Crise brasileira ameaça Festival Internacional de Artes de Língua Portuguesa

Da Redação
Com Lusa

O Festival Internacional das Artes de Língua Portuguesa (Festlip), que reúne anualmente artistas dos países de língua portuguesa, no Rio de Janeiro, pode ser cancelado este ano por falta de patrocínio, disse à agência Lusa a sua organizadora, Tânia Pires.

“Já adiamos o Festlip para dezembro, porque não temos nenhum patrocínio ou parceria confirmada. Se não conseguirmos mudar esta situação até ao mês de agosto, teremos de cancelar”, disse a responsável da Talu Produções, que organiza anualmente o festival.

Nos últimos oito anos o festival contou principalmente com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, mas, até agora, este organismo não respondeu a nenhum contato dos organizadores, para sinalizar se vai patrocinar ou não o evento.

“Não tivemos resposta nenhuma da Prefeitura do Rio de Janeiro. Perdemos também o apoio que tínhamos da iniciativa privada, por isto, o Festlip está ameaçado”, frisou Tânia Pires.

A falta de verbas públicas está relacionada com o momento turbulento do Brasil, país que, nos últimos dois anos, vive a maior crise económica de sua história, problema agravado pelo envolvimento dos seus principais líderes políticos em denúncias de esquemas de corrupção.

No caso do Rio de Janeiro, a situação é ainda pior, visto que os governos do Estado e da cidade estão deficitários e têm grande dificuldade em manter até mesmo os seus serviços públicos básicos em funcionamento.

A organizadora do Festlip reconhece a crise, mas lembra que o cancelamento do festival seria um exemplo negativo dado pelo Brasil à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), principalmente agora que o bloco é presidido pelo país sul-americano no biênio de 2016-2018.

“Um evento como este é uma vitrine da língua portuguesa no mundo. Todos os países [da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, CPLP] estão solidários, cobrando, e será uma perda muito grande ficar um ano sem realizar o festival. A própria CPLP já disse [numa publicação oficial], que a Festlip reflete seu âmago e a sua essência”, salientou.

Apesar dos problemas, a organizadora adiantou à agência Lusa que, se for realizada, a 9.ª edição da Festlip irá homenagear a companhia portuguesa Teatro Meridional, de Lisboa, de Miguel Seabra e Natália Luiza.

“O homenageado seria o grupo Meridional de Lisboa, que completa 25 anos de trabalho neste ano. O grupo seria representado pelas figuras do diretor e encenador Miguel Seabra e da diretora e dramaturga Natália Luiza. Eles já foram convidados, ficaram muito surpresos e felizes”, contou Tânia Pires.

O evento também caminhava para se transformar num festival de artes de linguagem digital.

“Tínhamos a intenção de fazer transmissões usando a internet para os nove países de língua portuguesa, que poderiam acompanhar tudo o que aconteceria no Rio de Janeiro em tempo real (…). Era um passo grande que o festival pretendia dar”, explicou.

Os organizadores manifestaram ainda intenção de montar um espetáculo teatral, reunindo um ator de cada um dos países da CPLP e um encenador brasileiro.

“A criação do espetáculo aconteceria por meio de encontros virtuais, nos quais o diretor falaria com os atores, usando a internet. Os atores viriam para o Brasil cinco dias antes da abertura do festival e a peça seria montada. É algo que nunca foi feito antes, uma outra novidade”, concluiu a organizadora.

O Festlip é um evento organizado desde 2008 para valorizar o teatro e outras expressões artísticas produzidas no Brasil, Cabo Verde, Angola, Portugal, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Moçambique.

Em 2016, o Festlip, foi dedicado exclusivamente ao dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, e contou com a participação do Teatro da Garagem, de Lisboa, que estreou “A Vida Como Ela É”, peça inspirada nas crônicas do escritor, e com o Elinga Teatro, companhia angolana de Mena Abrantes, que apresentou “A Mulher sem Pecado”.

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