Países lusófonos sem acesso a fármacos básicos para doenças mentais

Da Redação
Com Lusa

CPLPO presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health identificou falhas no acesso aos medicamentos básicos no tratamento de doenças mentais em alguns países africanos lusófonos, defendendo a implementação de políticas que melhorem o uso destes fármacos.

“Em alguns países [africanos lusófonos] há problemas de acesso a medicamentos essenciais. O grande objetivo é assegurar pelo menos o acesso a um conjunto de medicamentos essenciais nas doenças mentais, quer nas mais graves, como a esquizofrenia, doença bipolar ou epilepsia, como nas mais comuns, como a depressão ou ansiedade”, disse Miguel Caldas de Almeida.

O presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health falava, na cidade da Praia, no âmbito de um seminário internacional sobre acesso e utilização dos medicamentos nas doenças mentais, em que participaram especialistas em saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Ressalvando que as situações diferem de país para país, Miguel Caldas de Almeida reforçou a ideia de que o objetivo é assegurar que qualquer pessoa com uma doença mental tenha acesso aos medicamentos essenciais. “Estamos longe ainda disso”, disse.

O seminário é organizado pelo Lisbon Institute of Global Mental Health, em colaboração com da Fundação Calouste Gulbenkian, a OMS, a Ordem dos Médicos de Cabo Verde e a Associação de Promoção de Saúde Mental “A Ponte” e pretende debater, analisar e propor medidas que resultem numa melhoria do acesso, mas também da utilização desse tipo de medicamentos.

Miguel Caldas de Almeida lembrou que na última década têm surgido no mercado medicamentos para tratamento destas doenças que são “muito caros” e não “significativamente mais eficazes”.

“Há muitos países com poucos recursos que gastam os poucos recursos que têm nos medicamentos mais caros sem grande vantagem e não conseguem depois um acesso generalizado àqueles que até podem não ser muito caros, mas que resolvem os problemas”, considerou o responsável.

Daí a importância de implementar estratégias que permitam, entre outros aspectos, adquirir os medicamentos a preços mais acessíveis, encontrar, dentro de cada país, formas de assegurar que os medicamentos estão disponíveis em todas as regiões e que os profissionais de farmácia e clínica geral têm formação para promoverem a melhor utilização desses medicamentos.

“Além do aspeto financeiro, há muito trabalho a fazer do ponto de vista técnico, de formação e organizativo e do ponto de vista político. Ter uma política de saúde mental e dentro da saúde mental de facilitação de acesso aos medicamentos”, disse.

O bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Daniel Silves Ferreira, identificou barreiras no acesso aos medicamentos e outras decorrentes do mau uso destes por falta de capacitação dos profissionais de saúde.

“É preciso que os medicamentos estejam disponíveis, mas também que tenhamos gente que saiba utilizar racionalmente esses medicamentos e o problema muitas vezes reside aí”, disse.

Por seu lado, o ministro da Saúde de Cabo Verde, Arlindo do Rosário, defendeu a necessidade de ampliar o acesso da população a estes medicamentos, mas ressalvou que estes não podem ser tratados “como mercadoria”, devendo o seu “uso ser pautado pela racionalidade e mediante orientação de um profissional”.

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