Vitória de Guterres é também a vitória da lusofonia, diz presidente

Da Redação
Com agencias

MarceloRebeloSousaEm entrevista exclusiva, Marcelo Rebelo de Sousa comentou a decisão do Conselho de Segurança de nomear o ex-primeiro-ministro de Portugal ao posto de próximo secretário-geral da ONU. O anúncio foi feito em Nova York pelo presidente rotativo do Conselho de Segurança, o embaixador da Rússia, Vitaly Churkin. O novo mandato começa em 1º de janeiro de 2017.

O Presidente de Portugal comentou que a escolha de Antonio Guterres traz esperança. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, esperança porque é uma oportunidade para as Nações Unidas “se reverem, se repensarem, para refletirem sobre a sua história e o seu futuro”. Além disso, citou Guterres como um orgulho nacional

Também o próprio Guterres participou de uma entrevista exclusiva, onde aponta seus pontos de trabalho para o próximo ano. Guterres disse que tem orgulho das raízes portuguesas. “Confesso que gosto muito de ser português. Tenho um grande orgulho nisso. E o mundo de língua portuguesa é um mundo de uma variedade extraordinária em todos os continentes e que tem dado contributos muito importantes à civilização universal.”

O presidente português comentou que Antonio Guterres é, da sua geração, o “melhor de todos nós”. E que para o mundo da lusofonia, essa é uma grande oportunidade. “É um momento histórico porque é a possibilidade singular de ter alguém que é uma emanação desse mundo e dessa comunidade numa posição-chave nas Nações Unidas e no mundo” disse.

António Manuel de Oliveira Guterres nasceu em Lisboa em 30 de abril de 1949. Ele foi deputado da Assembleia da República, presidente da Assembleia Municipal do Fundão, atuou em política europeia e, em 1995, tornou-se primeiro-ministro de Portugal. Em 2005, Guterres foi nomeado alto comissário da ONU para Refugiados, cargo que ocupou até o ano passado. Confira trechos da entrevista do portal da Rádio ONU, parceiro do Mundo Lusíada:

O Conselho de Segurança acaba de confirmar, por aclamação, a recomendação do nome do engenheiro António Guterres, agora, para a Assembleia Geral. É uma grande vitória. Qual é a sua reação?

Marcelo Rebelo de Sousa: A minha reação é, por um lado, a de louvor ao engenheiro António Guterres. Ele pertenceu e pertence a minha geração e foi sempre o melhor de todos nós na sua inteligência, no seu brilho, na sua humildade, na sua capacidade de serviço, no seu sentido social, na sua abertura à humanidade e essas qualidades e a forma como desempenhou brilhantemente o Alto Comissariado para os Refugiados explicam esta aclamação, este consenso, esta convergência na comunidade internacional.
A segunda palavra é de esperança. Esperança porque é uma oportunidade importante para as Nações Unidas. As Nações Unidas têm agora uma oportunidade para se reverem, se repensarem, para refletirem sobre a sua história e o seu futuro e sobre os desafios dificílimos que o próprio engenheiro Guterres já enunciou nas primeiras palavras que acaba de dirigir, em várias línguas, a todo o mundo. Em terceiro lugar de orgulho nacional. É evidente que é mais importante o serviço da comunidade internacional e o serviço das Nações Unidas do que o orgulho nacional. Mas não posso esconder o júbilo e alegria muito profunda por ver um português consagrar aquilo que nós sentimos que é a vocação desde sempre do nosso país: fazer entendimentos, estabelecer pontes entre culturas, civilizações e continentes.
É um dia muito feliz para Portugal e os portugueses, mas espero que seja sobretudo o começo de uma caminhada.

Qual é a importância dessa eleição para o mundo da lusofonia, para os países de língua portuguesa especificamente?

MRS: Para o mundo da lusofonia foi este o momento de grande convergência porque o engenheiro Guterres conhece todos os países, todas as comunidades da lusofonia espalhadas pelo mundo. Esteve em todas elas. Contactou com os seus responsáveis mas também com os seus povos ao longo de décadas. E para o mundo da lusofonia, essa é uma grande oportunidade. Esse é também um momento histórico porque é a possibilidade singular de ter alguém que é uma emanação desse mundo e dessa comunidade numa posição-chave nas Nações Unidas e no mundo.
Não podemos esquecer que comunidade da lusofonia é uma comunidade com peso linguístico, com peso cultural, com peso econômico, com peso financeiro e com peso humano. À sua maneira, a vitória do engenheiro Guterres é também a vitória da lusofonia.

Embaixadores CPLP
Os embaixadores lusófonos também comentaram a decisão para o próximo ano. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, espera que o próximo secretário-geral da ONU se concentre nas reformas da organização. “Ele vai ser como secretário-geral das Nações Unidas aquilo que hoje é: uma pessoa independente, com liderança, apostado na reforma das Nações Unidas de forma que o resultado do trabalho das Nações Unidas se veja no campo, na rua, nos países e menos em sua estrutura interna. E alguém muito habituado a estabelecer compromissos.

Também o embaixador do Brasil, Antonio Patriota, destacou as qualidades de Guterres, que considerou “raras num líder”. “Guterres reúne todas as qualidades profissionais, pessoais, a capacidade de falar com lideranças mundiais e o contato humano com aqueles que sofrem. São qualidades difíceis, raras num líder e que estão presentes neste grande português. O fato de ele falar a nossa alegria é claro que é uma alegria suplementar para todo o povo brasileiro.”

O embaixador de Cabo Verde junto à ONU, Fernando Wahnon Ferreira, disse haver razão para felicidade não somente no seu país mas em todos os lusófonos. “É um prazer estar a assistir a este momento. É uma alegria, finalmente, termos a um lusófono que vale pela sua competência, pela sua experiência e que nos deixa a todos muito felizes.”

A Guiné-Bissau tem expectativas, o embaixador João Soares da Gama disse que Guterres poderá fazer a diferença acompanhando mais de perto a situação no terreno. “O meu país está na agenda do Conselho de Segurança há quase 18 anos. E na agenda da Comissão de Consolidação da paz há 10 anos. O secretário-geral tem sempre uma palavra a dizer relativamente ao esforço que pode ser dado pela comunidade internacional particularmente as Nações Unidas relativamente à consolidação da paz. Toda a Guiné-Bissau espera muito do engenheiro António Guterres que conheceu a Guiné-Bissau não só como simples cidadão lusófono mas também como ex-primeiro-ministro.”

O embaixador de Moçambique, António Gumende, disse que o interesse da organização na busca da paz no seu país vai continuar. “Moçambique está num processo encaminhado de diálogo interno que tem caracterizado a procura de soluções para a questão da paz no país. Creio que esse processo vai continuar. Temos neste momento alguns intervenientes externos que estão envolvidos no processo. As Nações como órgão internacional encarregue das questões atinentes à paz continuarão a apoiar como têm acompanhado até agora o processo.”

O embaixador Carlos Agostinho das Neves afirmou que São Tomé e Príncipe “dará todo o apoio” para que o novo secretário-geral “exerça da melhor forma as suas funções.” “É para nós um momento extremamente importante poder ter um secretário-geral de língua portuguesa. Para países de língua portuguesa isso tem um grande significado, o engenheiro Guterres é uma pessoa com grandes conhecimentos, com grande capacidade. Espero que possa fazer um grande trabalho. É isso que eu desejo. Nós daremos todo o apoio para que ele exercia da melhor forma as suas funções.”

Atualmente, Timor-Leste preside a Comunidade de Países de língua Portuguesa, Cplp. A embaixadora timorense junto às Nações Unidas, Milena Pires, ressaltou ainda o papel que o secretário-geral designado teve na independência de seu país. “É um grande dia para as nações Unidas, naturalmente para a Cplp e para Portugal também. Para Timor-Leste dado o que tem sido a nossa relação com Portugal. E o papel determinante que o engenheiro António Guterres teve na independência de Timor-Leste peso que é um dia muito especial, foi uma oportunidade para os países da Cplp juntos apoiar esta candidatura que foi do Engenheiro António Guterres. A Cplp só tem a ganhar com esta nomeação.”

“Eu gostaria de partilhar com os falantes do português, uma mensagem de satisfação, de muita satisfação mesmo, por termos eleito António Guterres. Ele foi eleito por todos nós, não apenas por nós de língua portuguesa. Ele foi eleito, desde o princípio, no Conselho de Segurança com uma aceitação, uma unanimidade o que de fato, demonstra bastante o valor que tem e o que traz como liderança para essa nossa organização” disse de Angola o embaixador Ismael Martinsseu.

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