Acordo ortográfico será discutido em audiências públicas no Brasil

Mundo Lusíada
Com Agencia Senado

Pasquale Neto e Ernani Pimentel. Foto Agencia Senado
Pasquale Neto e Ernani Pimentel. Foto Agencia Senado

O professor Ernani Pimentel, idealizador do projeto Simplificando a Ortografia, é um dos coordenadores do grupo de trabalho criado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) para discutir o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Ele pretende ampliar a discussão sobre a Língua Portuguesa e levar além do estágio atual as transformações no idioma. Segundo sua avaliação, o acordo ortográfico precisa ser repensado. “O acordo foi concebido em 1970, assinado em 1990 e promulgado em 2008. Já nasceu defasado” analisa.

O objetivo final do ciclo de debates, explica o professor, é levar propostas a respeito do acordo para exposição no Seminário Internacional Linguístico-Ortográfico da Língua Portuguesa, que será realizado em Brasília no mês de setembro. No evento, as melhores ideias serão selecionadas pelos participantes, que são especialistas e profissionais da Língua Portuguesa. Depois disso, audiências públicas amplificariam o assunto.

Na visão de Pimentel, o que está em jogo é o próprio ensino da língua. “O acordo mantém regras que estão dissociadas da didática moderna. É tão cheio de incoerências que nenhum professor em sã consciência pode dizer que o entende completamente” critica.

Sua intenção, expressa no nome de seu projeto, é simplificar normas ortográficas. Ele acredita que muitas são mantidas por motivos que não fariam mais sentido. “A grafia de certas palavras só tem explicação pela etimologia. Mas ninguém se preocupa mais em saber a origem das palavras. Então temos regras inaplicáveis, que não são práticas. Podemos eliminar algumas delas e facilitar o aprendizado”.

Por outro lado, o linguista Carlos Alberto Faraco, da Associação Brasileira de Linguística (Abralin), acredita que o país já está bem organizado em torno da proposta original do acordo e não vê razão para que se reabra a discussão da ortografia. “No momento, é absolutamente prioritário o fechamento do círculo do acordo, que veio não para reformar a ortografia, mas apenas para dissolver a dualidade de ortografias oficiais que estavam criando constrangimentos à internacionalização da nossa língua” opina ele.

Faraco acredita que o Brasil já está pronto para adotar definitivamente as normas do acordo ortográfico de forma exclusiva, o que só está previsto para acontecer em 2016. Atualmente, vive-se uma fase de transição, em que tanto as regras antigas quanto as novas devem ser aceitas como corretas.

“A partir de 2010, todos os milhões de livros do Programa Nacional do Livro Didático estão sendo publicados em conformidade com o acordo ortográfico. O sistema escolar o incorporou sem qualquer trauma. Os documentos oficiais estão ajustados. Toda a imprensa brasileira e todas as editoras o adotaram. Em suma, o acordo já está inteiramente implantado no Brasil de fato”.

Comissão
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) vem aprofundando o debate nacional a respeito do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Professores e linguistas consultados e atendidos pela comissão têm usado o espaço para trocar opiniões a respeito.

Os debates são realizados no âmbito de um Grupo de Trabalho Técnico (GTT) montado pela comissão, que reúne o Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa (Cellp), a Academia de Letras de Brasília (ALB) e o movimento Simplificando a Ortografia. Além dessas instituições, a Associação Brasileira de Linguística (Abralin) procurou a comissão para apresentar sua posição.

“Não queremos fazer uma reforma geral da ortografia. Queremos fazer o mínimo possível de mudanças, mas chegar a um consenso entre os países. Ainda estamos longe disso. As autoridades competentes têm que se envolver mais. Só a comissão se movimenta” diz presidente da CE, Cyro Miranda (PSDB-GO).

“Levei essa demanda à Casa Civil e observei que seria oportuno, inclusive em solidariedade a Portugal, que vivia um momento de crise econômica e teria dificuldades de conduzir a implementação” diz a senadora Ana Amélia (PP-RS), integrante da CE.

Ana Amélia relata ainda que deputados portugueses elogiaram a atitude da comissão, sentindo-se contemplados pelas novas discussões em torno do acordo ortográfico. “Portugal sentiu que teve pouco protagonismo, e é o berço da nossa língua. Nem todos os países haviam ratificado o documento. O Brasil não pode impor um acordo, tem que respeitar seus parceiros”.

1 Comment

  1. Desde o começo, Carlos Alberto Faraco se manifesta a favor do Acordo Ortográfico. É incontestável sua capacidade como especialistas, no entanto, vejo algo preocupante: ligado ao MEC, parece que ele não se deu ao trabalho de analisar o texto oficial do Acordo. Ninguém, nem o próprio Evanildo Bechara conhecia o que estava no texto do Acordo. O MEC deveria ter uma atitude mais lógica e colocar os especialistas para acompanhar como especialistas, não como testa de ferro. A própria Academia Brasileira de Letras não tem capacidade para promover algo assim por dois motivos: 1. Dos 40 membros, apenas 1 entende de ortografia, enquanto a Academia Brasileira de Filologia tem em todos os 40 membros, pessoas que são especialistas em língua e linguística; 2. Quando a ABL foi fundada, a capital do Brasil era no Rio de Janeiro, assim, por tradição, há mais lógica que a Academia de Letras de Brasília (onde fica a capital do Brasil) seja a sede dos debates e que o Senado Federal acompanhe de perto.

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