A Portugal de Guilherme de Almeida

Livro_MeuPortugal1932. São Paulo, abatida, derrotada. Seus líderes na incerteza de seu destino, enviados rumo ao exílio. Rumo a Portugal.

amigo certo do momento incerto…” 

E foi assim… Acolhidos calorosamente que os turistas da revolução chegaram nas terras que tinham ouvido falar nas velhas trovas de D.Diniz. Entre eles o consagrado poeta Guilherme de Almeida, autor de Nós, Meu, Raça, jornalista,um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, membro da Academia Brasileira de Letras.

Nos oito meses em que lá permaneceu, o poeta escreveu crônicas que seriam publicadas no jornal O Estado de S. Paulo e posteriormente reunidas num livro Meu Portugal, publicado em 1933, prestando assim uma das mais belas homenagens.

A Portugal de Guilherme nos é descrita com o olhar de quem realmente da maneira dos grandes poetas… desse flaneur,  as palavras substituem a paleta de cores do pintor em passagens como essas:

Lisboa é a caixa de cores com que maio costuma pintar as paisagens pequenas, todas salpicadinhas de tintas,desta Europa estreita,apertada,aproveitada.

Todas as cores moram aqui numa doidice harmoniosa.”

“Lisboa…Só Boa ? Não! É Lis…óptima! “

“Sobre o Tejo estanhado vagam as velas cor de açafrão…”

Pelas ruas estreitas e antigas, carregadas de história, ele pode perceber nas pedras de Cintra… “Nessas pedras o reflexo de tantas e tantas coisas que ellas viram e ninguém mais viu, que ellas sabem e ninguém mais…”. Poesia…sempre.

Pensando nas origens portuguesas do povo brasileiro, escreveu:

A gota de sangue que daqui partira Martim Affonso de Souza, há quatrocentos anos, refluía no coração… era o regresso, o retorno, no refluxo das águas que a levaram, da gotinha de sangue, longo tempo refugiada, refugindo…”

Na ida para o destino incerto uma passageira clandestina acompanhou os refugiados, mas na volta lá estava ela novamente .“Ella é a saudade”. Agora saudade daquela gente, daquela terra acolhedora.não mais um destino incerto.Agora o Lar.

 

Trechos em itálico extraídos do livro MEU PORTUGAL de Guilherme de Almeida, poeta que permaneceu isolado nas terras lusíadas após a revolução de 1932.

 

Por Marlene Laky
Jornalista e conservadora-restauradora do Museu Casa Guilherme de Almeida, São Paulo, SP, Brasil.

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