélia Pedrosa, Teresinha Alves, Maria de Lourdes, Glória de Lourdes, Mário Rocha, Olivinha Carvalho, Hélia Costa, Paulo de Carvalho, Armando Nunes, Silvino Pinheiro, António Maria, António Ferreira, António Rodrigues, Víctor Lopes, Caçula Hilário, Claudia Ferreira, entre outros.

Maria Alcina lembrou épocas inesquecíveis como o contrato de um mês no Casino Estoril em 1974 e as participações nas novelas na TV Globo, além de participar por quatro anos, com o Tony Correa, no espetáculo teatral “Navegar é preciso”, que percorreu o Brasil inteiro. Em termos de reconhecimento, Alcina diz que o maior valor está em si mesma, reconhecendo que tudo o que fez foi em benefício da arte, da família e do ser humano. Hoje vivendo uma nova fase, um novo casamento, disse estar “eternamente” feliz. “Agradeço as oportunidades que a vida proporciona-me, procurando divulgar mais e mais a amizade luso-brasileira, visto que o Brasil recebeu-me de braços abertos e aqui encontrei e realizei todos os sonhos de uma adolescente que, aos 14 anos, pisou em terras de Vera Cruz”, encerrou.

3 Comments

  1. Gostaria muito de que me enviassem o email de Maria Alcina, frequentei muitos almoços de Domingo na Desgarrada em Ipanema e ainda sonho com a lasanha de Bacalhau.
    Obrigada.
    Ana Maria

  2. Gostaria de saber se o RFestaurante Desgarrada da Maria Alcin a, ainda existe? Isto porque estou indo para o Rio de Janeiro dia 13.04 e gostaria imensamente de matar a saudade daquela comida maravilhosa que era servida lá.
    Aguado retorno,
    OIbrigada,
    Aurea Maria

  3. Tive a oportunidade de entrevistar e visitar a Maria Alcina. Uma pessoa fantástica e afável. Ela vai fazer parte do meu livro “Fado no Brasil: Artistas & Memórias”, que será lançado em outubro próximo. Viva Maria Alcina Fadista! A Música em pessoa!

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: