São Tomé: Fragilidade de países africanos lusófonos enfraquece a posição na CPLP

Da Redação
Com Lusa

Manuel Pinto da Costa, em Pantufo, periferia sul da capital. Foto: CRISTIANO COSTA/LUSA
Manuel Pinto da Costa. Foto: CRISTIANO COSTA/LUSA

Em visita a Cabo Verde, o Presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, defendeu que a fragilidade na Guiné-Bissau e em Moçambique afeta a relação entre os países africanos lusófonos e enfraquece a sua posição na CPLP.

“Sabemos que se qualquer um dos nossos países estiver fragilizado isso afeta as relações entre os cinco países africanos lusófonos e […] pode enfraquecer a nossa posição no seio da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)”, disse o Presidente de São Tomé e Príncipe, sublinhando a importância da coesão entre os cinco países africanos lusófonos para garantir a eficácia da sua ação na referida comunidade.

O chefe de Estado são-tomense falava nesta quinta-feira na cidade da Praia, no final de um encontro com o seu homólogo cabo-verdiano, no âmbito da visita de Estado que faz até domingo ao país.

Pinto da Costa disse ter feito já diligências junto dos dois países, mas ressalvou que a solução para os problemas terá que ser encontrada internamente.

“Temos estado em contato com a Guiné-Bissau e com Moçambique, mas a verdade é que ninguém de fora pode resolver os problemas, nem da Guiné-Bissau nem de Moçambique. Têm que ser os guineenses e os próprios moçambicanos a fazer o esforço suficiente para poder resolver os problemas internos”, disse Pinto da Costa.

A Guiné-Bissau está de novo mergulhada em instabilidade política com o parlamento a ter que suspender a sua atividade por questões de segurança e em Moçambique o líder da Renamo, Afonso Dhlakama ameaça tomar o poder no norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

Na quarta-feira, o secretário-geral da Renamo foi baleado e a sua situação clínica é considerada preocupante.

Manuel Pinto da Costa apontou o exemplo do Cabo Verde, onde, segundo disse, os vários partidos políticos sabem gerir as diferenças sem prejudicar o desenvolvimento do país.

“Os cabo-verdianos têm em primeiro lugar Cabo Verde. Quando é Cabo Verde que está em causa então há sempre possibilidade de diálogo e de entendimento. Isso é que deve prevalecer nos nossos países”, disse.

“Cabo Verde pode ajudar muito os nossos países a chegar a esse nível de mentalidade”, acrescentou.

Por seu lado, Jorge Carlos Fonseca, sublinhou que o encontro foi o início de uma conversa que se prolongará até ao final da visita, adiantando que foi possível começar a abordar a situação de Moçambique e da Guiné-Bissau.

“Começamos a abordar a situação em países como a Guiné-Bissau e Moçambique e teremos oportunidade de aprofundar o diálogo sobre estas questões e ver o que cada um de nós poderá fazer ou o que poderá vir a ser feito no quadro do FORPALOP [Fórum dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa] ou da CPLP”, disse Jorge Carlos Fonseca.

Jorge Carlos Fonseca disse que foi ainda possível abordar com o seu homólogo a situação interna são-tomense e cabo-verdiana nomeadamente os ciclos eleitorais que se avizinham, com eleições legislativas, autárquicas e presidenciais em Cabo Verde e presidenciais em São Tomé e Príncipe.

A preocupação pela situação na Guiné-Bissau foi também manifestada pelo presidente da Assembleia Nacional, Basílio Mosso, durante o seu discurso na sessão especial para receber o presidente são-tomense.

Basílio Mosso manifestou “preocupação pelo clima de tensão política que a Guiné-Bissau tem experimentado nos últimos tempos” e formulou votos de que “o quanto antes, no quadro da legalidade democrática, a normalidade regresse ao quotidiano” do povo guineense.

No seu discurso no parlamento cabo-verdiano, Manuel Pinto da Costa, abordou o “idêntico percurso democrático” dos últimos 25 anos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe e a “fraternidade” que, segundo o chefe de Estado são-tomense, tem permitido cooperar para o desenvolvimento mútuo “num exemplo de parceria sul-sul que tem vindo a reforçar-se”, nomeadamente com a atribuição do direito de nacionalidade são-tomense aos cabo-verdianos residentes naquele país.

Antes da sessão especial na Assembleia Nacional, em que participaram além dos deputados, o Governo, membros do corpo diplomático e representantes das organizações internacionais, Manuel Pinto da Costa depôs uma coroa de flores no memorial a Amílcar Cabral, “pai” da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

A visita prossegue nesta tarde com visitas de cortesia ao primeiro-ministro José Maria Neves, aos partidos PAICV (no governo) e MpD (maior partido da oposição) e encontros com a comunidade são-tomense no país.

Sexta-feira e sábado Manuel Pinto da Costa desloca-se às ilhas de Santo Antão e de São Vicente para participar, entre outras atividades, numa sessão cultural no novo Centro cultural “Sete Sóis Sete Luas” em Ribeira Grande (Santo Antão) e visitar a exposição sobre Cesária Évora, no Palácio do Povo, no Mindelo.

De regresso à ilha de Santiago, Manuel Pinto da Costa fará, no domingo, uma visita ao interior, nomeadamente aos municípios de Santa Catarina e Tarrafal.

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