Mia Couto: Guterres vai herdar uma máquina “descredibilizada” na ONU

Da Redação

Mocambicano_MiaCoutoO escritor moçambicano Mia Couto manifestou-se contente com a indicação de António Guterres ao cargo de secretário-geral da ONU, por ser “alguém de língua portuguesa”, mas considerou que a máquina que vai herdar “está descredibilizada”.

O escritor, que falou antes de Guterres ser formalmente indigitado secretário-geral da ONU, defende que pode eventualmente ajudar a resolver conflitos como o confronto armado que existe em Moçambique e que opõe o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), caso seja pedida uma intervenção das Nações Unidas.

“Eu acredito que essa presença pessoal e a ligação que ele tenha e a maneira como os países africanos olham para ele, nem que seja uma maneira romântica de olhar, mas que olham como um parceiro, pode ajudar a resolver um conflito particular”, disse à Lusa.

No entanto, advertiu: “Ele é apenas uma pessoa lá e há uma máquina que ele vai herdar e ele vai ter que mexer nela, é uma máquina que está descredibilizada, que foi secundarizada em grandes conflitos e que nem sempre é o melhor modelo de democracia e transparência”.

O escritor, vencedor do Prêmio Camões 2013, distinguiu também o confronto em Moçambique de “outros conflitos em que blocos de interesses se digladiam”, considerando que nestes casos será “quase um milagre” se António Guterres conseguir intervir.

No atual contexto mundial, considerou, pode colocar-se em causa a própria designação da ONU.

“As nações deixaram de mandar em si mesmas, há forças que controlam as nações, há nações que se imaginam elas próprias tendo o papel da ONU, que são os polícias do mundo e acham que têm esse direito”, disse.

Questionado sobre se África deveria ter um assento permanente na ONU, Mia Couto considerou que “era essencial [o continente] ter uma maior representatividade no Conselho de Segurança”, defendendo que “qualquer coisa tem de ser alterada” num órgão que “tem de resolver situações de conflito militar e no qual estão representadas as maiores potências produtoras de armas”.

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