Dia da Língua: Pratos, obras e artistas que são unanimidade na CPLP

Da Redação

O Brasil compartilha com outros oito países mundo afora, espalhados pelos quatro continentes, não apenas a língua portuguesa, que ganha novos sotaques em cada território, mas também a cultura. Todos esses países estão representados na X Reunião de Ministros da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Salvador, dias 4 e 5 de maio. Dos livros à mesa, compartilhamos grandes autores, artistas e pratos marcantes na culinária.

Na literatura, a poesia de Luís Vaz de Camões é uma das mais importantes heranças do povo português. Os Lusíadas, que retrata a viagem do navegador Vasco da Gama para a Índia, é considerada a grande epopeia portuguesa. “Por mares nunca dantes navegados” é um dos versos mais famosos da obra, publicada pela primeira vez em 1572. De Camões para cá, a literatura dos países de língua portuguesa continuou ganhando destaque mundial.

De acordo com dados divulgados em 2016 pelo Observatório da Língua Portuguesa, associação sem fins lucrativos que contribui para divulgação do idioma, Paulo Coelho está no topo da lista dos autores mais traduzidos no mundo, seguido de José Saramago (Portugal), Jorge Amado (Brasil), Fernando Pessoa (Portugal), Leonardo Boff (Brasil), Eça de Queiroz (Portugal), Antonio Lobo Antunes (Portugal), José Mauro de Vasconcelos (Brasil) e Machado de Assis (Brasil).

O escritor angolano José Eduardo Agualusa leva a língua portuguesa para outros países: seus livros já foram traduzidos em 25 idiomas. Em 2010, ele lançou Milagrário Pessoal, a história de um homem que, para seduzir uma mulher, lhe oferece uma nova linguagem. Além de uma história de amor, o livro é uma homenagem à língua portuguesa.

“Há em comum nos países que falam português tudo o que a língua transporta: a música, o riso, a luz. E, depois, a história, a culinária, os genes. Há universos em comum”, diz Agualusa (Foto: Divulgação)
“Há em comum nos países que falam português tudo o que a língua transporta: a música, o riso, a luz. E, depois, a história, a culinária, os genes. Há universos em comum. Já visitei todos os países e territórios onde se fala a nossa língua, com exceção da Guiné-Bissau e de Casamance, no Senegal”, conta Agualusa. “Gosto de pensar, como acontece em Milagrário Pessoal, que as palavras nos transformam, e que palavras melhores nos podem melhorar — e, finalmente, que seria possível operar revoluções colocando em circulação certo número de palavras mágicas”.

Destaque mundial
No campo das artes, são inúmeros os artistas nascidos em países de língua portuguesa que fazem sucesso pelo mundo. O ator Rodrigo Santoro conquistou as plateias do cinema com o personagem Xerxes, no filme 300. A atriz Lucélia Santos encanta os telespectadores até hoje na pele da personagem Escrava Isaura. Em 2016, a novela foi a quinta no ranking dos programas mais vendidos ao exterior pela emissora Globo, somando 104 países licenciados a exibir a trama. Na música, o cantor português Roberto Leal fez sucesso no Brasil na década de 80 com canções como Roda Roda Vira, que posteriormente ganhou uma versão bem-humorada do grupo Mamonas Assassinas, e até hoje faz muito sucesso nas comunidades luso-brasileiras.

O músico português António Zambujo, que em 2016 lançou o álbum Até Pensei que Fosse Minha, com canções de Chico Buarque, fala de sua relação com a música brasileira. “Quando escutei pela primeira vez o João Gilberto, fiquei apaixonado pela sua música e senti uma vontade enorme de conhecer tudo o que ele cantava. O que mais me encanta na língua portuguesa são os diferentes sotaques que temos. Quanto ao desafio de cantar as musicas do Chico, não foi o sotaque que mais me preocupou. Foi a densidade das palavras, a complexidade das melodias”, explica.

Costa Neto, músico moçambicano radicado em Portugal, fundou, em 2016, em parceria com outros artistas, a Associação dos Artistas da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa. O objetivo é ganhar mais representatividade oficial. “É preciso que a comunidade da língua portuguesa tenha mais projeção. Para isso, precisa estar mais unida e organizada”, ressalta. O músico frisa que a língua portuguesa é a oficial em alguns países africanos, mas eles têm outras línguas nacionais. Só em Moçambique, são mais de 30.

“Eu faço música nas diversas línguas. Em Guiné-Bissau, por exemplo, se fala também o crioulo. A língua portuguesa é a ponte, mas, à medida que vamos viajando, encontramos coisas totalmente diferentes. Lisboa e Portugal têm um elevado consumo de música africana. Em Lisboa, temos muitas afinidades com artistas que falam português, não só africanos, mas também brasileiros, timorenses…”, explica.

Intercâmbio na gastronomia
A mesa dos brasileiros também sente a influência de outros países. De Portugal, herdamos o bacalhau – e disso o português Armenio Ferreira Diogo sabe tudo, ou quase! Dono de um centenário restaurante em Recife, frequentado até por presidentes da República, ele importa o bacalhau de Portugal. O peixe é transformado em finas iguarias, como o bacalhau a Gomes de Sá, receita tradicional que ganhou o nome de seu criador, José Luís Gomes de Sá Júnior. Negociante de bacalhau, ele ofereceu a receita a um amigo, no início do século XX, acrescentando ao manuscrito: “João, se alterar qualquer coisa desta receita, já não fica capaz”.

“A culinária de Portugal é mais conservadora do que a brasileira. Uma diferença que eu vejo é que aqui no Brasil se come para viver. Em Portugal, eles vivem para comer! Vai começar lá a época da sardinha, então se come sardinha na rua, assada na hora. No nosso restaurante, importamos bacalhau de Portugal. Tem que saber comprar, muita coisa por aí não é bacalhau. No restaurante, sai muito bolinho de bacalhau, vendemos cerca de 150 por dia”, conta Armênio, que tem 86 anos e chegou ao Brasil em 1951.

Da África, incluímos no nosso cardápio pratos como acarajé, rabada, angu, pirão e outros que fazem parte do dia a dia. E como esquecer a feijoada, criada no Brasil pelos escravos? Ana Célia Batista, chef de restaurante, em Salvador, fala sobre como nossa cozinha ganhou um toque especial com a ajuda dos africanos.

“Trabalhamos no restaurante com comida baiana e africana. Tem uma diferença entre as duas: a nossa tem dendê, a africana não tem. A comida baiana veio do candomblé, o feijão fradinho é comida de Oxum, o caruru (amalá, na língua Yoruba) é de Xangô”, explica Ana Célia.

Da culinária africana, a dona do restaurante destaca o fufu inha, prato da Nigéria, composto por peixe frito no dendê, com quiabo inteiro temperado com vinagre e farofa de camarão. De Angola, temos o ebubu flô, peixe ao molho de camarão com purê de banana-da-terra, e o fuzura, isca de filé mignon com banana da terra frita e gengibre. O tempero forte dos africanos é o gengibre, que não é tão utilizado na culinária brasileira.

Ana Célia reconhece que ainda existem poucos restaurantes africanos no Brasil, e que seria importante mudar essa realidade. “Temos que conhecer mais a culinária africana. É uma comida de qualidade e saudável. Eles usam muito peixe, inhame, batata doce e goma da mandioca”, completa.

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