2015: Novo governo moçambicano terá de atacar pobreza e desemprego, diz analista

Da Redação
Com Lusa

Foto Arquivo: Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, durante audiência no Palácio Presidêncial, julho de 2011, em Maputo. ANTÓNIO SILVA/LUSA
Foto Arquivo: Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, durante audiência no Palácio Presidêncial, julho de 2011, em Maputo. ANTÓNIO SILVA/LUSA

O analista Fernando Lima considera que, apesar da vitória da Frelimo nas últimas eleições, os moçambicanos mostraram descontentamento com a governação e que o futuro executivo terá de dar resposta à pobreza e desemprego ou enfrentar instabilidade social.

“A administração tem de atacar estes problemas sob pena de voltarmos a ter cenários de manifestações de rua e de instabilidade”, disse à Lusa o administrador e jornalista do grupo Mediacoop, que edita o semanário Savana e o diário Mediafax, e comentador da televisão privada STV.

Segundo Fernando Lima, o novo governo tem de ter em conta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, que a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder desde 1975) e o seu candidato presidencial ganharam, embora longe da votação de há cinco anos, o que representa “um grande descontentamento manifestado nas urnas”.

“O governo tem de dar resposta ao ambiente de desemprego e pobreza da grande maioria da população e isso significa também gerir expectativas em relação ao potencial de riqueza do país”, observou.

Filipe Nyusi deverá ser empossado Presidente da República no início de 2015, após dois mandatos de Armando Guebuza, e Fernando Lima espera “um governo ideologicamente e partidariamente menos conotado” e com “mais ênfase no perfil de mérito e competência das pessoas”.

Os sinais apontam para isso, resta saber se a Frelimo lhe dará essa liberdade, uma questão que “não está totalmente respondida”, assinalou.

Entre os dois centros de poder que se anteveem no país – na presidência e na Frelimo, que continuará a ser liderada por Guebuza -, as indicações mostram que Nyusi “tem vindo a ganhar o seu espaço e apoios, no sentido de demonstrar que não será um refém da nomenclatura central do partido” e de que não haverá um modelo russo, do tipo Putin/Medvedev.

Fora de questão está, segundo o analista, a criação de um governo de gestão, exigido pela Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição, como forma de ultrapassar uma alegada fraude nas últimas eleições, apesar da aparente atitude dialogante do Governo.

“Parece-me que há uma intenção de se atuar de forma dialogante e aberta e não fazer as coisas do tipo os vencedores têm todas as prorrogativas e aos vencidos não resta mais do que esperar pelas próximas eleições, lógica essa que complicou muito o nosso ambiente político nos últimos anos e que teve como consequência as recentes confrontações violentas”, considerou.

Por outro lado, lembrou, a Renamo e o seu líder tiveram bons resultados eleitorais, o que justifica o seu comportamento desde então, e o novo Presidente terá de encontrar forma de lidar com este contexto, agravado pelo aparente bloqueio nas negociações entre as partes para o desarmamento do partido de oposição.

A recente criação do estatuto de líder da oposição, com competências e benefícios atribuídos pelo Estado, deverá ser insuficiente, de acordo com analista, admitindo que possa ser recuperada uma proposta de se atribuir à Renamo os governos das províncias onde ganhou, ou de se incorporar figuras fora da militância da Frelimo no executivo central.

“Isto viria de algum modo ao encontro das expetativas da Renamo”, referiu, bem como a atribuição de algumas chefias militares, como já aconteceu.

O novo governo herda recentes opções relacionadas com a exploração de gás natural, lidas como concessões às multinacionais, mas Fernando Lima não as vê como um “presente envenenado”, considerando que o executivo “foi realista”, num cenário “não muito positivo e carregado por todas as pressões dos preços dos bens energéticos e ameaças de concorrência”.

Em contrapartida, no setor do carvão o Governo não tem mostrado a mesma flexibilidade e, se as cotações do mineral se mantiverem em 2015, “o Governo terá de fazer uma reavaliação, porque mais vale que todas as partes possam beneficiar do que paralisar as operações quando os preços não são convidativos”.

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