Cai investimento direto de Portugal nos Países Africanos de Língua Portuguesa

Da Redação
Com Lusa

O Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, presta declarações perante a Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, 01 de fevereiro de 2013 na Assembleia da República em Lisboa. Foto Lusa
O Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Foto Arquivo Lusa

O investimento direto bruto de Portugal nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e em Timor-Leste caiu 78% no ano passado, de acordo com os números divulgados pelo Banco de Portugal em 06 de outubro.

Segundo o documento, que sintetiza as “Relações econômicas e financeiras de Portugal com os PALOP e Timor-Leste”, divulgado em Lisboa no âmbito dos Encontros de Lisboa entre os bancos centrais dos países lusófonos, houve “uma redução significativa do investimento direto bruto de Portugal nos PALOP e em Timor-Leste em 2013, passando a representar 1,8% do total do investimento direto bruto português no exterior”, quando em 2012 este valor chegou a 7%.

No ano passado, “o montante aplicado pelos investidores portugueses nestes países atingiu os 246 milhões de euros, menos 78% que em 2012, reduzindo-se relativamente a todos os países com exceção de São Tomé e Príncipe”.

Tal como noutros setores, a principal relação econômica de Portugal é com Angola, país que foi o maior receptor de investimento, com 53% do total, seguindo-se Moçambique, com 38%.

Ainda segundo os números divulgados, o principal setor do investimento português nestes países foi a atividade financeira (52%), seguindo-se a construção, com 25%, que de resto recebeu um quarto de todo o investimento estrangeiro português deste setor.

Angola recebeu a maior redução nos montantes investidos, com uma queda de 85%. “As atividades financeiras (intermediação monetária e outras atividades financeiras e de seguros), o comércio e a construção foram as principais responsáveis mas mantêm-se como os mais representativos do investimento português naquele país, reunindo a quase totalidade dos montantes ali investidos”.

Moçambique, o segundo maior destino de investimento luso em África, também viu o valor reduzir-se no ano passado: “Para Moçambique foram canalizados 93 milhões de euros em 2013, um decréscimo de 39% relativamente a 2012, sobretudo com menor investimento bruto português em atividades financeiras, contudo esse setor e a construção mantiveram-se como os mais importantes, representando 93% do total de investimento bruto português aplicado em território moçambicano em 2013”.

Em sentido inverso, “o investimento bruto direto dos PALOP e de Timor-Leste em Portugal atingiu 87 milhões de euros, uma redução de 62% face a 2012”, lê-se no relatório, que dá ainda conta de que 95% do total do investimento teve origem em Angola e esteve concentrado em atividades financeiras e na construção, que representa 64% do investimento angolano em Portugal.

Empresas mal geridas
No mesmo encontro, o governador do Banco de Portugal afirmou que as empresas portuguesas são mal-geridas, em média, e as Pequenas e Médias Empresas (PME) são muito sensíveis a pequenos acidentes financeiros. “A maior debilidade da economia portuguesa é os gestores, não são os trabalhadores”, disse o governador, reconhecendo que, também por isso, as PME “são muito sensíveis a pequenos acidentes financeiros”, o que, por sua vez, “influencia o balanço dos bancos”.

Fazendo uma análise à economia nacional e às fragilidades das empresas, o banqueiro central considerou que “a primeira prioridade da política pública era converter crédito não bancário em capital e ver quais os incentivos ou obstáculos que dificultam esta conversão”, lembrando que de acordo com os dados disponíveis, “as empresas preferem contrair empréstimos junto dos acionistas ou sócios em vez de irem ao banco ou fazerem aumentos de capitais”.

Carlos Costa lamentou que os gestores das empresas, principalmente das mais pequenas e de tradição familiar, tenham relutância em mostrar as contas das suas empresas e em acolher novos sócios. Para Costa, é necessário uma “transformação estrutural do tecido empresarial português” que otimize a utilização da capacidade produtiva, e que crie condições para atrair investimento direto estrangeiro.

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